Argentina ganha competitividade nas vendas de soja para China com câmbio diferenciado
Analistas de mercado ouvidos pela agência internacional de notícias Reuters pontuam que o efeito para o mercado da oleaginosa brasileira ainda deve ser limitado
A Bolsa de Comércio de Rosário, na Argentina, informou que já foram comercializadas cerca de 3,1 milhões de toneladas de soja em três dias de vigência do 'dólar soja' no país, conforme dados apurados pela reportagem do site Notícias Agrícolas.
O volume responde por 56,36% do previsto pelos exportadores e contabiliza negócios novos e já iniciados em dias anteriores, mas com preços ainda a serem fixados. Vale lembrar que os argentinos são grandes players no mercado da soja, se configurando como líderes na exportação de óleo e farelo de soja no mundo, e terceiro lugar no fornecimento global de soja em grão, sendo que o Brasil lidera esta área. A medida foi anunciada nesta semana pelo ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, e deve valer até o dia 30 de setembro.
A intenção é que os sojicultores argentinos, que estavam incertos de comercializar o produto devido às condições econômicas, sejam incentivados a vender mais volumes de seus estoques. A taxa de câmbio especial é de 200 pesos por dólar, segundo a nota oficial publicada no site do governo da Argentina no último dia 4 de setembro.
O novo programa que começou a valer no início desta semana gerou uma receita que chega a US$ 1,075 milhão. Assim, neste ritmo, a meta de US$ 5 milhões do governo argentino poderia ser cumprida na análise de profissionais locais.
De acordo com notícia publicada pela agência internacional de notícias Reuters, a ação do governo argentino, ainda que tenha sido implementada há pouco tempo, já diminuiu a competitividade da soja do Brasil e pressionou negativamente os prêmios para exportação. Entretanto, analistas de mercado ouvidos pelo veículo pontuam que este cenário não deve ser duradouro, uma vez que a medida deve expirar em 30 de setembro.
Carlos Cogo, sócio-diretor da consultoria Cogo, disse à Reuters que a duração da pressão nos preços em âmbito mundial para a soja também devem impactar o Brasil “talvez somente para o curto e médio prazo, bem antes do final do ano”, se referindo não necessariamente ao tempo de vigência da medida, mas à quantidade de produto disponível no país concorrente, que vem de uma quebra de safra. Esse estoque um pouco mais enxuto pode contribuir para a limitação da pressão dos preços, de acordo com Cogo.
Ainda segundo a Bolsa de Comércio de Rosário, o valor médio da soja da Argentina ficou na casa de 68,840 pesos, 1% menor que na última quarta-feira, 7 de setembro, sentindo mais uma vez a pressão das baixas em Chicago. Na sessão do dia 7, conforme apurado pelo site Notícias Agrícolas, os futuros da oleaginosa cederam mais de 1% na Bolsa de Chicago (CBOT), nos Estados Unidos, em um movimento intenso de realização de lucros.
Segundo cálculos de Gustavo Idígoras, presidente da Câmara da Indústria de Óleos e do Centro de Exportadores de Cereais do país, com o ritmo se mantendo como está, pode fazer com que as vendas da oleaginosa em todo setembro cheguem a 5,5 milhões de toneladas.
China comprando da Argentina
Um dos principais clientes da soja argentina tem sido a China. A nação asiática tem garantido produto mais competitivo e aproveitando as oportunidades de mercado.
"A China está avançando nas compras de soja Argentina, repondo suas reservas. As ofertas da Argentina estão vindo com desconto de 40 centavos em relação à soja americana para outubro e 60 centavos em relação ao Brasil", explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities.
O 'dólar soja' ficará em vigor até 30 de setembro e, até lá, ainda segundo Vanin, a pergunta que o mercado se fará é quanto a Argentina poderia tirar o programa de exportação dos EUA neste mês.
"Alguns falam que poderia retirar até 4 milhões de toneladas, o que pode fazer muita falta lá na frente, uma vez que a soja brasileira já é ofertada com desconto para janeiro em relação ao Golfo CFR (custo e frete) China", complementa o analista. "Parece que as margens ruins na Argentina estão favorecendo a exportação do grão. Em outros momentos, quando as retenciones da soja eram maiores em relação aos derivados, a tendência seria de esmagamento já que hoje está tudo em 33%".
A China ainda precisa vir ao mercado, de acordo com cálculos de Eduardo Vanin, para comprar mais 18 milhões de toneladas de soja até o final de janeiro para estar adequadamente abastecida.
"A Sinograin vendeu de suas reservas de soja pouco mais de 2,5 milhões de toneladas, grão que ela precisa repor em até 90 dias. Traders comentam que a Sino comprou vários barcos nesses dois dias, aproveitando para diversificar e pressionar os prêmios, principalmente nos EUA. Essa soja concorre diretamente com a soja americana ofertada pelo PNW (portos do Pacífico).