Seminário reúne representantes da soja e debate principais desafios da produção
Sustentabilidade e novo padrão de classificação para a oleaginosa ganharam destaque em encontro que reuniu representantes de todos os elos da cadeia produtiva
A produção agrícola do Brasil é puxada pela soja e os desafios no setor foram debatidos por lideranças, pesquisadores, produtores e representantes da indústria no início deste mês no seminário "Desafios da Liderança no Mercado Mundial da Soja", que aconteceu na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na cidade de Londrina, no Paraná.
Representando o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), Hugo Caruso, destacou que o objetivo do encontro foi reunir todos os elos do setor e propor parâmetros que atendam as expectativas de produtores, compradores, exportadores de soja e processadores na Portaria 532, já que a proposta apresentada em um outro seminário realizado em setembro não foi aceita.
“Como, nas discussões anteriores, não houve consenso entre os representantes da cadeia, estamos apresentando uma nova proposta conciliatória. Queremos mediar essa discussão, mas quem tem que decidir o que é melhor para a cadeia produtiva é o próprio setor”, disse Caruso se referindo ao debate sobre a revisão do padrão oficial de classificação da soja.
Para Marcelo Álvares de Oliveira, da Embrapa Soja, o seminário trouxe a oportunidade de levantar a discussão de temas importantes, com foco em antecipar soluções para manter o Brasil na liderança. Estamos debatendo diferentes aspectos da competitividade da cadeia da soja sob o ponto de vista técnico e de qualidade da leguminosa”, ressaltou ele em publicação na página oficial da Embrapa.
Também ganhou destaque a pauta da biotecnologia na produção brasileira e mundial de soja, além da importância da manutenção dos elevados teores de proteína na oleaginosa e os biocombustíveis obtidos a partir de óleos vegetais, como por exemplo, o biodiesel.
Marcos Amorim, presidente do Comitê de Contratos Externos da Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais (Anec), ressalta que a realização do seminário é fruto de uma rede de parcerias que entende que o desenvolvimento do agronegócio brasileiro foi sempre pautado na adoção de tecnologias. “Tanto a indústria que processa o grão, quanto quem exporta, entende que a busca pela melhoria da qualidade da soja brasileira deve ser uma constante e que precisamos investir em tecnologia para reduzir os desafios e ampliar as oportunidades”, ressalta.
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) também participou do evento, representada por André Nassar, que destacou que entre os desafios para a cadeia produtiva estão também os assuntos relacionados à sustentabilidade. Ele destacou ainda que os compradores internacionais, que são liderados pela Europa, querem saber mais da origem do produto que estão comprando, acrescentando que diante das exigências, a partir de agora, o setor também precisa focar na rastreabilidade.
Outro desafio apontado são as questões referentes à logística, especialmente com relação aos grãos que são exportados pelos portos do Pará. “Transportar soja pela BR 163, pelas limitações que existem, é um desafio enorme e entendo que a logística nesta região precisa ser mais eficiente”, destaca. Além disso, Nassar aponta ser necessário recuperar os patamares propostos na mistura do biodiesel no diesel. “Hoje a mistura é de 10% de biodiesel, mas deveríamos estar em 14%, o que causou prejuízos ao setor”, ressalta.
Ainda falando em sustentabilidade, a Agenda ESG também ganhou na abertura do evento. Neste sentindo, Dulce Benke, diretora de finanças sustentáveis, da empresa de consultoria Proactiva, apresentou as pautas relevantes para a cadeia produtiva da soja da agenda Environmental, Social and Governance (ESG) sigla que corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização.
“A adoção de práticas ESG entrou nas agendas corporativas por determinação do setor financeiro e de demandas de diferentes mercados. A soja brasileira faz parte de uma cadeia global e precisa estar atenta às regulamentações referentes às boas práticas ambientais, de direitos humanos e de governança para atender às demandas de diferentes mercados e dos possíveis financiadores e investidores que se querem alcançar nessa cadeia”, defendeu a especialista durante o evento realizado em Londrina (PR).
