Embrapa aponta potencial do Brasil em ser protagonista no cultivo de trigo com demanda aquecida pelo cereal

Produção brasileira avançou rapidamente nos últimos anos com base em pesquisa e tecnologia de ponta.

 

Por Notícias Agrícolas


O Fórum Nacional do Trigo e a 15ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale vão contar com o seguinte debate: Qual o futuro do trigo do Brasil? Segundo publicação oficial na página da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a escassez global de alimentos pode colocar o Brasil como potencial produtor para ajudar no aumento dademanda, considerando ainda fatores importantes como tecnologia e sustentabilidade ambiental.

Brasil ainda não tem autossuficiência na produção, mas avanço no cultivo pode mudar cenário em pouco tempo, analisa Embrapa - Foto: CNA

 

Segundo as informações oficiais, a programação do Fórum Nacional do Trigo em 2022 estará voltada para a expansão do cultivo de cereais de inverno no Brasil, oportunizando debates sobre os temas de maior relevância para as culturas de trigo e triticale, com envolvimento de atores que representam desde o “dentro da porteira” até o “consumidor final”.

 

Voltando mais na história, a publicação da Embrapa relembra que lá na década de 1970 a produtividade do trigo no Brasil ficava em 600 quilos por hectare. Mas a partir de 1974, com o nascimento da Embrapa, os trabalhos ganharam um novo destaque com foco em melhoramento do cereal, e de forma muito rápida outras empresas de pesquisas também passaram a atuar no mercado. 

 

"Os resultados estão nas lavouras brasileiras: hoje a média de produtividade ultrapassa 3000 kg/ha, ou seja, o rendimento do trigo cresceu cinco vezes na mesma área. Desde 2021, o Brasil ocupa a posição de recordista mundial em produtividade/dia com 80,9 kg/ha/dia", afirma a Embrapa. 

 

Para Júlio Albrecht, pesquisador da Embrapa Cerrados, a evolução na produção de trigo aconteceu justamente devido ao avanço nas pesquisas, trazendo resultados efetivos no desenvolvimento de cultivares com "ampla adaptação, estabilidade no rendimento de grãos e resistência a doenças". Segundo ele, a média de produtividade nos dias atuais poderia ser ainda maior, mas a preocupação no momento é com a sustentabilidade ambiental e econômica. 

 

“A pesquisa trabalha agora em busca da máxima eficiência nas lavouras, produzindo alimentos de forma mais rápida e barata. Desenvolvemos cultivares de trigo com ciclo cada vez mais precoce, isto é, o período entre a semeadura e a colheita fica mais curto. A genética também busca maior tolerância a pragas e doenças, que impactam o menor uso de defensivos, e a stresses ambientais, como déficit hídrico e excesso de chuva. Cultivares com maior teor de vitaminas ou maior eficiência no uso de fertilizantes também são alvo da pesquisa. Toda essa tecnologia embutida nas cultivares de trigo têm resultado em melhor retorno financeiro ao produtor e maior oferta de alimentos ao consumidor”, diz ele.

 

Já o chefe-geral da Embrapa Trigo relembra que a produção de trigo em território nacional avançou 80% entre os anos de 2017 e 2021, enquanto a área de produção cresceu apenas 43%. “Isto mostra a eficiência da agricultura brasileira que consegue produzir cada vez melhor sem precisar abrir novas áreas”, destaca Lemainski. Ele lembra, ainda, a evolução da qualidade do trigo brasileiro: “Produzimos trigos indicados para diversos usos, tanto para a alimentação humana, quanto para a alimentação animal. Com as cultivares que estão no mercado, conseguimos atender  a indústria de pães, massas e biscoitos; a indústria de carnes, leite e ovos; a indústria de biocombustíveis; e o mercado internacional. Isso mostra que nosso trigo tem qualidade, reconhecida dentro e fora do País”.

 

Já quando o assunto é mercado externo, antes vale lembrar que o Brasil atualmente é o 8º maior importador de trigo. Os dados da Embrapa mostram que no ano passado, foram importadas 6,7 milhões de toneladas do produto. O consumo no mercado interno chega a 12,7 milhões de toneladas e com tendência de chegar a 14 milhões de toneladas nos próximos anos. 

 

Para 2022, o mercado trabalha com a estimativa de a produção chegar em 8 milhões de toneladas de trigo, o equivalente a 62% da necessidade da demanda nacional. "Por questões de logística e mercado, o Rio Grande do Sul exportou nesse último ano, 2,6 milhões de toneladas para 14 países. Somente nos primeiros quatro meses de 2022 (jan a abr), foram exportados 2,17 milhões toneladas", explica a entidade. 

