Com custos elevados, planejamento da nova safra de trigo precisa ser redobrado
Preço do trigo elevado, dólar dificultando as importações e dificuldades logísticas ajudaram a esmagar as margens das indústrias durante o ano de 2021, mas repasses podem estar por vir.
O ano de 2021 ficou marcado no setor tritícola por aumento de preços, mas também problemas de fretes com a falta de disponibilidade de contêineres e navios, redução da safra em alguns estados e flutuação grande do dólar sobre o real, o que reduziu as margens das indústrias ao longo do ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Para 2022, a entidade não vê muitas mudanças nesse cenário, o que reforça a necessidade de planejamento.
Com a disparada dos custos, o produtor precisa estar atento, principalmente, aos preços dos fertilizantes.
“O preço [do trigo] vai continuar elevado, nós vamos ter custos adicionais. A oscilação do dólar é muito forte, então nós vamos ter mais do mesmo. Vamos ter a indústria sofrendo muito com esses custos ampliados, com a redução da margem e com uma pequena transferência desse aumento do custo para as farinhas. Então vai ser um ano difícil novamente para o setor”, considera Rubens Barbosa, presidente da Abitrigo, em perspectiva para o novo ano.
Durante 2021, o setor não conseguiu repassar os preços aos consumidores na mesma medida em que saltaram para as indústrias. Ainda assim, ante valores de comercialização mais elevados, o setor também poderá fazer alguns investimentos em tecnologias de manejo e infraestrutura das lavouras, mas é importante que os produtores estejam atentos para a gestão financeira para ter rentabilidade na comercialização da safra.
A entidade pontua que, apesar de o Brasil ter avançado na cultura nos últimos anos, ainda depende muito da importação de outras nações. “Nós não podemos ficar tão vulneráveis a essa exposição externa. 60% do trigo consumido aqui no Brasil é importado. Desse 60%, 85% vem de um único país, que é a Argentina. Do ponto de vista estratégico, de segurança alimentar, essa dependência é muito complicada”, afirma Barbosa.
“Nós somos favoráveis e a Embrapa está trabalhando na diversificação das áreas produtivas, diversificação de sementes, combate às pragas. A Embrapa tem estudos e está desenvolvendo o plantio de trigo no Norte do Cerrado, porque o trigo é uma cultura de inverno, do Rio Grande do Sul e do Paraná, sobretudo. Agora, nós estamos começando a ver a possibilidade de ampliar a produção em um clima temperado e isso está sendo bem sucedido”, ressalta o presidente.
Segundo dados divulgados em dezembro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil produziu, na safra 2021, 25% a mais do que na safra anterior.
A Emater/RS também estimou a maior produção de trigo da história do Rio Grande do Sul, com 3,4 milhões de toneladas. A área semeada, de 1,17 milhão de hectares, foi a segunda maior da última década. Já a produtividade média de trigo no Estado cresceu cerca de 31% em comparação à safra anterior, passando de 2.207 kg/ha na safra 2020, para 2.893 kg/ha em 2021.
No estado do Paraná, porém, a realidade da última safra foi diferente, com queda expressiva na produção. Segundo o engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral) do estado , Carlos Hugo Godinho, esta redução se deu em função da seca ao longo do ciclo e de geadas pontuais em algumas lavouras do cereal. Além disso, a chuva na época da colheita também retirou qualidade dos grãos.
Já no quesito rentabilidade, levando-se em conta os custos de produção para esta temporada, fechados lá atrás, os produtores paranaenses conseguiram ter bons negócios para comercializar a produção e obtiveram lucro. A projeção para a safra 2022 é preocupante no estado. Godinho indica que os custos de produção subiram 70% de um ano para o outro, 20% somente no último trimestre, e isso pode impactar na área cultivada neste ano.