Pesquisa sobre importante praga da soja é premiada por ter sido a mais citada em revista científica em 2020 e 2021
Além de estudo para compreender a interação da praga e a planta, há outras pesquisas que propõem o uso de óleos naturais para o combate às lagartas.
O artigo publicado em 2019 por cientistas da Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais: “Alterações do perfil proteolítico intestinal durante o desenvolvimento larval de lagartas Anticarsia gemmatalis” (traduzido do inglês) foi premiado no mês de julho por ter sido o mais citado na Revista Archives of Insect Bioochemistry and Physiology em 2020 e 2021.
Confira o artigo por meio deste link: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/arch.21631?elqCampaignId=37393&elqTrack=true&utm_campaign=37393&elq_mid=59020&utm_medium=email&elq_cid=29703575&utm_content=EM1-B1-TopCited22-R869MR7&utm_source=eloquaEmail#
Segundo informações divulgadas pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais, “o trabalho traz novidades sobre uma importante praga da soja e gerou patente de uma substância que poderá ser usada no controle de pragas agrícolas de forma eficiente e ecologicamente correta”.
A equipe de pesquisadores realizou estudos envolvendo a soja, commodity de importante valor para a economia do país, e uma das principais pragas que atinge a cultura, a Anticarsia gemmatalis, conhecida popularmente como lagarta da soja. Conforme o reporte da universidade, esta praga causa danos sérios à planta devido à desfolha durante a fase de larva do inseto.
Como pontuado pela universidade, “Neilier Rodrigues da Silva Júnior, o primeiro autor do trabalho, explica que as plantas naturalmente já possuem mecanismos naturais de defesa contra herbívoros. Um deles é a capacidade de produzir inibidores de protease, uma molécula que compromete a digestão, dificultando a nutrição e o desenvolvimento desses insetos. Por isso, os objetivos da pesquisa foram avaliar os perfis enzimáticos das proteases intestinais da lagarta-da-soja e identificar quais são as principais proteases-alvos para, enfim, compreender como esse complexo inibidor é importante para o controle dessas pragas agrícolas”.
O cientista informa que houve uma quebra de paradigma durante os trabalhos de pesquisa, uma vez que até então, as serino-proteases eram consideradas como como único alvo importante no controle de lepidópteras (ordem à qual pertence a lagarta-da-soja). Entretanto, a pesquisa trouxe uma novidade, que foi a identificação das proteases-alvos para possibilitar a compreensão de como as enzimas se ligam a elas.
“Concluímos que, de fato, as serino-proteases representam um importante alvo no manejo dessas pragas, mas apenas nos estágios mais tardios da fase larval. Isso impactou o foco do desenvolvimento racional de inibidores de proteases para A. gemmatalis e outras lepidópteras, uma vez que a expressão das principais proteases não é constante como se imaginava”, conta o pesquisador.
A pesquisa foi orientada pela professora Maria Goreti de Almeida Oliveira, e segundo Neilier, o estudo possibilitou que novas pesquisas e trabalhos fossem realizados a partir desta para propor novos inibidores de protease que podem ser construídos em laboratórios.
O doutorado de Neilier, concluído em junho deste ano, teve essa inspiração e ponto de partida. Conforme a Universidade Federal de Viçosa, o cientista criou uma substância muito semelhante a que é produzida pela planta, só que mais potente e ambientalmente mais favorável, uma vez que é biodegradável. O pesquisador lembra ainda que a tecnologia tem potencial para ser aplicada a outros herbívoros considerados pragas para diferentes culturas e não somente para a soja. “O mercado está em busca de formas mais naturais de controle de pragas agrícolas e esta tecnologia poderá, em breve, ser usada nos plantios de culturas importantes”, avalia Neilier.
A lagarta da soja
Segundo informações da Embrapa, “A lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818 (Lepidoptera: Noctuidae) é a principal desfolhadora da soja no Brasil, sendo encontrada em todos os locais de produção, representando um risco à produção e à qualidade dos cultivos brasileiros (GAZZONI e YORINIORI, 1995; MOSCARDI e SOUZA, 2002). Este inseto causa grandes danos à lavoura de soja, que vão desde o desfolhamento até a destruição completa da planta. A lagarta da soja é um inseto mastigador e se alimenta de folhas jovens. Quando a folhagem é removida, ataca outras partes da planta, como pecíolos e a haste.
O desfolhamento compromete o enchimento das vagens, devido à diminuição da área foliar responsável pela fotossíntese, com consequente redução da produção de grãos. Quando se alimentam, além de remover os tecidos vegetais, que contêm nutrientes, as lagartas injetam toxinas nas plantas (SILVA et al., 2002). Existem, também, outras culturas em que a lagarta da soja causa prejuízos como cultura da alfafa, do amendoim, do arroz, da ervilha, do feijão, do feijão-vagem e do trigo, atacando durante a fase vegetativa e, em alguns casos, até no período da floração (PRATISSOLI, 2002). A lagarta da soja costuma atacar as lavouras nas regiões setentrionais e a partir de janeiro no extremo sul do País e chega a ocasionar 100% de destruição foliar (HOFFMANN et al., 1979; GAZZONI e YORINIORI, 1995), sendo, portanto, de grande importância conhecer o comportamento desta praga e os métodos utilizados para o seu controle”.
