Tendência é de preços elevados para os fertilizantes com demanda global aquecida e escassez de matéria-prima
Perspectivas exclusivas foram feitas pelo analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza, em entrevista ao Notícias Agrícolas; atenções também para safra 2022/23
A crise dos insumos, que abrange defensivos, fertilizantes e máquinas e equipamentos, tem chamado a atenção dos produtores rurais de todo o país durante este ano. Os impactos são sentidos na safra atual, mas também há atenções voltadas para o ciclo 2022/23. Para o analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza, em entrevista ao Notícias Agrícolas, esse mercado demonstra tendência de preços elevados com uma demanda global aquecida e escassez de matéria-prima.
Nem mesmo a garantia de abastecimento de fertilizantes pela Rússia ao Brasil, informada pelo Ministério da Agricultura neste final de ano, aponta que os preços dos fertilizantes irão baixar aos produtores rurais do Brasil.
“Temos a garantia do fornecimento, mas não temos a garantia do preço. A Rússia está garantindo que ela vai entregar, e se olharmos de uma análise mais apurada esse sinal da Rússia pode, quem sabe, barrar uma alta um pouco mais forte. Teremos oferta maior de matéria-prima e esse ímpeto mais forte de alta pode ser um pouco mais fraco, mas não existe nenhuma sinalização de queda para o preço”, explica Souza. Além disso, o Brasil recebe produtos de outros países.
As empresas de fertilizantes, inclusive, reajustaram suas tabelas para os fosfatados, refletindo uma demanda brasileira ainda forte, fomentando novos negócios, inclusive para 2023. O movimento precifica possíveis riscos de desabastecimento, além de um consumo também forte e crescente. Exemplo disso, é o cloreto de potássio. Mesmo não estando na lista de restrições russas, o produto segue subindo agressivamente.
Os problemas que vêm sendo registrados na Bielorrússia, terceiro maior fornecedor de KCl para o Brasil, continuam mantendo o mercado com preços ainda muito elevados. No caso da Ureia, na China, por outro lado, os preços têm recuado de forma expressiva neste final de ano, refletindo as medidas restritivas observadas no país.
"Os preços da ureia na China, do dia 12 de outubro até agora, caíram 30%. Ou seja, as medidas protecionistas de restringir as exportações estão surtindo efeito", afirma o analista.
Além destas medidas que ocorreram recentemente em cidades chinesas, a baixa nos preços do carvão, bem como dos fretes marítimos, são também sinais importantes sobre a trajetória que os fertilizantes podem fazer nos próximos meses. "Se o carvão e os fretes estivessem subindo na China seria ainda mais catastrófico", pontua Souza.
Safra 2022/23
Na visão do analista, o curso dos preços dos fertilizantes no próximo ano e durante a safra 2022/23 estará bastante atrelado às decisões que os produtores do hemisfério Norte tomarão, em especial os dos Estados Unidos.
"Se tivermos uma queda da demanda nos Estados Unidos, ela será importante e um ponto positivo para vermos uma queda nos preços lá em 2022. O termômetro, sem dúvida, da demanda ficará nos EUA. Então, se eles diminuírem seus volumes ou migrarem a área para a soja em detrimento do milho, poderemos ver um reflexo disso para os preços no segundo trimestre ou até o segundo semestre do ano que vem", explica Souza.
No curto prazo, porém, esse deve ser um movimento difícil de ser visto, já que até mesmo os produtores brasileiros já têm comprado para a próxima temporada, temerosos com a possibilidade de uma falta de oferta ou de preços ainda mais altos. E tudo isso se dá mesmo diante de relações de troca bem acima das margens históricas.