Condições climáticas melhoram e plantio da safra dos Estados Unidos tem ligeiro avanço, reporta USDA

Previsão de permanência do La Niña, no entanto, continua no radar do mercado e pode impactar produções americanas e brasileira.

 

Uma ligeira melhora nas condições climáticas permitiu avanço no plantio da safra americana nos últimos dias, segundo informações divulgadas pelo reporte semanal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, em inglês) neste final de maio. Segundo analistas, o acompanhamento semanal trouxe números acima do que era esperado pelo mercado. 

 

Soja

Com relação à semeadura da soja, de acordo com o reporte, chegou a 50% da área até o domingo (22). O índice ficou pouco acima do esperado pelo mercado, que era de 49%. Na semana passada, a colheita estava em 30% da área. Os números comprovam o atraso na safra americana, já que no ano passado o índice era de 73%, enquanto a média é de 55%. Ainda de acordo com o relatório, 21% teve germinação, com um avanço em relação à semana anterior de 12 pontos percentuais. Em 2021, eram 38% e a média é de 26%. 


Milho

Com relação ao plantio do milho, os Estados Unidos têm 72% de área plantada, mostrando avanço mais significativo já que na semana anterior o índice era de 49%. O mercado trabalhava com a expectativa em 68%. No ano passado, o índice era de 89% e a média das últimas cinco safras é de 79%. O boletim trouxe ainda que 39% da área já emergiu, na semana passada esse volume era de 14%, 61% em 2021 e a média fica em 51%. 

 

Trigo

O boletim do USDA também reportou que o plantio do trigo de primavera estava concluído em 49% até o último domingo. O número esperado pelos analistas de mercado era de 56%. O cereal também está com a semeadura atrasada, já que nesta época em 2021 a semeadura estava em 93%. A média é de 83%. O relatório mostrou ainda que 29% dos campos já germinaram, enquanto na semana passada eram 16%, em 2021 62% e a média chega a 50%. 

 

O índice de lavouras de trigo de inverno com boas ou excelentes condições teve ligeiro aumento, passando de 27% para 28%, ficando assim de acordo com as expectativas de mercado. Mas, vale lembrar que em 2021 esse índice era de 47%. 

Preocupação climática segue no radar do mercado já que La Niña pode se confirmar pelo terceiro ano consecutivo - Foto: CNA

 

 Permanência do La Niña

A última atualização do fenômeno climático La Niña, feita pela Administração Atmosférica e Oceânica (NOAA, em inglês), apontou que as condições seguem favoráveis para o evento climático continuar nas próximas semanas, com chance de diminuição da intensidade no final do Verão do Hemisfério Norte, ou seja entre os meses de agosto e outubro de 2022. 

 

"No curto prazo, as anomalias do vento Oeste estão previstas para meados do final de maio, o que suporta o enfraquecimento das temperaturas oceânicas abaixo da média da superfície e subsuperfície nos próximos meses. No entanto, grande parte da orientação do modelo também está sugerindo um fortalecimento das condições de La Niña novamente no outono e no próximo inverno. Em resumo, embora o La Niña seja favorecido para continuar, as chances de La Niña diminuem no final do verão do Hemisfério Norte (58% de chance em agosto-outubro de 2022) antes de aumentar ligeiramente no outono do Hemisfério Norte e no início do inverno de 2022 (61% de chance", destacou o último boletim divulgado pelo NOAA. 

 

Se as previsões se confirmarem, este será o terceiro ano consecutivo do evento climático afetando as principais áreas de produção agrícola não só nos Estados Unidos, mas também no Brasil. O fenômeno que provoca o resfriamento das áreas do Oceano Pacífico também tem como característica intensificar os riscos de ciclones, tornados e furacões em áreas do Pacífico e do Atlântico. 

 

Para a produção brasileira, o impacto pode ser mais severo nas áreas do Centro-sul do Brasil, com baixos volumes de chuva nos três estados da região Sul, mas também a possibilidade de um inverno mais rigoroso nas áreas do Sudeste. Vale lembrar que segundo produtores, no Centro-Oeste, por exemplo, o baixo volume de chuva nos últimos 30 dias também traz certa preocupação à safrinha de milho. 

 

Safra brasileira também pode sentir os impactos do clima

Para o Brasil, a expectativa é que a produção de grãos possa chegar a 271,8 milhões de toneladas na safra 2021/22, número que representa aumento de 6,4% em comparação com o ano anterior, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os dados mais atualizados foram publicados no 8º Levantamento da Safra de Grãos, divulgado no início de maio. 