Mais informações sobre a praga podem ser encontradas por meio do link: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CENARGEN/27983/1/doc196.pdf
Alternativas naturais
Em 2019 e 2020 a Embrapa noticiou estudos realizados por seus pesquisadores utilizando extratos de plantas no combate das lagartas Helicoverpa armigera e Anticarsia gemmatalis. O reporte da entidade de 2019 traz informações a respeito da pesquisa da Embrapa Meio Ambiente, de São Paulo, utilizando extratos das espécies vegetais Clerodendrum splendens, Conyza canadensis, Tithonia diversifolia e Vernonanthura westiniana produzem efeitos com potencial para controlar os insetos. Entre as formas de controle, segundo o reporte, estão a redução de peso ou do consumo de folhas e, no caso da A.gemmatalis, foram encontrados efeitos inseticidas com até 80% de mortalidade. Os resultados obtidos, segundo a Embrapa, promovem novas oportunidades para o desenvolvimento de produtos naturais a serem usados em cultivos orgânicos, ou mesmo o emprego dessas plantas para a síntese de novos compostos inseticidas.
De acordo com o reporte da instituição, as cientistas envolvidas no projeto avaliaram cada planta diluída em quatro diferentes solventes (água, diclorometano - DCM, hexano e metanol) e constataram que os extratos de todas as espécies vegetais avaliadas causaram redução no ganho de peso das lagartas. Isso ocorreu em pelo menos um dos solventes. À exceção de T. diversifolia, todas as espécies vegetais também provocaram a redução no consumo foliar de lagartas em algum dos solventes avaliados.
"O objetivo foi avaliar se os extratos feitos com cada uma das quatro espécies de plantas apresentam ação inseticida ou nociva ao desenvolvimento das lagartas de H. armigera e A. gemmatalis, via ingestão,” conta a pesquisadora da Embrapa Jeanne Prado, uma das autoras do estudo.
Já em 2020, a Embrapa divulgou avanços na pesquisa utilizando o óleo de manjericão como alternativa com potencial para mitigar os efeitos causados nas lavouras por alguns tipos de lagartas.
“Ao aplicar o óleo essencial dessa planta sobre folhas de feijão, cientistas da Embrapa Meio Ambiente (SP) registraram a morte de cerca de metade das lagartas da espécie Helicoverpa armigera e um índice de letalidade de 30% para a Anticarsia gemmatalis. A primeira foi introduzida no Brasil em 2013 e é conhecida pela grande voracidade e a A. gemmatalis é chamada de lagarta-da-soja por ser a principal praga da leguminosa. Ambas atacam diversas culturas e, por isso, são consideradas importantes pragas agrícolas”, indica o reporte.
Segundo a instituição, uma das razões para a escolha de óleos é sua baixa, ou mesmo nenhuma toxicidade para o ambiente e para as culturas agrícolas. Os cientistas realizaram avaliações biológicas e comportamentais dos insetos e identificaram os principais compostos presentes nos óleos.
Outra questão importante ressaltada pela Embrapa é a chance de reduzir o uso de defensivos químicos, o que pode ser feito por substituição, ou uso do manejo integrado de pragas (MIP). A redução do uso de inseticidas químicos também auxilia na redução da resistência dos insetos a esses defensivos, um problema que vem crescendo nas lavouras. “Esses óleos também podem se tornar mais uma ferramenta de controle de insetos na agricultura orgânica, na qual esses compostos são permitidos, ampliando o leque de possibilidades do manejo das pragas”, diz a pesquisadora da Embrapa Jeanne Marinho Prado.
A cientista explica que a aplicação de inseticidas na tentativa de controlar a praga pode acarretar na resistência dessas populações de insetos. “A falta de novas moléculas inseticidas e a repetida utilização de produtos com modo de ação semelhante em uma mesma safra podem favorecer a resistência da população dos insetos, reduzindo a eficácia das aplicações”, pontua o reporte da Embrapa.
Segundo a instituição, Jeanne Marinho Prado ressalta que “os óleos essenciais de basilicão e tomilho foram os que apresentaram maior bioatividade sobre lagartas e pupas de A. gemmatalis, em aspectos biológicos e comportamentais. Na fase adulta, A. gemmatalis foi mais afetada pelos óleos essenciais de laranja doce, melaleuca e orégano, acompanhados dos óleos essenciais de citronela e gengibre, sendo estes últimos responsáveis pela inviabilização de todos os ovos depositados. Os óleos essenciais de tomilho e menta não foram avaliados sobre a fase reprodutiva. Nos ensaios sobre lagartas de H. armigera destacaram-se os tratamentos com óleos essenciais de basilicão, canela e melaleuca, mas nenhum tratamento alterou o consumo foliar das lagartas”.