Setor de algodão aguarda para saber qual será a tônica do novo governo antes de novos investimentos
A equipe de reportagem do Notícias Agrícolas consultou lideranças e especialistas para saber o que esperar para o setor algodoeiro na nova gestão do país que começa em 2023
Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para Presidente da República, decidida em segundo turno no dia 30 de outubro, a equipe de reportagem do site Notícias Agrícolas ouviu lideranças de diversos setores produtivos para saber, na opinião deles, como ficam os investimentos com o novo governo.
No caso da cotonicultura, especialistas ponderam que é importante esperar para ver como os fatos irão se desenhar, mas até que a nova gestão de fato se inicie, o setor não deve fazer grandes investimentos.
Na visão da analista de mercado da Agrinvest, Bruna Stewart, ainda é cedo para traçar algum panorama de como o setor pode responder às mudanças. “Por ser um momento de bastante tensão, ainda está sendo avaliado como o mercado irá reagir às informações pós-eleição”.
O head de algodão da StoneX, Pery Passotti Pedro, também concorda que será preciso esperar mais tempo para saber qual será a tônica do novo governo, mas até lá, o setor deve evitar novos investimentos.
“Até sabermos se irá apoiar e incentivar as invasões de terra, se irá se comprometer com a responsabilidade fiscal (e consequentemente com inflação e juros sob controle) e se manterá as exportações isentas de impostos, como fazem todos os países da região, exceto seus pares venezuelanos e argentinos, espero que os setores produtivos e industriais retenham os investimentos que tinham alinhados para agora”, diz.
Pedro acredita que, uma vez que estas questões estejam esclarecidas e definidas, os investimentos devem retornar à normalidade. “A cadeia do algodão é muito dependente de exportações e de alavancagem na produção. No consumo, depende bastante de capital de giro e preços competitivos, uma vez que é intensiva em uso de capital”.
De qualquer forma, Stewart destaca que a tendência do mercado segue sendo de baixa para as cotações da pluma. “O preço continua caindo, o que tem impactado negativamente nas negociações. Além do clima da eleição, tem a decisão do Federal Reserve (FED, dos Estados Unidos) que tende a ser mais um fator baixista pra pluma no mercado externo e ainda temos natal e a copa do mundo, períodos em que o consumo de fibra geralmente aumenta, mas no mercado interno as negociações continuam paradas”.
A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) emitiu nota a respeito do posicionamento da entidade sobre a decisão das eleições presidenciais. Entre os pontos destacados pela entidade, é que há abertura para o diálogo e cooperação com o novo governo, e que a vontade da população que foi manifestada nas urnas não deve ser contestada.
A entidade aponta ainda que é necessário que haja segurança jurídica tanto para as propriedades rurais quanto aos produtores, de forma que o setor continue sendo bem-sucedido. Da mesma maneira, o agronegócio brasileiro como um todo é de extrema importância para o país e falou sobre gargalos impostos pelo comércio, inclusive em relação a questões ambientais.
Sustentabilidade
Por falar em meio ambiente, nos dias 3 e 4 de novembro, a Abrapa integrou o Congresso Internacional Abit 2022 em sua sétima edição, que teve como tema "Estratégias para um futuro mais sustentável". O evento foi realizado de maneira presencial no Minascentro, na cidade de Belo Horizonte (MG).
O presidente da Abrapa, Júlio Cézar Busato, foi palestrante no painel sobre Sustentabilidade e Economia Circular. “O foco da sua abordagem foi a moda sustentável e Busato trouxe aos participantes as ações desenvolvidas pela cotonicultura brasileira com o intuito de disponibilizar uma fibra de qualidade e responsável ambientalmente para o mercado”, destaca o reporte entidade.
Busato explanou ainda a respeito do programa nacional de melhoria da fibra, além dos investimentos em inovação e biotecnologia. A liderança também trouxe pontos sobre as ações executadas de promoção da pluma nos mercados interno e externo, e explicou em detalhes o trabalho, coordenado pela Associação, no processo de rastreabilidade e certificação socioambiental.
O presidente da Abrapa também apresentou a quem esteve presente no evento a iniciativa Sou ABR, a primeira feita em larga escala na indústria têxtil brasileira, que rastreia toda a cadeia produtiva de uma peça de roupa com o algodão certificado ABR.
