Analistas pontuam que compras de milho brasileiro pela China devem ser pontuais
Ao voltar o olhar para o cereal brasileiro, segundo especialista, o gigante asiático sinalizaria uma diminuição nas compras do produto nos Estados Unidos.
De acordo com informações da consultoria Safras & Mercado, divulgadas pela agência de notícias internacional Reuters, os chineses já garantiram boa parte de seu abastecimento de milho com compras feitas nos Estados Unidos, e devem adquirir o cereal de forma pontual no Brasil. No último dia 23 de maio, o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento anunciaram a conclusão das negociações para o início de exportações brasileiras de milho para o gigante asiático.
Em entrevista à Reuters, Paulo Molinari, analista da consultoria, pontuou que este acordo comercial já existia e que, nesta ocasião, foi apenas aprimorado entre as partes. “Este ano ela (China) já atendeu a sua demanda que vinha da Ucrânia, substituindo por milho americano”, afirmou.
O especialista detalhou que o cereal apresenta atualmente valores historicamente elevados e a movimentação chinesa em voltar os olhos para o milho brasileiro sinalizaria ao mercado global a possibilidade de diminuir as exportações dos Estados Unidos, consequentemente pressionando as cotações na Bolsa de Chicago (CBOT).


Brasil fora dos negócios com a China
Entre os aspectos que colocam as exportações brasileiras fora dos negócios com a China no curto prazo, conforme divulgado pela agência de notícias, está a questão de uma análise detalhada para que haja equivalência entre os tipos transgênicos do cereal, além de um período para que o governo federal faça uma revisão de aspectos fitossanitários do milho nacional para embarque rumo à China, o que levaria cerca de três meses.
Molinari ressalta que, mesmo assim, os embarques do milho brasileiro ao mercado externo devem chegar a cerca de 37 milhões de toneladas, valor superior às 20,78 milhões de toneladas registradas no ano passado. Isso mostra uma recuperação desta segunda safra, sendo que no ano passado, neste mesmo período, a safrinha de milho foi atingida por geadas e estiagem severas, prejudicando a produtividade e qualidade dos grãos.
“E mesmo com esse patamar de embarque, nosso estoque final ficaria em 10 milhões de toneladas, um fator de baixa para os preços”, disse ele, segundo a Reuters.
Para além das exportações, Molinari também pontua que o total da produção do cereal nesta safra deve chegar à casa das 118,13 milhões de toneladas, frente as 91,47 milhões registradas na safra anterior.
Plantio em áreas “sensíveis ambientalmente” nos Estados Unidos
Conforme apurado pelo site Notícias Agrícolas, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, em inglês) deve permitir que produtores rurais plantem, sem penalidade, em áreas atualmente consideradas “ambientalmente sensíveis”, após pedido da categoria ao órgão. Entre os objetivos da medida está a questão da segurança alimentar mundial, focando na maior produção de alimentos.
De acordo com o órgão, esta alternativa é válida aos produtores que estejam em seu último ano de contrato com o programa de conservação de reservas, o CRP na sigla em inglês (Conservation Reserve Program) do USDA. Ainda na última quinta-feira (26), o órgão anunciou algumas flexibilizações para os programas de Incentivos à Qualidade Ambiental (EQIP) e de Manejo de Conservação (CSP).
“A invasão injustificada de Putin na Ucrânia cortou uma fonte crítica de trigo, milho, cevada, oleaginosas e óleo de cozinha, e ouvimos muitos produtores que querem entender melhor suas opções para ajudar a responder às necessidades globais de alimentos. Este anúncio ajudará os produtores a tomar decisões informadas sobre o uso da terra e as opções de conservação”, disse o administrador da Agência de Serviços Agrícolas do USDA (FSA), Zach Ducheneaux.
Em entrevista ao site Notícias Agrícolas, a Dra. Samanta Pineda, advogada e especialista em direito ambiental, traduzindo essa alternativa concedida pelo governo norte americano aos produtores rurais à realidade brasileira, seria como os produtores do Brasil fossem autorizados a cultivar em suas APPs (Áreas de Preservação Permanente) e “causa estranheza”, de acordo com ela.
"Existe um programa no país em que o governo paga para alguns produtores não produzirem em áreas sensíveis ambientalmente, como encostas, margens de rios e entorno de nascentes. Agora, com um pedido feito por associações de produtores ao Secretário de Agricultura foi liberada a estes produtores que estejam no final dos contratos de adesão ao programa de conservação - que vão de 10 a 15 anos - têm áreas sensivelmente ambientais sendo liberadas para o plantio. E enquanto isso, nós aqui no Brasil levamos a fama de não preservar o meio ambiente", pontuou a advogada em entrevista.
E Dra. Samanta complementa: "são dois pesos e duas medidas".