
Preços da soja tentam resistir, apesar de fatores negativos do financeiro e expectativas sobre a oferta
Colheita americana vai intensificar pressão. Estoques baixos da oleaginosa dão suporte aos preços e safra na América do Sul não pode ter falhas, segundo analistas.
"Quando se olha o cenário agora, temos poucas notícias altistas e muitas notícias baixistas", explica Ênio Fernandes, consultor de mercado da Terra Agronegócios, reforçando a informação de que o mercado olha para todos estes vetores agora e busca definir uma direção.
Fernandes cita os movimentos de aversão ao risco - ainda muito frequentes dada toda a incerteza sobre o rumo da economia global - a proximidade da chegada efetiva da nova safra americana ao mercado com a colheita começando, o clima seco na Argentina postergando o plantio do milho, podendo puxar mais área para a soja a frente e o início do plantio no Brasil.
Ele explica que a soja ainda se segura em patamares importantes na CBOT com os estoques de soja muito apertados nos EUA. Ainda assim, afirma que o mercado pode sentir alguma pressão com o avanço da colheita, mas até que chegue em cerca de 50% da área. "Depois essa pressão diminui", diz.


E uma direção melhor definida das cotações será dependente também da produtividade média norte-americana.
Como explica o consultor de mercado da Roach Ag Marketing, Aaron Edwards, os preços seguem mantidos em uma faixa de negociação já conhecida pelo mercado, porém, o recuo registrado no último dia 21 foi intensificado pela alta da taxa de juros nos EUA, o que motivou os investidores e especuladores a deixarem suas posições nas commodities - com exceção de algumas delas, como o trigo - para buscarem ativos mais seguros, como o dólar, por exemplo.
Até que passe a nova safra americana, os valores deverão continuar oscilando entre US$ 14,50 e US$ 14,80 por bushel e, ainda segundo o consultor, os produtores americanos ainda encontravam prêmios na casa de US$ 1,00 por bushel acima de Chicago, levando os preços a perto de US$ 16,00 para quem tem soja disponível, "o que evidencia que a demanda está disposta a pagar mais pelo produto do que se observa em Chicago", diz. "O mercado físico da soja diz isso. Preciso da soja, não do papel. Ainda serão necessárias duas safras cheias para tranquilizar o mercado".


Para as vendas da safra nova pelo produtor americano, Edwards afirma que os estoques que estão ainda sendo retidos foram "planejados", com ele tendo se programado para não fazer suas vendas em maiores volumes durante este período de safra. "Também por isso não temos tido os volumes maiores de vendas agora que geralmente fazem o mercado dar mais uma barrigada", afirma o consultor.
Com essa possibilidade de nova baixa nas cotações, Ênio Fernandes afirma que o produtor brasileiro que tem soja da safra velha na mão teria que avançar com seus negócios, principalmente porque mais a frente o interesse das esmagadoras do país deverá diminuir.
"A pouca disponibilidade de soja (inclusive por conta de menor qualidade do grão) e as margens apertadas no caso do óleo de soja limitam o interesse das indústrias. E onde houve uma perda mais robusta de safra, você (indústria) vai parar mais cedo para pensar na sua planta, e operar mais rápido para diminuir esse delay", explica o consultor.
Para a safra nova, o produtor do Brasil que fecha as contas e garante uma margem aceitável, "ele pode continuar fazendo seus hedges", mas ele têm que estar muito atento aos custos de produção, e eles são diferentes para cada produtor.