O que vem pela frente
Informações compiladas pela associação apontam que atualmente o Brasil possui a maior produtividade por hectare quando se fala em algodão de sequeiro – 1800 kg de fibra/ha, comparado com 918 Kg/ha de produtividade nos Estados Unidos e 460 Kg/ha na Índia.
“Isso foi possível devido às ações de planejamento da cadeia e ao apoio dos cotonicultores na produção e no beneficiamento eficientes. Hoje, o Brasil é o quarto maior produtor de algodão do mundo e o segundo maior exportador. Em dez anos, o desafio será alcançar a liderança em vendas externas”, destacou a Abrapa.
Outras personalidades importantes do setor também integraram as discussões no painel, como Emily Ewell (Pantys), Roberto Muñoz Garcia (Jeanologia) e Tiago Marchi (Suzano). No total, o evento contou com seis painéis com os respectivos temas: Inteligência Competitiva, Mercado, Tecnologia, Talentos, Políticas Públicas e Investimentos, Sustentabilidade e Economia Circular, e cada um com a participação de três a quatro palestrantes e um moderador.
"Temos uma oportunidade ímpar para trocar ideias, compartilhar informações e experiências, fazer negócios e trabalhar unidos para o desenvolvimento do nosso setor", destacou o presidente da Abit, Fernando Pimentel.
Cepea realiza balanço de preços do algodão em outubro e detecta queda de mais de 10% no mês
Segundo informações divulgadas pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq/USP), o mês de outubro, recém-encerrado, registrou recuo de mais de 10% nos preços do algodão.
De acordo com a análise do órgão, “a preocupação quanto à demanda por pluma e produtos têxteis diante da possível recessão global influenciou a queda dos valores”. Soma-se a este fator as quedas do dólar e da paridade de exportação, que acabaram reforçando o movimento de desvalorização no Brasil “à medida que levaram algumas tradings a atuarem a preços mais competitivos ao longo do mês”.
O Indicador Cepea/Esaql para outubro, desta maneira, levando em conta o pagamento em 8 dias, acumulou baixa de 10,85% em outubro, encerrando o mês a R$ 5,0442/lp.
A fala do presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Luiz Carlos Bergamaschi, no informativo da entidade, referente ao mês de outubro, corrobora com a análise destacada pelo Cepea.
“Foi um mês marcado por baixas nos preços da pluma, que, no último dia 30 de outubro, estavam em torno de 0,72 centavos de dólar por libra-peso, para dezembro de 2023. Isso não impacta na área a ser plantada. Os insumos já foram comprados – bem mais caros do que costumavam ser – e não há espaço para uma mudança de planos para 2022/2023. Isso significa que, mais que nunca, temos de ser precisos em cada decisão que venhamos a tomar, por menor que pareçam ser. Quando as margens são estreitas, qualquer erro terá um peso maior na rentabilidade do produtor, na conjuntura em que se inicia o novo ciclo. Usemos de toda a tecnologia e conhecimento de que pudermos dispor, e torçamos por um clima que favoreça a produção”, disse.
Leia a nota oficial emitida pela Abrapa sobre a eleição presidencial:
A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) parabeniza o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, pela vitória na eleição presidencial. A vontade da maioria manifestada nas urnas jamais deverá ser contestada. O Brasil deu mais uma demonstração de vitalidade da sua democracia. Estamos abertos ao diálogo e à cooperação com o governo eleito. Nossas aspirações são conhecidas, queremos que o governo proporcione segurança jurídica para os produtores e para as propriedades rurais, para que possamos seguir produzindo e contribuindo com o desenvolvimento do País. O agro é um dos principais esteios da economia, responsável pela geração de milhares de empregos, em especial, nas cidades do interior do Brasil. Contamos com a ação do governo para proteger a produção nacional das barreiras ao comércio disfarçadas com preocupações sobre o meio ambiente e a saúde e, sobretudo, esperamos resolver gargalos de logística, com aumento de ferrovias, hidrovias e melhoria dos portos. Precisamos avançar nessas questões para que possamos cada vez mais fazer frente à concorrência e garantir acesso da produção brasileira ao mercado mundial.