 

"O resultado também apresenta um ligeiro ganho de 2,5 milhões de toneladas quando comparado com a estimativa publicada no mês anterior. Essa melhora na produção é explicada pela maior área plantada de milho segunda safra, além do melhor desenvolvimento no final do ciclo das lavouras, sobretudo de arroz, milho e soja", afirma o boletim oficial da Conab. 

 

Até a segunda semana de maio, a soja apresentava 65% de área colhida com expectativa de produção de 123,8 milhões de toneladas. O número representa uma queda de 10,4% em relação ao ciclo anterior. A Conab chamou atenção para a produção total do milho com 116,19 milhões de toneladas, alta de 33,4% em relação à safra de 2020/21. "Durante as viagens de campo, os técnicos da Companhia identificaram áreas semeadas, inclusive, fora da janela ideal, o que demonstra que a rentabilidade esperada para cultura ainda é atrativa para os produtores", ressalta o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento, Guilherme Ribeiro.

 

De acordo com o levantamento, essa alta ajudou a diminuir o impacto negativo com as condições climáticas fora do ideal nas principais áreas de produção da segunda safra, como por exemplo em Goiás e no Mato Grosso. No Mato Grosso, a Aprosoja trabalha com uma queda de, pelo menos, quatro milhões de toneladas para o milho. 

 

Já em Goiás, apesar da seca prolongada, a Conab aponta que a produtividade no estado pode avançar 31,7% em relação ao ano passado. “A atual safra não irá atingir a produtividade potencial, mas ainda tende a ser uma boa produção principalmente pelas lavouras implantadas mais cedo. No entanto, ainda precisamos ter atenção com o desenvolvimento da cultura. A maior parte do milho semeado se encontra em estágios de desenvolvimento em que o clima é preponderante. Para Mato Grosso e Goiás há uma tendência de déficit hídrico. Já em Mato Grosso do Sul e no Paraná, a maior preocupação é com o risco de geadas”, pondera o diretor de Informações Agropecuárias e Políticas Agrícolas, Sergio De Zen.

 

Feijão

Com relação ao feijão, o Conab segue apontando para uma boa safra. A Companhia Nacional de Abastecimento destacou que o clima foi favorável para garantir maior rendimento dos grãos nas principais áreas de produção. A expectativa é de colheita de 1,4 milhão de toneladas, alta de 23,3% em relação ao mesmo período no ciclo anterior. 

 

Algodão

A Conab trouxe ainda números importantes para a cultura do algodão, que também vem apresentando clima dentro das condições ideais para o desenvolvimento da fibra. Além disso, a Companhia trabalha com aumento de área e com produção de 2,82 milhões de toneladas de pluma. Se as previsões se confirmarem, o volume será o segundo maior registrado na série histórica da cultura, com 19,5% a mais em relação à safra passada e abaixo do registrado no ciclo 2019/20. 

 

Trigo

Dentre as culturas de inverno, o panorama de mercado de trigo estimula os produtores. A expectativa de área plantada do grão no país teve uma elevação de 3% neste levantamento. Destaque para o Rio Grande do Sul, onde a intenção de plantio mostra uma elevação de 9,7%, saindo de 1,16 milhão de hectares para 1,27 milhão de hectares.

 

Para o arroz, a Conab estima 10,7 milhões de toneladas, queda de 9,1% em relação ao volume produzido na safra passada. A redução registrada para estes grãos neste ciclo é explicada pela estiagem registrada nos estados do Sul do país e em parte do Mato Grosso do Sul entre o fim de 2021 e início deste ano.

 

Destaques de mercado, segundo a Conab

A Conab não alterou as estimativas de importação de nenhum produto em relação ao levantamento anterior. Já as exportações de milho para 2022 foram aumentadas, passando de 37 milhões de toneladas para 38 milhões de toneladas. Se confirmado, os embarques para o mercado externo terão um incremento de 82,6% em relação à safra anterior. Essa elevação é explicada pelo crescimento da produção brasileira alinhada à demanda internacional aquecida.

 

Para os demais produtos, as estimativas de exportação foram mantidas:

 

  • Algodão em 2,05 milhões de toneladas;
  • Arroz em 1,3 milhão de toneladas;
  • Feijão em 200 mil toneladas;
  • Soja em 77 milhões de toneladas;
  • No caso do trigo, as informações ainda são referentes à safra 2021,  que possui o ano comercial de agosto de 2021 a julho de 2022. Para o cereal, a expectativa de venda para o mercado internacional segue em 3 milhões de toneladas.