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Estudos da Embrapa mostram resultados positivos para cultivo de trigo em Roraima

Setor destaca potencial do Brasil em alcançar a autossuficiência na produção do cereal em 10 anos; atualmente país produz apenas metade da demanda

 

Por Notícia Agrícolas


Um estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) trouxe ao setor produtivo do país resultados interessantes para a produção de trigo de qualidade no Cerrado de Roraima. Os resultados, de acordo com a publicação da Embrapa, ainda são preliminares, mas podem trazer uma nova opção de produção na região. 

 

“Os resultados preliminares obtidos na região foram muito promissores. Tivemos uma produtividade bastante boa, com uma qualidade dos grãos excelente, comparado aos melhores trigos do Brasil em termos de qualidade industrial para panificação”, afirmou o pesquisador Julio César Albrecht, da Embrapa Cerrados.

 

 

A divulgação foi feita em audiência pública realizada no último dia 2 de junho, pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal, que teve como principal objetivo debater a expansão do cultivo de trigo no Brasil. Segundo presentes, a ideia é que a pesquisa traga fatos que comprovem a capacidade do país se tornar autossuficiente na produção de trigo. 

 

Da Embrapa participaram Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, representando o presidente Celso Moretti, Julio César Albrecht, pesquisador da Embrapa Cerrados, e Edvan Alves, chefe-geral da Embrapa Roraima.

 

Foram analisadas pelos técnicos da Embrapa, em Roraima, a qualidade da farinha proveniente dos grãos colhidos no Cerrado. “São resultados inéditos e que mostraram que a farinha apresenta uma boa qualidade de panificação. A gente tem um material adequado para a produção de pães, com teores de proteínas elevados. Esses resultados indicam que estamos no caminho certo”, afirmou Edvan Alves.

 

Os ensaios foram realizados no ciclo 2021/22 e com três cultivares da Embrapa, sendo elas: BRS 264, BRS 394 e BRS 404 (conheça mais abaixo). Os primeiros resultados indicaram desempenho positivo positivo e com potencial de produtividade de mais de três toneladas de grãos por hectare. Os números chamam atenção já que foram obtidos em apenas 66 dias do ciclo da emergência à maturação fisiológica. "Imagine você produzir um trigo com produtividade acima de três toneladas de grãos num ciclo de 66 dias, isso é realmente fantástico e nos permite inclusive fazer duas safras com esse ciclo curto”, complementa. 

 

Ainda de acordo com Alves, a produção deste trigo tropical traria benefícios não só para o estado de Roraima, mas sim para o país, por segurança alimentar e também em relação à balança comercial, sendo uma opção viável para o produtor após a safra de soja, considerando que no estado há a presença da ferrugem da soja que traz mais dificuldades à safra. 

 

Registro do Experimento da Embrapa em Roraima mostram que região tem potencial para produzir muito mais em áreas que são de cultivo no estado Foto: Embrapa

 

"Obrigatoriamente teremos um vazio sanitário para a cultura da soja e poderemos aproveitar o cultivo do trigo nesse período. Dessa forma, será possível atrair também empresas voltadas para a moagem e a industrialização da farinha de trigo. Além do mais, esse cultivo também pode melhorar o desempenho de outras lavouras quebrando o ciclo de doenças, reduzindo o aparecimento de plantas daninhas, nematóides e aumentando o teor de matéria orgânica no solo, o que é muito positivo”, destacou.

 

Segundo a Embrapa, a demanda para consumo de trigo no Brasil atualmente é de 12,7 milhões de toneladas, mas a produção nacional é apenas metade deste montante, o que faz com que seja importante novas pesquisas para garantir ao país a autossuficiência, que de acordo com Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, pode ser alcançada em 10 anos. 

 

“O trigo deve percorrer o mesmo caminho que a soja fez do sul do Brasil até Roraima. Assim o país passará de importador para exportador, assim como ocorreu com o milho. Os nossos trabalhos e a organização das cadeias produtivas indicam isso”, afirma na publicação oficial da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. 

 

Já o pesquisador Julio Albrecht, a condição de autossuficiência do grão passa pela região do Cerrado. Os números mostram que o Cerrado do Brasil Central, que contempla os estados de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e oeste da Bahia, produz trigo em 200 mil hectates, o que chega a uma produção de 600 mil toneladas do grão. Ele destaca que o país já tem áreas no Cerrado com potencial para produção em quatro milhões de hectares, sem precisar desmatar. 

