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Safra de soja: Produtor precisa estar atento às pragas que podem atingir a planta na fase inicial das lavouras

Sistema de plantio direto tem inúmeras vantagens, mas Embrapa destaca que também favorece o surgimento de algumas pragas; algumas tecnologias ajudam no combate


A nova safra de soja do Brasil está apenas começando. A semeadura avança nas principais áreas de produção do país e este é o momento do produtor estar atento aos manejos necessários para evitar que sua produtividade seja afetada por pragas e doenças. 

 

De olho nas atividades do campo e atenta ao calendário do sojicultor, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) divulgou recentemente um artigo especial alertando sobre os cuidados necessários que o produtor precisa ter nas fases iniciais do desenvolvimento da safra. 

 

Primeiro de tudo, é preciso entender o que é caracterizado como "pragas iniciais da soja". São organismos que atingem a cultura durante as fases de germinação, até aproximadamente 30 dias depois da emergência. 

 

 

Conforme explica o artigo assinado pelo pesquisador Crébio José Ávila, os organismos citados tratam-se de artrópodes, que acabam danificando as fases iniciais do desenvolvimento da planta, podendo assim afetar de forma negativa o estande, vigor, uniformidade das plantas, assim como o rendimento de grãos. 

 

A Embrapa destaca que o cultivo no sistema plantio direto (SPD) tem muitas vantagens quando é comparado com o sistema tradicional de cultivo. No entanto, o sistema de plantio direto também acaba favorecendo o desenvolvimento de algumas pragas iniciais, como por exemplo, as de solo - já que o solo não é revolvido com grade e/ou arado. 

 

O pesquisador afirma que os danos causados por corós na soja são uma consequência do consumo de raízes, e também pode ser dos nódulos de fixação biológica de nitrogênio. Neste caso, o artigo explica que o fator acaba gerando uma redução de capacidade das plantas na absorção de água e também de nutrientes do solo e nitrogênio atmosférico através da fixação biológica.

 

"A intensidade de danos dos corós é maior em plantas jovens sob condições de déficit hídrico. As plantas atacadas por corós apresentam um desenvolvimento retardado, seguido por amarelecimento, murcha e morte", explica. 

 

Nos casos de alta infestação no solo, a publicação alerta que a perda pode chegar a 100% da lavoura, sobretudo quando as larvas estão mais desenvolvidas.

 

Algumas pragas podem derrubar em até 100% a produtividade das lavouras de soja - Foto: Embrapa

 

O artigo explicou ainda que em relação aos danos de percevejos castanhos, eles acabam acontecendo em decorrência da sucção contínua das raízes das plantas, o que pode gerar um amarelamento, subdesenvolvimento e até mesmo a morte da planta. 

 

"As culturas atacadas pelos percevejos castanhos apresentam diferentes graus de suscetibilidade, sendo o algodoeiro o mais suscetível, seguido pela soja, milho, sorgo e arroz", complementa. 

 

Com relação à ocorrência das pragas iniciais que atacam a parte aérea das plantas da soja, segundo a Embrapa, normalmente está associada à cultura precursora à soja. Neste grupo de pragas o pesquisador cita ocorrência de lagartas de Spodoptera frugiperda, lesmas, caracóis e o tamanduá-da-soja.

 

Explica que a cobertura vegetal, que é destinada para a produção de palha no sistema de plantio direto (por exemplo: aveia, trigo e braquiária), pode favorecer o desenvolvimento de elevados níveis de população de lagardas da Spodoptera frugiperda, especialmente nos períodos mais secos do ano. 

 

Destaca-se que esse tipo de lagarta pode ter força para cortar as plântulas da soja rente ao solo ou alimentar-se de sua folhagem, o que pode causar a morte e consequentemente resultar em redução no estande da soja. Destaca que o manejo deste problema em questão no sistema de plantio direto é completamente possível quando se aplica a tecnologia necessária no momento certo.

 

O artigo também destaca a ação de lesmas e caracóis, explicando que se trata de moluscos da classe Gastropeda e costumam ocorrer com maior frequência em ambientes que são úmidos e frescos. 

