Reflexo do clima, produção de trigo recua em São Paulo em 2021 e não deve ultrapassar 250 mil toneladas, afirma Sindustrigo

Pela primeira vez nos últimos anos, o Sindicato da Indústria do Trigo (Sindustrigo) avalia que os números de produção devem ficar abaixo do previsto pela Conab

Alto de custo de produção é uma preocupação e produtor paulista ainda avalia as condições para semeadura no ano que vem - Foto: Sindustrigo

 

A produção de trigo no estado de São Paulo deve ficar em torno de 250 mil toneladas em 2021. O número, de acordo com o Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo (Sindustrigo), fica muito abaixo do esperado anteriormente pelo setor. Os dados foram divulgados no último decêndio de novembro pela entidade. O trigo é mais uma das culturas impactadas pelas condições climáticas adversas dos últimos dois anos no Centro-Sul do Brasil. 

 

Pela primeira vez nos últimos anos, o sindicato afirmou que os números devem ficar abaixo do que o previsto pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em comunicado oficial, assinado por Victor Oliveira, presidente da Câmara Setorial de Trigo de São Paulo, afirmou que há alguns anos a apuração da Câmara mostra que a safra de São Paulo é maior do que a indicada pela Conab, mas que em 2021 o cenário deve ser o oposto com reflexo do clima.

O porta-voz afirma ainda que a produtividade no estado foi muito impactada pelo clima. Destaca-se no período a seca prolongada, uma estiagem muito longa após o plantio, entre abril e maio, além de uma geada severa, no final de julho, que também atingiu uma fase importante do desenvolvimento do grão. Na reta final, o clima desafiou mais uma vez o produtor que teve que enfrentar chuvas no período de colheita. 

A safra, apesar da menor escala, já foi quase toda liquidada, de acordo com o presidente. A expectativa do Sindustrigo é que já no começo de 2022 boa parte do volume de trigo produzido em São Paulo já esteja comercializado. "O que reforça a qualidade do cereal produzido aqui e o potencial de consumo do setor moageiro paulista, que é o principal destino da produção dos campos de São Paulo", afirma em nota oficial. 

O sindicato ressaltou ainda as mudanças na oferta do cereal no país diante dos números menores de produção do estado paulista. A informação recebeu destaque na apresentação do trader de trigo e milho da Sodrugestvo, Douglas Araújo. Apesar da menor produção, segundo o especialista, a demanda continua bastante aquecida nos moinhos de São Paulo. 

“Os números deste ano mostram que (São Paulo) voltou ao topo do rankings dos estados mais importadores de trigo do Brasil, superando o Ceará, neste ano de 2021. A menor safra do trigo paulista e a menor competitividade do trigo nacional no estado são fatores que podem explicar essa mudança”, acrescenta. 

No tocante ao mercado mundial, a queda da produção também foi observada por importantes exportadores do cereal, como Canadá e Rússia. Segundo a publicação, os dois países produtores apresentaram perdas neste ano. Já em relação ao país vizinho, Argentina, o trader comentou que o país é mundialmente competitivo no quesito de preços e também na qualidade oferecida ao mercado. 

O cenário para os preços do trigo é de alta no longo prazo, resposta à essa produção mais baixa nos principais países exportadores,  o que também contribuiu para que os estoques globais ficassem com níveis mais baixos. O consumo mundial do cereal é outro fundamento firme e de alta para o mercado. "O aumento da demanda por alimentos no mundo e a redução nos números da safra mundial do trigo geram aumento nos preços dos alimentos, como estamos assistindo atualmente", acrescenta. 

Para o produtor, apesar da valorização na comercialização, o salto no custo de produção chama atenção do setor e o momento é marcado pelo produtor fazendo contas e avaliando as condições para o ano que vem.  Com o avanço do dólar ante ao real aliado ao caos logístico, a puxada no custo de insumos foi bastante elevada em 2021, e de acordo com o Sindustrigo, essa condição pode afetar de alguma forma a produção de São Paulo também no ano que vem, já que os produtores ainda estão fazendo análises de custo e reavaliando a rentabilidade do cultivo no estado.