 

"Novas fronteiras para expansão da cultura no Maranhão, Piauí, Ceará e Roraima estão sendo pesquisadas. Mas, para que essa nova fronteira agrícola seja aberta, é necessário que se criem políticas de governo para incentivar o cultivo nessas regiões. Condições climáticas, pesquisa, genética e produtores qualificados nós temos”, afirmou.


De acordo com a publicação, o produtor rural Geraldo Falavinha, também presente da audiência pública, ficou surpreso com as possibilidades e será também um dos primeiros a iniciar o plantio de trigo em Roraima, após ter bons resultados com a soja. Geraldo é natural de Santa Catarina, há 35 anos migrou para o Mato Grosso para produção de milho, algodão e soja. “Há 10 anos estou em Roraima ajudando a desenvolver esse estado que tem um potencial enorme para produzir alimentos”, afirmou.

 

“Acreditamos no potencial e estamos abertos para fazer os primeiros plantios em escala comercial assim que possível. Também vamos deixar a nossa fazenda à disposição dos técnicos para que possam fazer o seu trabalho e, assim, nos dê a possibilidade de produzir trigo aqui no 'lavrado'. Eu acredito que será viável, talvez com irrigação”, avalia. (Lavrado é o termo utilizado em Roraima para definir a região de vegetação aberta situada na porção Nordeste do estado).

 

Conheça as cultivares testadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)  no Cerrado de Roraima:

BRS 264

A BRS 264 é uma cultivar adaptada para o cerrado do Brasil Central com indicação de cultivo para os estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Distrito Federal e Goiás. Com ciclo superprecoce, espigamento em 40 dias e maturação em 110 dias, é extremamente produtiva e tem excelente aceitação pela indústria.

 

A BRS 264 apresentando, altura média de planta de 80 cm, produtividade média de 6.000 kg/ha e peso de mil sementes de 40g. É moderadamente resistente ao acamamento e resistente à debulha. O período preferencial para semeadura vai de 20/04 a 30/05, sob cultivo irrigado.


Os benefícios econômicos gerados a partir da adoção desta cultivar estão no incremento de rendimento, em relação ao rendimento médio das demais cultivares irrigadas, e na agregação de renda obtida em virtude do preço pago na região ser mais alto em função do tipo de grãos com qualidade superior.

 

BRS 394

Indicada para o cultivo na Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo e para o Distrito Federal (região IV de Valor de Cultivo e Uso - VCU) ela foi desenvolvida pela Embrapa Cerrados em conjunto com a Embrapa Trigo e lançada no ano de 2015. 

 

Apresenta como principais características a precocidade, o alto potencial produtivo, chegando a 8 toneladas por hectare em lavouras, a boa resistência ao acamamento e um excelente desempenho na indústria com alta força de glúten e estabilidade.

 

Manejo da cultivar: Por ser indicada para o sistema de cultivo irrigado, a melhor época de semeadura da BRS 394 está entre 10 de abril e 30 de maio, sendo a primeira quinzena de maio o período em que a cultivar apresenta seu maior potencial produtivo. Além da maior produtividade a época para semeadura tamém está vinculada a possibilidade de escape das chuvas no período pré-colheita. A densidade de semeadura deve ficar entre 320-370 sementes aptas/m2, com espaçamento entre linhas de 17cm a 20cm. A cultivar permite o uso de redutor de crescimento para explorar altas produtividades e a adubação indicada é de até 140 kg/ha de Nitrogênio (base + cobertura).

 

BRS 404

A BRS 404 é alternativa para o cultivo de trigo de sequeiro no Cerrado. Apresenta ciclo precoce, classe comercial pão e estabilidade na produção de farinha. A BRS 404 foi a primeira cultivar a apresentar maior tolerância à brusone. É adaptada para plantio na região IV de VCU que abrange DF, GO e MG. A BRS 404 apresenta potencial de rendimento de 40 sc/ha e foi desenvolvida para cultivo em áreas de sequeiro, com altitudes iguais ou superiores a 800 metros.


“Desde o início, a Embrapa sempre foi muito receptiva à essa nossa demanda e se debruçou sobre o cerrado de Roraima. Agora apresenta resultados alvissareiros. Temos dois milhões de hectares de cerrado no nosso estado, um potencial fantástico, localização geopolítica e geoestratégica excepcional. Temos certeza que o resultado será o esperado”, finaliza o senador Chico Rodrigues. 

 

*As informações sobre as cultivares foram retiradas do site oficial da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)