Promovido pela Embrapa Soja, o seminário teve o apoio da ABIOVE (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, ACEBRA (Associação das Empresas Cerealistas do Brasil), ANEC (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), ASCB (Associação das Supervisoras e Controladoras do Brasil), OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) e Sindirações (Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal).
Classificação da soja
A revisão do padrão oficial de classificação da soja teve destaque importante no seminário. Durante o evento, o Mapa recebeu diferentes posições conciliatórias da proposta apresentada, porém, outras ficaram pendentes.
“Como precisamos de mais avaliações, vamos reunir todas as informações que recebemos durante o evento e decidir se vamos promover mais uma proposta conciliatória ou se vamos estabelecer um plano de ação para resolver as questões das posições conciliatórias. Em duas semanas teremos uma resposta sobre a conclusão desse processo”, explica Glauco Bertoldo, diretor do Departamento de Inspeção de Plantas (Dipov), do Mapa.
Segundo informações da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), atualmente o padrão oficial de classificação da soja é regulamentado pela Instrução Normativa Mapa nº 11/2007, mas um novo texto publicado em fevereiro (Portaria nº 532/2022) passou por consulta pública para atualizar a norma.
Em agosto deste ano, a CNA informou que a China – principal comprador da soja brasileira –, estava revisando o padrão de classificação, comunicando à Organização Mundial de Comércio (OMC). Na época, destacou que o Brasil já exportou mais de 60 milhões de toneladas de soja em 2022 e, deste total, 66% tiveram como destino o mercado chinês.
Karina Fontes Coelho Leandro, coordenadora de Regulamentação da Qualidade Vegetal, relembrou a atuação e as contribuições da CNA para a aprovação do novo Regulamento Técnico do Café Torrado, uma norma democraticamente construída e consensualmente aprovada pelo setor. “Contamos com o apoio da CNA também na discussão do padrão oficial de classificação da soja para que a norma atenda de forma ampla a cadeia”.
Sobre a soja brasileira
O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de soja. Segundo estimativas da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), a atual safra deve superar a marca de 127 milhões de toneladas produzidas e registrar um recorde histórico no processamento do grão, de 49 milhões de toneladas. Chama atenção também a receita projetada com exportações de todo complexo (soja em grão, óleo e farelo) para 2022, que deve ser de aproximadamente US$ 58 bilhões.
A publicação da Embrapa destacou ainda as previsões que indicam que a safra de 2023 será ainda maior. Dados recentes divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apontam para uma produção recorde de mais de 150 milhões de toneladas. Com a evolução do setor produtivo e das grandes perspectivas que se apresentam, surgem também complexos desafios.
O plantio da soja continua avançando pelo Brasil e de acordo com dados da AgRural, na última quinta-feira (10), a semeadura da safra 2022/23 estava 69%. Na semana anterior, o índice era de 57% e no mesmo período do ano passado, era de 78%.
De acordo com a consultoria, as condições de tempo firme na última semana ajudou no avanço dos trabalhos no campo na região Sul - áreas que antes estavam sentindo o excesso de umidade, e que contava com atraso no plantio e desenvolvimento das plantas.
Já na região Centro-Oeste e em Minas Gerais, o destaque fica para a falta de chuva e as altas temperaturas da semana passada, que dificultaram a reta final dos trabalhos e germinação das últimas áreas semeadas. Os produtores seguem aguardando pelas chuvas apontadas nos modelos meteorológicos.
A consultoria também trouxe atualização nos dados da safra de milho verão, que chegou a 70% da área estimada no Centro-Sul do Brasil, contra 63% registrada na semana anterior e 85% no mesmo período em 2021. De acordo com o relatório, o ritmo mais lento acontece principalmente devido à irregularidade das chuvas em Goiás e no Sudeste.
No Sul, onde a semeadura está virtualmente concluída, as temperaturas mais altas chegaram em boa hora, favorecendo o desenvolvimento das lavouras depois da lentidão imposta pelo tempo úmido e frio de outubro.