Tecnologia: Novo sistema da Embrapa vai facilitar avaliação em lavouras orgânicas
Certificação pode ajudar produtores a ampliar leque de comercialização e ferramenta digital chega para facilitar processos para quem está no campo.
Sempre investindo em pesquisa e tecnologia, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) divulgou um novo sistema digital com foco em facilitar o processo de certificação de alimentos orgânicos. O sistema foi desenvolvido pela Embrapa e conta com versão beta também já testada por produtores rurais.
Segundo a instituição, a ideia é que o agricultor tenha acesso fácil no fornecimento dos dados exigidos para a certificação de produção orgânica, diminuindo assim a burocracia e facilitando os processos.
"A ferramenta também vai proporcionar um ambiente seguro para sistematizar os dados coletados dos usuários e dos ambientes de produção, a fim de promover a certificação participativa e permitir o uso restrito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)", afirma a publicação da Embrapa.
A tecnologia é fruto de uma parceria entre a Embrapa, o Mapa, a Cooperativa Agroflorestal Comuna da Terra - que reúne 80 famílias do assentamento Mário Lago, em Ribeirão Preto (SP) - e a Central de Associações Orgânicos Sul de Minas (OSM), congregação de 15 núcleos regionais, organizados em associações, cooperativas e outros grupos, e que atende 212 agricultores.
Segundo a instituição, foi observada com os produtores certas dificuldades para obtenção da certificação orgânica, sobretudo na hora de preencher toda a documentação exigida. Entre elas, o plano de manejo orgânico que o produtor precisa apresentar na documentação, que precisa ter informação do que será cultivado no ano, além de informar sobre o tipo de solo, recursos hídricos, biodiversidade e todas as práticas agrícolas que serão adotadas.
A Embrapa chegou a conclusão do sistema digital ouvindo os próprios produtores em oficinas promovidas com as organizações parceiras. Foi desenvolvido um protótipo de formulário eletrônico, que foi posto a teste nos últimos encontros, realizados em maio, em Inconfidentes (MG), e em junho, em Ribeirão Preto (SP).
A publicação oficial explica que durante as dinâmicas, os produtores puderam conhecer mais sobre a abordagem User Experience, explorando assim a versão beta da nova tecnologia, avaliando a compreensão textual dos itens do plano de manejo e a funcionalidade da ferramenta na prática.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Territorial, Gisele Vilela, a equipe trabalha agora para aperfeiçoar o formulário eletrônico a partir das ideias e críticas dos produtores. Vamos descrever essas práticas da melhor forma para que eles possam identificá-las. Podem ser descrições explicativas, por meio de hiperlinks, ou até vídeos”, revela Vilela. Outras oficinas estão agendadas para este ano.
Diminuir a burocracia para conseguir a certificação orgânica é um dos focos da Embrapa. Os documentos que precisam ser preenchidos anualmente podem ter o sistema de inserção de informação facilitado por meio da tecnologia, conforme explica a Embrapa.
“Existem até relatos de pessoas que desistem de entrar com a certificação por conta disso. Então, o digital facilita, pois o preenchimento pode ser feito sem a necessidade de digitação de todos os dados e as informações já ficam gravadas no sistema, sendo atualizadas ano a ano, caso necessário”, afirmou Vilela.
Saiba mais sobre o sistema digital criado pela Embrapa após ouvir os produtores
A Embrapa explica que um formulário eletrônico fará parte do sistema que terá incluso outros recursos, tanto com acesso restrito, mas também público. No caso do acesso restrito, estarão os dados agrupados de produção orgânica das empresas parceiras da Embrapa, com informações disponíveis em gráficos e mapas, contendo os indicadores econômicos da produção orgânica dos usuários da ferramenta.
Já para o acesso ao público, será disponibilizada uma relação de produtos de insumos permitidos para o sistema de produção de forma orgânica, além de contar com um banco de dados dos produtos e tecnologias da Embrapa direcionados ao segmento e disponíveis aos produtores.
A Embrapa explica que a tecnologia também disponibilizará aos usuários das organizações parceiras um caderno de campo para registro de suas atividades e uma tabela para planilha de custos, recursos que podem apoiar o agricultor na gestão de sua lavoura.
Pelo acesso ao conjunto de dados dos usuários e de suas unidades de produção, os sistemas participativos de certificação e o Ministério da Agricultura podem ter uma programação da estimativa de safra dessas culturas; uma visão das práticas adotadas; conhecer as dificuldades em determinados aspectos da produção orgânica, e, com isso, poderão prestar alguma assistência naquele ponto.
