Exportações de arroz podem voltar a subir com dólar elevado, aponta Bolsa Brasileira de Mercadorias
O preço do arroz, assim como de outras commodities, subiu com força durante a pandemia com a elevação dos insumos, especialmente, dos fertilizantes químicos
Em fevereiro, as exportações brasileiras de arroz (base casca) totalizaram 135,3 mil toneladas, de acordo com informações divulgadas pela Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM). O volume representa um aumento de cerca de 65% em relação ao mesmo mês de 2021, quando as vendas externas somaram 81,9 mil toneladas. O cálculo é da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) com base em dados do Ministério da Economia. As compras foram lideradas pela Venezuela, com importações de 53,1 mil t e os embarques atingiram US$ 40 milhões no mês, seguidas de Cuba, Peru, Estados Unidos e Cabo Verde.
O sócio da Expoente Corretora, do Rio Grande do Sul, Guilherme Gadret, destacou que após a safra 2020/21, depois do fim de boa parte das restrições ligadas à Covid-19, foi verificado um aumento de consumo do cereal e, consequentemente, um aumento das compras nos mercados internacionais. Depois desse período, o arroz brasileiro teria ficado de fora dos embarques por questões de preço interno e dólar. “Ficamos um período sem exportar e, ao final do ano passado, em novembro, nós voltamos a marcar presença nas exportações que, no mês de dezembro, já foram muito fortes”.
Em janeiro e fevereiro deste ano, conforme pontua a BBM, as vendas externas mais volumosas ocorreram dentro de negócios anteriormente fechados com um dólar fortalecido mas, ainda assim, os ganhos foram limitados em função das vendas do Mercosul, com a Argentina, Paraguai e Uruguai praticando preços abaixo do Brasil. Segundo o corretor associado à Bolsa Brasileira de Mercadorias, de agora em diante, tudo deve depender muito do dólar. “Nós temos um ano de eleições pela frente, o que deve impactar no câmbio e o Brasil já tem tido um dos preços mais altos em dólar frente aos nossos principais concorrentes nesse mercado”.
No mês de abril, o dólar que recuou nos primeiros meses do ano, inverteu o sinal e registrou uma alta de 3,85% no acumulado do mês, sendo esta a maior valorização mensal desde setembro do ano passado. Na primeira sessão de maio, a moeda norte-americana voltou a ultrapassar o patamar dos R$ 5. A alta foi de 2,60% em um só dia. Já nesta terça, o dólar mudou de direção e fechou a sessão com valorização em R$ 4,96. Apesar da queda diária, o valor é superior ao registrado no início de abril quando chegou a aparecer em R$ 4,60.
Com o dólar novamente em alta, a tendência é que as vendas internacionais possam voltar a aquecer, o que não deve impactar por aqui. “Produto para abastecer o mercado interno tem, a gente tem um carry-over da safra passada, embora essas exportações tenham se elevado ao final da safra, mesmo assim, a gente tem um estoque de passagem ao redor de 1,8 milhões de toneladas. Temos produto suficiente para o mercado interno, então não seria um problema ampliar as vendas externas nesse momento”. Acredita-se que o Brasil, deve atingir a segunda maior safra da história, segundo a Bolsa.
O preço do arroz, assim como de outras commodities, subiu com força durante a pandemia com a elevação dos insumos, especialmente, dos fertilizantes químicos. “Começou com pandemia e a redução de produção na China. Hoje, ainda temos a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, ou seja, os custos, que já estavam elevados na safra passada, estarão ainda mais na próxima safra e isso sim deve impactar no mercado doméstico", analisou o corretor. Segundo ele, no atual cenário, os custos do adubo e da ureia variam entre R$ 5 mil e R$ 6 mil a tonelada de cada um desses fertilizantes, o que corresponde a algo entre R$ 2,5 mil a R$ 3 mil reais por hectare de arroz.
Em função dos elevados custos para a próxima safra, a Expoente Corretora lembra aos produtores sobre o planejamento e sobre a estratégia de travamento futuro na comercialização do grão, a exemplo do que ocorre com outras culturas como a soja e o milho. A Expoente foi a primeira corretora a registrar uma venda futura de arroz no Brasil, em 2020, junto à Bolsa Brasileira de Mercadorias. Com o travamento de preço, o produtor consegue planejar melhor o plantio da próxima safra, decidindo de forma mais assertiva o tamanho da área que será plantada, assim como também consegue programar melhor a compra de insumos.
O oitavo Levantamento da Evolução da Colheita de Arroz da Safra 2021/2022, publicado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), mostra que já foram colhidos 874.172 hectares, o que significa 91,33% da área total semeada no Estado, de 957.185 hectares. O boletim, elaborado pela Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural da autarquia, conta com informações das equipes dos Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Nates) junto aos produtores, e mostra que a produtividade média no Estado gaúcho está em 8.364 quilos por hectare, uma média considerada positiva, embora algumas regiões tenham tido problemas pontuais.
No Rio Grande do Sul, maior produtor de arroz do país, o preço da saca do arroz em casca varia entre R$69, na região de Uruguaiana e Itaqui, onde a queda mensal passa de 10%, e aparece em R$ 71,50 na região de Pelotas. Já em Santa Catarina, o valor da saca de 60 quilos é cotado em R$ 70,10, no município de Turvo.
Colheita de arroz está no fim
Mesmo com a proximidade do final da colheita no Rio Grande do Sul, orizicultores têm disponibilizado lotes ainda menores do grão no mercado, diminuindo a liquidez interna, segundo informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq/USP). A recente valorização do dólar frente ao real, por sua vez, pode estimular a exportação. Quanto à demanda, indústrias mostram interesse em adquirir apenas volumes pequenos, visto que indicam ter estoques confortáveis do arroz em casca, alegando que as vendas internas do produto beneficiado seguem bastante reduzidas. Além disso, com a finalização da colheita na maior região produtora do Brasil, agentes dos grandes centros de consumo brasileiro esperam adquirir volumes do fardo a preços menores.