 

A Embrapa destaca ainda que, apesar de atualmente o Brasil não garantir a autossuficiência, a produção do trigo no país segue avançando rapidamente. "Em 2020, a produção chegou a 6,2 milhões de toneladas. Em 2021, atingiu 7,6 milhões de toneladas. A previsão para 2022 é de 8,1 milhões de toneladas. Em dez anos, caso a produção de trigo cresça 10% ao ano, passaríamos de 8 milhões de toneladas em 2022 para 20 milhões de toneladas em 2031, colocando o Brasil como potencial grande exportador do cereal no mercado internacional", encerra. 

 

Plantio das culturas de inverno no Brasil

Segundo o último relatório da Emater/RS, divulgado em meados de junho, as chuvas das últimas semanas com volumes significativos provocaram processos erosivos significativos em solos de lavouras de soja recentemente colhidas, em função da baixa quantidade de palha deixada pela colheita. 

 

Para a safra de inverno, o levantamento mantém a estimativa de cultivo na safra 2022 do Rio Grande do Sul em 1.413.763 hectares, com produtividade estimada em 2.822 quilos por hectare. Segundo o reporte, o período de tempo seco e elevada radiação, até o dia 16 de junho permitiu o avanço da semeadura. Estima-se que a operação foi realizada em 57% dos cultivos, com as atividades estendendo-se no período noturno para recuperar, em parte, o atraso e antes das chuvas previstas.

 

Veja as estimativas apontadas pela Emater/RS para as culturas de inverno: 

Canola - A estimativa de cultivo de canola no estado do Rio Grande do Sul para a safra 2022 é de 48.457 hectares. A produtividade estimada é de 1.885 kg/ha. A cultura está em fase final de implantação.

 

Aveia branca grãos - A estimativa de cultivo de aveia branca no estado para a safra 2022 é de 392.507 hectares. A produtividade estimada é de 2.217 kg/ha. A cultura está em implantação.

 

Cevada - A estimativa de cultivo de cevada no Rio Grande do Sul para a safra 2022 é de 36.727 ha. A produtividade estimada é de 2.958 kg/ha.

 

Pastagens

As forrageiras anuais de inverno seguem com crescimento um pouco abaixo do esperado devido ao período de baixa luminosidade e de chuvas frequentes. Porém, a qualidade de forragem produzida é boa. O solo ainda apresenta umidade elevada, o que resulta no elevado arranquio de plantas e amassamento pelo pisoteio dos animais nas áreas em pastoreio, retardando a retomada do crescimento e nova utilização para os animais. Contudo, a boa umidade do solo é benéfica, pois ajuda em melhor aproveitamento dos fertilizantes nitrogenados que estão sendo distribuídos em cobertura nas pastagens.

 

O campo nativo e as pastagens perenes de tifton 85, jiggs e aruana estão com o desenvolvimento vegetativo paralisado em função de frio e de geadas, entrando em dormência e não fornecendo mais forragem.

 

Safra de verão

Já com relação às culturas de verão, o reporte destacou que no caso da soja, a produtividade estimada no estado permanece entre 1.400 e 1.500 kg/ha. “Ainda quanto aos resultados da safra recém-colhida, há litígios em vários municípios, com produtores encaminhando recursos contra seguradoras em função da divergência entre a produtividade obtida e a indicada nos relatórios de perícia, está baseada em amostragem das lavouras afetadas pela estiagem”, afirma a entidade. 

 

Com relação à colheita de milho, o avanço na colheita foi tímido, apesar do tempo mais seco entre os dias 13 e 16 de junho, alcançando 99% da área de cultivo. Segundo o relatório, no período foram colhidas as lavouras de melhor potencial produtivo. 

 

"Permanecem pequenas lavouras destinadas ao autoconsumo, colhidas de forma escalonada em processo manual, conforme a necessidade dos produtores, pois estes não possuem estrutura adequada para armazenar os grãos", complementa. 

 

Feijão 2ª safra: Segundo o levantamento, houve um avanço expressivo da colheita durante o período. Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Ijuí, a colheita alcançou 93% da área cultivada. 

 

“No entanto, os grãos colhidos apresentaram elevada umidade, entre 20% e 22%, e com qualidade prejudicada pelo excesso de chuvas ocorridas no estágio de maturação. No produto obtido no período, há presença de grãos ardidos, mofados, germinados e enegrecidos, depreciando a qualidade e prejudicando a classificação comercial para a venda. A produtividade das lavouras não foi afetada, sendo estimada em 1.400 kg/ha”, afirma. 

 

O relatório da última semana divulgado oficialmente pela Emater/RS, finaliza dizendo que na regional de Soledade, o predomínio de tempo firme propiciou a finalização da colheita do feijão segunda safra. No entanto, as últimas lavouras colhidas também foram danificadas pelo excesso de chuva, com diminuição na qualidade dos grãos.