Saiba mais sobre certificação participativa
O processo de certificação orgânica pode ser coordenado por uma empresa certificadora, ou por Sistemas Participativos de Garantia, entre os quais estão os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânica (Opacs) - que realizam o controle pelos associados de outros produtores ou mesmo pelos consumidores, e as Organizações Sociais de Controle (OCS) - formações de agricultores familiares cadastradas para venda direta e fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura.
Até março de 2022, o Brasil possuía 28 Opacs, 13 certificadoras e 373 OCS no cadastro do Ministério.
Criada em 2013, a Orgânicos Sul de Minas funciona como uma Opac. A forma de certificação de seus produtos é coordenada pelos próprios agricultores, em visitas às lavouras vizinhas.
Como explica Letícia Bustamante, presidente da OSM, o processo de avaliação de conformidade inicia-se a partir da entrega do plano de manejo orgânico pelo agricultor. O documento serve de parâmetro da avaliação da conformidade. No primeiro semestre, os agricultores visitam as propriedades no mesmo núcleo e tecem orientações, o que pode implicar adequações no documento.
No segundo semestre, ocorrem outras visitas, desta vez, dos produtores de núcleos vizinhos, no intuito de concluir a avaliação da conformidade orgânica. Caso as práticas adotadas estejam condizentes com o plano apresentado, a propriedade recebe o selo orgânico.
Na Comuna da Terra, a certificação segue o modelo de OCS, sendo feita pelos consumidores e pelos produtores. A cooperativa foi criada em 2017 por um grupo de produtores que já estavam organizados e comercializando hortaliças desde 2012. Hoje, ela conta com 35 cooperados.
*As informações foram retiradas do site da Embrapa
Certificação e Comercialização
A certificação tem sido uma porta de entrada para comercialização dos produtos de forma geral. Com o consumidor cada vez mais exigente, querendo saber as práticas adotadas na produção agrícola, a certificação acaba funcionando como uma ponte de conexão entre as duas pontas: quem produz e quem compra o produto.
Neste sentido, é observado no mercado uma procura cada vez mais significativa dos produtos orgânicos e de pequenos produtores. A iniciativa tem fomentado a produção desses produtos em várias áreas produtoras do país e a agregação de valor no produto também garante uma rentabilidade financeira maior para o agricultor, que se empenha cada vez mais em entregar mercadorias de qualidade ao mercado, apesar das intempéries e desafios que aparecem de uma safra à outra.
“Harmonia com a fauna e flora local, respeito ao tempo da natureza, manejo do solo, controle de pragas e adubação sem a utilização de compostos químicos sintéticos. De forma resumida, esta é a agricultura orgânica – que, nos últimos anos, tem atraído mais a atenção dos consumidores brasileiros. Segundo o Panorama do Consumo de Orgânicos no Brasil 2021, divulgado pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), o país registrou aumento de 63% no consumo desse tipo de alimento na comparação com 2019, e de 106% em relação a 2017. Os produtores têm respondido rapidamente ao interesse do mercado: de acordo com o Ministério da Agricultura, o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos cresceu 10% entre 2020 e 2021”, afirma uma publicação da Confederação da Agricultura e Pecuária.
Ainda de acordo com a CNA, a produção de hortifruti por 75% do consumo de orgânicos, seguidos de grãos (12%) e cereais (10%). Produtos processados, como açúcar e biscoitos, aparecem com 8% e 6%. Esse padrão vai de encontro à realidade de pequenos produtores e unidades familiares, principalmente os localizados próximo a centros de consumo.
Certificação é obrigatória
A Embrapa relembra que os produtos orgânicos disponíveis em lojas especializadas e também em mercados precisam apresentar o selo SisOrg do Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica, órgão administrado pelo Ministério da Agricultura. “A certificação é uma ferramenta boa para produtores e consumidores, e buscá-la é uma das primeiras orientações dadas aos produtores. No Estado de São Paulo, existem diversas entidades e procedimentos de certificação de produção orgânica”, complementa a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA).
A publicação destaca ainda que os núcleos da OSM cultivam hortaliças, café e frutas para consumo próprio e para venda em cestas para encomendas e feiras. A comercialização também inclui alimentos processados, como café torrado e moído, geleias e doces, com alguns desses produtos chegando até a capital paulista, onde há várias centrais de distribuição para o estado.
A venda dos alimentos cultivados pelos cooperados da Comuna da Terra ocorre por meio da encomenda de cestas, com entregas semanais. Alguns produtos de parceiros também são colocados à disposição do consumidor, como arroz, feijão e mel.