Trigo no Brasil: Estoques apertados e demanda aquecida sustentam preços no mercado interno
Mesmo com semana de queda generalizada para as commodities, analista de mercado vê boas oportunidades para os produtores brasileiros do cereal.
De acordo com entrevista concedida pelo consultor em gerenciamento de riscos da StoneX, Jonathan Pinheiro, ao site Notícias Agrícolas, há uma grande demanda pelo trigo brasileiro no mercado interno, com a safra prestes a entrar, e, inclusive, perspectivas futuras de que os estados do Rio Grande do Sul e do Paraná passem a exportar o cereal.
“Aqui no Brasil a gente enxerga uma grande demanda pelo trigo de safra nova, porque aqui, assim como no mercado internacional, nós também estamos com estoques apertados. Há uma demanda forte das indústrias do Rio Grande do Sul pelo trigo paranaense que entra um pouco antes, agora a partir de setembro. Também há demanda por parte das indústrias paulistas buscando esse trigo paranaense”, disse.
Sendo assim, na análise de Pinheiro, deve haver esse movimento de crescimento do trigo no ingresso de safra e novamente o cenário pode voltar a ser de aperto nos estoques no período de entressafra entre essa e a próxima, com disponibilidade apertada no Brasil.
“Há um avanço da demanda, inclusive pela preocupação com a liberação do trigo da Argentina. De maneira geral, há uma preocupação do lado comprador buscando e se antecipando neste cenário, aproveitando os preços mais baratos”, explicou.
De maneira geral, o analista se considera otimista em relação à safra de trigo no Brasil, com a Stonex trabalhando com números até um pouco acima da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que neste último relatório apontou pouco mais de 9 milhões de toneladas de produção, e consultoria estima cerca de 9,2 milhões de toneladas.
“A gente vê uma recuperação significativa dos atrasos que tivemos pontualmente na semeadura no Paraná, no Rio Grande do Sul as chuvas afetaram mais o plantio, mas de maneira geral, estamos otimistas com a safra brasileira”, pontuou.
Para o lado do produtor, na comercialização, conforme o especialista, também há otimismo, já que os preços não tendem a recuar tanto. “A gente vê hoje uma desvalorização cambial que favorece as paridades de importação, sustentação de preços mais altos no Brasil e também, justamente pela questão cambial, o Brasil pode se tornar mais atrativo para voltar a exportar, que é algo que segue sendo cogitado, não só pelo Rio Grande do Sul para a próxima temporada sendo exportador, mas também o Paraná buscando a possibilidade de trabalhar com exportações”.
Sobre as exportações brasileiras de trigo, Pinheiro informa que a consultoria trabalha com um número um pouco menor, até por questões logísticas, já que não deve haver quebra na soja, o que aconteceu na última temporada e favoreceu o trigo. Ele acredita em uma exportação de trigo brasileiro entre 2,5 a 2,8 milhões de toneladas contra as 3 ou 3,1 milhões de toneladas da temporada 2021/22.
“O nosso cenário de oferta aqui no Brasil tem sustentado um preço mais alto e firme para o trigo. O mercado spot em reais no Brasil tem ficado firme, com oferta apertada. Tanto o Rio Grande do Sul e Paraná trabalhando spot com poucos negócios rodando pela menor oferta. Enxergamos um cenário de produtores mais retraídos esperando um possível aumento de preços”, acrescentou.
Entre fatores a serem levados em consideração: o especialista destaca que há uma procura muito grande para esse trigo na entrada de safra, existe um aperto na oferta e também o fator Argentina, com preocupações climáticas que devem se desenrolar ao longo da safra deles que entra a partir de dezembro e um saldo exportável na Argentina inferior a 2 milhões de toneladas até novembro.
No caso da safra Argentina, segundo informações divulgadas pela agência Reuters de notícias, segundo o informe da Bolsa de Rosário (BCR), a safra de trigo no país deve ser de 17,7 milhões de toneladas na temporada 2022/23. Isso representa recuo em comparação à última estimativa da BCR de 18,5 milhões de toneladas.
Conforme apontou a Reuters, esta diminuição reflete uma redução nas áreas de plantio devido à seca. A estiagem atinge as áreas agricultáveis do país desde maio, quando iniciou o plantio do trigo. A estimativa é de que a área de plantio com o cereal tenha passado de 6,2 milhões de hectares previstos em junho para 5,9 milhões de hectares.
