Exportações do complexo soja pelo Porto de Paranaguá crescem 25% no 1º trimestre
Ao olhar para a logística no exterior, lockdowns em cidades estratégicas da China e guerra entre Rússia e Ucrânia causam gargalos na chegada das mercadorias ao destino final
As exportações do complexo soja pelo Porto de Paranaguá estão em alta, segundo informações da Portos do Paraná, empresa pública estadual, subordinada à Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística. Nos primeiros três meses deste ano, 4.974.237 toneladas de cargas do produto em grão, óleo e farelo foram embarcadas pelos terminais paranaenses. O volume é quase 25% maior que as 3.987.702 toneladas carregadas no 1º trimestre de 2021.
O maior aumento foi registrado nas exportações da forma líquida, ou seja, de óleo de soja: 57,3%. Foram 327.975 toneladas exportadas nos três primeiros meses deste ano contra 208.529 toneladas carregadas no período, em 2021.
Ainda conforme a Portos do Paraná, neste ano, ao mesmo tempo em que as exportações estão em alta, também não houve registro de qualquer volume importado do complexo soja. No primeiro trimestre do ano passado foram importadas quase 45,5 mil toneladas de óleo de soja.
“Ao que tudo indica, apesar da quebra na safra, boa parte da produção tem ficado também no mercado interno”, disse o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia.
Sólidos
De farelo de soja exportado no último trimestre foram 1.342.739 toneladas; volume 38,4% maior que as 970.140 toneladas registradas no ano passado.
“O Paraná tem um dos principais parques esmagador de soja do Brasil. Inclusive, a tendência é que o país importe soja em grão e exporte o farelo, que tem maior valor agregado”, afirma Garcia.
Nas exportações de soja em grão, a alta foi de 17,6%. Neste ano, de janeiro a março, 3.303.523 toneladas do granel foram embarcadas por Paranaguá. No mesmo período, em 2021, foram 2.809.033 toneladas.
Soja
De acordo com os dados da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), no Paraná o volume de soja produzido nesta safra está entre 11,6 e 12 milhões de toneladas. O último levantamento apontava uma quebra próxima de 45%.
Segundo o economista Marcelo Garrido, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab, a soja embarcada pelo Porto de Paranaguá, nesses primeiros meses do ano, é parte de produtos oriundos da safra passada e outra proveniente da safra que está sendo finalizada.
“Nos últimos três anos, a média exportada de soja em grão no Paraná foi de aproximadamente 59% da quantidade produzida”, afirma. Segundo ele, o restante é o que fica no mercado interno.
Sobre a alta observada nas exportações pelos terminais do Estado, Garrido explica ser reflexo do aumento da demanda de alimentos no mundo.
“Nos últimos anos, o consumo mundial tem crescido e feito com que as exportações dos países produtores de alimentos acompanhassem esta demanda”, afirma.
Outro fator que tem favorecido o Brasil nos últimos anos, segundo ele, são as cotações cambiais, que de uma forma geral tem beneficiado os produtos brasileiros no mercado internacional.
Com menos produto disponível e uma demanda interna crescente, o economista do Deral acredita que a tendência é que os volumes a serem exportados neste e nos próximos meses sejam reduzidos. “Como tivemos uma safra menor neste ano, e a demanda interna é grande, é possível que haja, inclusive, a necessidade de importação”, acrescenta Garrido.
Caos logístico no exterior
Um dos países que mais adquire commodities no mundo, a China, passa por novos surtos de Covid-19, e ao adotar uma política de “tolerância zero” à doença para conter o avanço dos casos, lockdowns estão sendo adotados nas cidades onde o vírus está sendo detectado.
De acordo com a jornalista internacional especialista em commodities Karen Braun, somente nos terminais do porto de Xangai, na China, o número de navios aguardando atracação no início deste mês de maio aumentou 34% em relação ao mês passado.
"Os lockdowns por conta da Covid-19 na China pioraram os problemas da cadeia de suprimentos global. Estima-se que um quinto da frota mundial de navios porta-contêineres esteja preso no congestionamento de portos não só da China", explica Karen.
O o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, explica que "a China segue empacada com sua política zero-covid, setor de serviços na China sob forte pressão, empresas pensando em sair do país e 25% dos containers do mundo parados, deixando as cadeias de suprimentos cada vez mais estressadas".
Ao lado das commodities agrícolas todas que estão paradas nesses porta-contêineres ou graneleiros, há ainda matérias-primas para que esses produtos possam ser produzidos e, neste momento, o problema mais grave é entre os fertilizantes. A entrega dos adubos tem se mostrado comprometida em diversos países-chave na produção agrícola global, entre eles a China - também pela política de tolerância zero contra o coronavírus - e os Estados Unidos.