 

" Essas pragas apresentam maior abundância em solos com maior quantidade de palha e de matéria orgânica, como é observado no SPD. Tanto as lesmas quanto os caracóis alimentam-se dos cotilédones, do caule e dos folíolos de plântulas da soja recém-emergidas, sendo as injúrias semelhantes àquelas causadas por insetos, podendo destruir a porção apical e causar a morte, reduzindo assim o estande da cultura", explica. 

 

O tamanduá-da-soja também ganhou destaque na publicação, que explicou que se trata de uma espécie em que os adultos e as larvas podem acabar causando danos na soja. Na fase adulta, eles raspam e acabam desfiando os tecidos da haste principal da cultura, e eventualmente também os ramos laterais e pecícolos das folhas, enquanto que as larvas são endofíticas, ou seja, alimentam-se no interior da haste principal, mais precisamente da medula.

 

O pesquisador explica que o controle dessas pragas precisa ser realizado através do tratamento de sementes ou de pulverizações, que devem ser aplicadas no sulco da semeadura ou então na parte aérea das plantas da cultura. 

 

"O controle de corós e do tamanduá-da-soja pode ser realizado eficientemente através do emprego de inseticidas neonicotinoides aplicados nas sementes. Já para o percevejo castanho, a melhor alternativa de controle é a pulverização de inseticidas no sulco de semeadura ou por meio do cultivo de coberturas, em sucessão ou rotação, que são inadequadas para o desenvolvimento do inseto como é o caso da crotalária. Já as lagartas de S. frugiperda, lesmas e caracóis podem ser controlados pela aplicação de inseticidas em pulverização sobre as plantas de soja", finaliza. 

 

Como está o andamento da safra de soja do Brasil? 

Segundo levantamento divulgado neste início de novembro pela consultoria agrícola hEDGEpoint Global Markets, o avanço da semeadura da soja no Brasil está dentro da média a nível nacional, mas quando se compara o avanço da safra por estado, Mato Grosso do Sul e Paraná apresentam atraso. Os dois estados têm grande participação também na produção do milho de inverno. 

 

“É importante mencionar que o início da safra não foi tão lento quanto em 20/21, quando a safra de milho de inverno foi bastante afetada pelo atraso na soja”, observa o analista de Grãos e Proteína Animal da companhia, Pedro Schicchi. 

 

O analista acrescenta ainda que as condições climáticas continuam no radar do setor produtivo, destacando a previsão de uma nova frente fria no Sul do Brasil na semana que vem, o que pode acabar afetando os trabalhos no campo. É importante observar essa condição, segundo Pedro, porque se confirmada, o milho safrinha também deve sentir os impactos. 

 

O relatório voltou a chamar atenção para o fenômeno climático La Niña, que pelo terceiro ano consecutivo pode afetar o regime de chuvas no Brasil, principalmente nos estados da região Sul.  

 

"O fenômeno climático costuma trazer seca para o Sul do Brasil e Argentina, portanto sendo em geral negativo para a safra nessas regiões. A previsão de longo prazo de outubro do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF, na sigla em inglês) mostra um mapa típico de um La Niña ativo para dezembro-janeiro", atualizou. 

 

O produtor Sul sentiu os impactos do La Niña nos últimos dois anos. Os estados da região sentiram de forma severa os impactos da falta de chuva. “Houve recorde de produção no Brasil em 2020/2021 e uma quebra e tanto em 2021/2022. “Tudo dependerá de quando a seca atingirá as áreas produtivas e com qual intensidade”, afirma Schicchi.

 

Mesmo com as previsões climáticas citadas, a consultoria afirma que de modo geral as expectativas para a safra são positivas. "No entanto, como fica claro, a região de maior risco é o Sul do Brasil -- o que era esperado. É importante mencionar que a precipitação em dezembro tem uma correlação positiva de quase 40% com as produtividades do Sul", afirma. 

 

Finaliza dizendo que o cenário gera cautela com estimativas de produção acima de 150M ton, na análise da hEDGEpoint. “Ainda estamos definitivamente no caminho para uma safra recorde, por hora, mas talvez não tão alta quanto se pensava a princípio”, prevê Schicchi.