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Dia do Trigo: Produtor brasileiro tem motivos para comemorar com safra recorde e bons preços internacionais

Produção deverá ser de mais de 10,5 milhões de toneladas e perspectivas para as cotações internacionais também são bastante animadoras, de acordo com analista


O Dia do Trigo foi comemorado no último dia 10 de novembro. E os produtores brasileiros, em sua maioria, têm motivos para celebrar o sucesso do trabalho de toda uma safra, diante de uma produção recorde no país e de boas projeções ao mercado interno e externo do cereal. 

 

Foi um período agitado para a cultura desde o início deste ano, com os preços muito voláteis no mercado internacional e, consequentemente, no mercado interno, conforme explica o analista da Safras & Mercado, Élcio Bento, ouvido pelo site Notícias Agrícolas. “A formação de preços vem de fora para dentro e possui três pilares: o mercado internacional, o câmbio e a produção doméstica”, explica.

 

Ainda segundo Bento, o Brasil está colhendo uma safra de mais de 10,5 milhões de toneladas, um patamar que há pouco tempo seria inalcançável, e ainda tem espaço para crescer mais ao longo dos próximos anos. Os únicos problemas aconteceram no estado do Paraná que, diante do excesso de chuvas, perdeu qualidade dos grãos com mais da metade da safra abaixo do tipo 1. 

 

 

“Esta supersafra não vem tão tranquila assim, com o Paraná tendo problemas com a chuva, com 45% a 50% com prejuízos na qualidade. O pouco que há de trigo tipo 1, o produtor está retendo, já que está bem demandado. Ainda assim, é uma safra grande no Paraná. Mesmo assim, uma safra perto de 4 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul vem com uma safra estimada entre 5,1 a 5,5 milhões de toneladas”, destaca.

 

Há um consumo local no mercado gaúcho, de acordo com o especialista, de 2 milhões de toneladas, então fica um saldo para vender para fora do estado de 3 milhões de toneladas. “E para onde vai este salto é que vai determinar também questões de preço no nosso mercado, já que parte vai para a exportação; tem saído negócios em torno de R$ 1.700,00 posto sobre rodas no Porto do Rio Grande; e estes negócios são balizadores de preços, já que esta paridade de exportação acaba determinando o preço que será negociado dentro do mercado gaúcho”. 

 

O analista faz a ligação com a quebra de safra no Paraná, com o trigo gaúcho se configurando como uma opção de abastecimento dos moinhos paranaenses, sendo este um outro referencial para formação de preços. Isso porque há um frete alto para o transporte do produto, entre R$ 150,00 a R$ 200,00 a tonelada, dependendo da região produtora, e mais a taxação de 12% de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). 

 

“Então um trigo hoje para ser competitivo no Paraná teria que ser vendido no Rio Grande do Sul em torno de R$ 1.500,00 a R$ 1.550,00. Ainda é um preço baixo, mas é esse preço no Rio Grande do Sul com o avanço da colheita gaúcha é que também vai frear preços lá no Paraná”, afirma Bento.

 

 

Mercado externo

Do lado do mercado internacional, as perspectivas de preços também são positivas. Bento destaca a conjuntura internacional com perdas nas safras de outros países, especialmente a Argentina, e as incertezas geradas pela guerra entre Rússia e Ucrânia, com protagonismo para a dúvida em cima da manutenção do corredor de exportações. Ele discorre sobre os pilares que formam o preço do cereal e o que vem afetando este mercado.

 

“Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia (iniciada em fevereiro deste ano), o mercado apresenta uma volatilidade extrema. São fatores que costumamos dizer que são exógenos aos fundamentos do mercado e têm reflexos sobre estes fundamentos; são exógenos porque não têm relação com a produção e o consumo diretamente”, afirma. 

 

Ele continua, explicando que é algo que traz impactos na oferta, como visto no acordo para a formação de um corredor de exportação para escoamento dos grãos produzidos na Ucrânia saindo pelo Mar Negro. “Em cerca de três dias a Rússia suspendeu sua participação neste corredor e depois retornou, e agora no dia 22 de novembro este acordo se encerra, com possibilidade ou não de prorrogação. E é essa possibilidade de manutenção ou não do acordo que tem deixado o mercado volátil”, disse.