"Para as cadeias globais esses últimos dois anos na China têm sido um purgatório. Falta de componentes, atrasos de recebimento e envio de cargas, falta de caminhões, extravio de cargas, cargas perecíveis sendo perdidas, custos maiores e sistemas de "produção em bolha". Sucessivos lockdowns, falta de energia, novas leis anti-poluição, novas leis anti-especulação, falta de caminhões e incapacidade de repasse de custos para empresas que atendem o mercado interno. Segundo a Câmara Europeia de Comércio, muitas empresas estão pensando em sair da China", pontua Vanin.
Além do fator China, a crise logística também sente os impactos dos mais de 70 dias de guerra entre Rússia e Ucrânia. E uma manchete da agência de notícias Bloomberg, mostra que o próximo possa ser o conflito chegando, efetivamente, ao Mar Negro, o que pode comprometer ainda mais a chegada e saída de produtos pela região.
"Os russos parecem dispostos a cortar a economia ucraniana do acesso ao mar – essencialmente recriando a estratégia Anaconda que o presidente dos EUA, Abraham Lincoln, usou no século XIX para sufocar a Confederação. Mas o sucesso russo dificilmente é garantido, pois os ucranianos estão se mostrando tão surpreendentemente robustos no mar quanto em terra, já realizando um punhado de combates bem-sucedidos contra as forças navais da Rússia", reportou a Bloomberg.
Atrasos acumulam chegada de soja na china em abril
Conforme dados divulgados pela agência de notícias internacional Reuters, as importações de soja da China subiram em abril em relação ao mês anterior, movimento motivado pela chegada de cargas atrasadas por causa do mau tempo e de colheitas lentas na América do Sul, mostraram dados alfandegários do gigante asiático.
O maior importador de soja do mundo trouxe 8,08 milhões de toneladas da oleaginosa em abril, um aumento de 27% em relação aos 6,35 milhões de março, segundo dados da Administração Geral de Alfândegas.
Os números também subiram ante as 7,45 milhões de toneladas registradas em abril do ano anterior.
"Os carregamentos atrasados de soja brasileira chegaram gradualmente e as importações de soja da China em maio devem continuar subindo e atingir cerca de 9,4 milhões de toneladas", disse Zou Honglin, analista da seção agrícola da Mysteel, uma consultoria com sede na China.
Conforme aponta a Reuters, nos primeiros quatro meses do ano, a China importou 28,36 milhões de toneladas de soja, queda de 0,8% ante 28,59 milhões no ano anterior, segundo os dados.
O mau tempo no Brasil atrasou a colheita e as exportações do principal fornecedor de soja da China, levando a menores chegadas nos primeiros meses do ano.
Os preços do farelo de soja na China subiram para recordes à medida que os suprimentos diminuíram, mas caíram à medida que mais cargas chegaram. A China deve precisar de 7 milhões a 8 milhões de toneladas de soja por mês até agosto, disseram traders.
Embora a demanda em maio tenha sido coberta em sua maioria, os trituradores chineses demoraram a comprar soja para embarques de junho a agosto, já que as margens de esmagamento baixas reduziram o apetite, informou a Reuters em abril.
Desde então, importadores registraram mais cargas de soja brasileira para embarque nos próximos meses, disseram traders.
Recorde de vendas de milho e soja dos EUA para o próximo ano sinalizam força de demanda e nervosismo
A agência internacional de notícias Reuters informou que os Estados Unidos venderam volumes recordes de suas culturas básicas (milho e soja) para exportação no próximo ciclo, potencialmente indicando que a demanda continuará forte em 2023.
Essa tendência também provavelmente reflete as preocupações dos principais compradores, como a China, de que a oferta global pode continuar apertada por pelo menos mais um ano. Isso pode manter as exportações dos EUA elevadas pelo terceiro ano consecutivo, dadas as safras de verão bem-sucedidas.
“Há incerteza sobre a força da demanda de soja da China, já que o farelo de soja, em altos patamares de preço, foi reduzido das rações, mas as 7 milhões de toneladas da oleaginosa dos EUA já nos livros para o próximo ano são recordes e bem acima de qualquer coisa vista nos últimos anos”, aponta a Reuters.
Isso pode significar algumas coisas. A China pode ter mudado sua janela de compra mais cedo devido ao medo do aumento dos preços, e essa demanda pode ou não permanecer forte durante o período de compra tradicional no final do ano. No entanto, a China sabe que uma safra recorde nos EUA está no convés, portanto, os suprimentos devem ser abundantes em outubro, caso os rendimentos sejam suficientes.
Outra possibilidade é que a China esteja reabastecendo as reservas de soja após vários leilões recentes. As cargas que chegam do principal fornecedor Brasil devem diminuir em meados do ano após um déficit de safra no país.