A agência internacional de notícias reporta ainda que este relatório da BCR traz pela quarta vez uma perspectiva de recuo no tamanho das áreas plantadas com trigo na Argentina desde que a safra teve início no país, em maio. Quando do começo da safra, a projeção da Bolsa de Rosário era de 6,6 milhões de hectares de área plantada, que agora passou a ser de 6,2 milhões de hectares.
Trigo recém plantado em São Borja/RS escapou de danos após intensa chuva de granizo
A região de Nhu-porã, que fica dentro do município de São Borja, no Rio Grande do Sul, registrou uma intensa chuva de granizo nos últimos dias, uma situação que foi bem localizada, mas que pode trazer prejuízos para as lavouras.
Segundo o engenheiro agrônomo do Sindicato Rural de São Borja/RS, Albano Antônio Strieder, apesar de muito intenso, o evento de granizo foi bem localizado em uma região dentro do município e ainda não há impactos registrados nas lavouras.
“A princípio, estragos em lavouras ainda não foram relatados, até porque o trigo ainda está pequeno e recém foi plantado em algumas áreas. No entanto, ainda não sabemos a dimensão desse evento, mesmo que seja em uma área pequena”, explica Strieder.
Chuva impede plantio do trigo em Dom Pedrito/RS e muitos produtores vão desistir de semear
Desde o dia 15 de junho, a região de Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul, registra chuvas praticamente diárias, o que impede os produtores locais de plantarem a safra de trigo neste inverno de 2022.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Dom Pedrito/RS, José Roberto Weber, ouvido pela reportagem do site Notícias Agrícolas, a expectativa era semear 10 mil hectares com o cereal neste ano de retomada da cultura na região, mas diante da proximidade do encerramento da janela ideal de cultivo, em 15 de julho, muitos produtores devem desistir do plantio.
“Tem muita gente pensando em desistir porque não quer plantar fora da janela, especialmente em um ano com custo de produção atingindo níveis altíssimos que podem comprometer uma rentabilidade da produção. Vamos ter que tentar redirecionar esses insumos para outras culturas ou trocar produtos com as empresas vendedoras”, explica Weber.
Agora, os produtores da região vão ter que aguardar a próxima safra de verão para recuperar as suas contas, já que na temporada 2021/22 houve perda de 50% na colheita da soja e queda entre 10% e 15% para o arroz, com prejuízos também para as pastagens e rebanhos bovinos.
Produtor de trigo no Paraná vai ter que colher mais em 2022 para ter a mesma renda do que em 2021
O plantio da safra de trigo 2022 já está praticamente encerrado no estado do Paraná com a confirmação de redução de 5% na semeadura para uma área total de 1,17 milhão de hectares. Até aqui, as condições climáticas são positivas e as lavouras se desenvolvem bem.
Segundo o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Hugo Godinho, ouvido pela reportagem do site Notícias Agrícolas, as condições até aqui foram melhores do que as do ano passado, o que projeta um aumento da produção estadual das 3,2 milhões de toneladas de 2021 para 3,9 milhões nesta temporada.
Outro ponto positivo observado é o aumento da cotação do trigo no mercado paranaense, que hoje está ao redor de R$ 110,00 a saca, um patamar 30% superior ao do mesmo período da safra passada.
Porém, o produtor paranaense vai precisar colher mais para ter a mesma rentabilidade do que em 2021. Godinho explica que os custos de produção subiram ainda mais do que os preços de venda do cereal e o mesmo nível de produtividade de 2021 em 2022 irá resultar em menos rentabilidade.
Trigo: Valor externo volta a subir; produção nacional deve ser recorde, aponta Cepea
Os valores externos do trigo avançaram entre os dias 4 a 8 de julho, influenciados pela piora das condições das lavouras argentinas, por preocupações relacionadas à oferta mundial e por correções das quedas expressivas em semanas anteriores. Já no Brasil, as cotações apresentaram leves variações na semana passada nas regiões levantadas pelo Cepea.
Em algumas praças, os valores foram pressionados pela desvalorização do dólar frente ao Real. No campo, a Conab reajustou positivamente as estimativas de área e de produtividade e, consequentemente, da produção da temporada deste ano do Brasil (safra 2022/23, que deve ser iniciada oficialmente em agosto/22). A colheita está prevista para atingir recorde de 9,03 milhões de toneladas, alta de 17,6% em comparação à temporada anterior (2021/22).
A produtividade deve crescer 10,3% frente a 2021/22, indo para 3,092 toneladas/hectare. A área com o cereal deve aumentar 6,6%, somando 2,92 milhões de hectares.