 

Ainda no mercado externo, Bento ressalta a quebra de safra Argentina, que iniciou com uma perspectiva de 21,6 milhões e passou para 13,5 milhões de toneladas em função da estiagem. “A escassez de oferta aqui no Mercosul, que tem a isenção da Tarifa Externa Comum (TEC), também contribui para a volatilidade do mercado”.

 

Bento pontua também a volatilidade cambial, com o dólar iniciando o ano valendo R$ 5,60, em certo ponto chegando a R$ 4,60. Agora no pós-eleições, o especialista nota um arrefecimento, mas com chances de recuperar. “Tudo isso vem contribuindo com a volatilidade do mercado”.

 

Negociações

Sobre a dúvida do produtor que está finalizando a colheita e já tem parte do trigo em mãos, se é indicado ir para o mercado ou segurar o produto, Bento ressalta que a decisão é difícil. Para ele, a questão cambial é um ponto chave, já que o mercado internacional do trigo não sinaliza para queda. “Inclusive há um cenário altista para esta temporada, devido ao encolhimento da safra global como um todo, e, especialmente, da Argentina”. 

 

O câmbio se configura como um driver de mercado que merece mais atenção, já que se movimentou muito ao longo de 2022 e deve continuar respondendo aos próximos anúncios políticos, como a formação da nova equipe econômica do país. “É uma variável difícil de se prever”, acrescentou. 

 

Para Bento, olhando para a safra gaúcha do tamanho que deve ser concluída, ela não deve passar sem ser sentida em termos de pressão sobre as cotações, mas o que alivia é a referência de preços internacionais. Por exemplo, se o preço começar a cair muito no Rio Grande do Sul, o mercado comprador, principalmente internacional, deve vir forte para as compras no Brasil, levando em conta as perdas severas sofridas na safra Argentina. 

 

“Eu diria que, com a quebra da safra no Paraná, mesmo com o pouco trigo de boa qualidade, estão em bons patamares de preços, até o de menor qualidade está. Então acredito que o produtor deva ir naquela de escalonar as vendas, não ir com muita sede ao pote, olhando principalmente para o período a partir de março, que ao que tudo indica, teremos mercado mais enxuto e com recuperação de preços”, afirmou.

 

Santo Ângelo (RS) avança na colheita de trigo com boa produtividade e qualidade

Os trabalhos de colheita do trigo já passaram dos 60% na cidade de Santo Ângelo, no estado do Rio Grande do Sul, neste início de novembro. Os relatos são de boas produtividades e, principalmente, alta qualidade dos grãos colhidos até o momento.

 

Segundo o presidente do Sindicato Rural de Santo Ângelo, Laurindo Nikititz, ouvido pela reportagem do site Notícias Agrícolas, as médias de produtividade variam entre 48 e 80 sacas por hectare, de acordo com o nível de investimento de cada produtor, e os resultados desta safra de inverno devem ajudar a região a se reequilibrar após as grandes perdas na safra de verão 2021/22. 

 

“Nós teremos não só na região das Missões, mas no estado como um todo, um aumento na produção de trigo devido, principalmente, ao crescimento da área plantada e também à produtividade que está sendo obtida”, disse.

 

Segundo ele, os produtores da região vieram de uma estiagem muito severa da safra de verão, e decidiram então optar por recuperar a renda na safra de inverno, e o clima foi muito favorável. “Nós tivemos um inverno com poucas chuvas, com poucas horas de encharcamento de plantas e danos pouco significativos causados pelas geadas”. 

 

Sobre a comercialização, Nikititz destaca que os preços baixaram um pouco, porque muitos produtores que precisam fazer caixa para o verão acabam ofertando mais produto a nível de balcão, mas dentro das expectativas. “Quem puder segurar um pouco o seu produto nos seus armazéns ou até mesmo nas empresas, lá na frente deve ter preços melhores porque o produto é de boa qualidade, o que facilita a comercialização”, disse.