Produção de laranja do Brasil deve ter pequena recuperação na safra 2022/23

Chuvas dos últimos meses trouxeram alívio ao cinturão citrícola apesar do volume permanecer abaixo das médias históricas, aponta Fundecitrus.

 

A safra de laranja 2022/23 do Brasil está estimada em 316,95 milhões de caixas. Esse número representa alta de 20,53% em relação à produção do ano passado e alta de 1,11% na média dos últimos dez anos.

Os números foram divulgados recentemente no primeiro levantamento divulgado pelo  Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) e, caso se confirmem, representam uma ligeira recuperação na produção após dois anos de impactos severos no cinturão citrícola e de produção abaixo do esperado para o Brasil. 

Assim como foi observado por diversos setores, a produção de laranja, seja em São Paulo ou em Minas Gerais, foi duramente afetada pela estiagem prolongada nos últimos ciclos, além das áreas que foram prejudicadas pelas geadas do ano passado.

Em 2021, a produção brasileira foi de 263 milhões de caixas e a safra também teve o maior índice de queda de frutos dos últimos anos, chegando a 22% e com frutos com calibre abaixo do ideal. 

Após dois anos de safra com produtividade abaixo do ideal, Brasil deve ter recuperação no ciclo atual - Foto: Fundecitrus

 

O relatório trouxe ainda que as chuvas na reta final do ano passado e primeiros dias de 2022 ajudaram na recomposição hídrica do solo, mas os volumes ainda ficaram 22% abaixo da média histórica para o período, mas 16% a mais do que o acumulado no mês período do ano passado. Até o momento, o Fundecitrus também não registrou nenhum veranico e as temperaturas ficaram dentro do ideal em toda área de produção. 

 

Para a safra que se inicia, o Fundecitrus destacou que até o momento é observado um aumento na carga de frutos, que também são maiores graças às chuvas observadas desde outubro do ano passado, além de acrescentar que a queda dos frutos pós-florada também é considerada pequena. 

 

"Esse número de 316 está dentro da média histórica, mas nós viemos de duas safras pequenas, era de se esperar uma safra até maior, mas como nós viemos de situações que as laranjeiras sofreram muito, a reserva das plantas estavam aquém da normalidade e por isso nós não tivemos uma super produção de frutos", destacou o Fundecitrus. 

 

O relatório também aponta que o cenário positivo em relação à temporada anterior deve se manter até o encerramento da safra, por isso, a projeção é que o peso médio das laranjas no ponto de colheita chegue a 158 gramas, 10,49% acima da safra passada, mas 3,66% abaixo da obtida nos últimos sete períodos. 

 

“A produtividade média, nesta temporada, é estimada em 920 caixas por hectare e 1,86 caixas por árvore, contra as 760 caixas por hectare e 1,58 por árvores colhidas na safra 2021/22”, afirma. 

 

Raio X e frutos por árvore

Durante a divulgação da estimativa de safra, o Fundecitrus também destacou a realização do Raio X das principais áreas de produção do Brasil.  Com esse levantamento, chegou-se à conclusão de que o número médio de frutos por árvore até o mês de maio, ainda sem considerar as quedas que devem ocorrer ao longo da safra, é estimado em 668, o que representa uma alta de 4,5% em relação ao ciclo anterior. 

O Fundecitrus explica que o número médio de frutos por árvore pode variar em 19 frutos para mais ou para menos, o que equivale a ± 2,82% do número médio de frutos por árvore obtido na derriça. Esse valor está dentro do erro esperado de 2% a 3%, utilizado no dimensionamento da amostra.

"Para o cálculo da estimativa, foram considerados integralmente os frutos de primeira, segunda e terceira floradas. Para os frutos da quarta florada, foi aplicada uma taxa de pegamento de 65% por ter sido encontrada uma quantidade muito pequena desses frutos, além das condições favoráveis do clima neste momento que devem favorecer a retenção.

Na separação dos frutos por florada, foram também identificados frutos temporãos, resultantes de flores tardias e esporádicas da safra anterior, que não foram contabilizados na estimativa da safra atual", conforme destacou o relatório oficial. 

 

Greening segue no radar 

Daqui pra frente, o Fundecitrus vai seguir acompanhando o desenvolvimento da safra e também mantém o foco no combate ao greening no corredor citrícola do Brasil. 

No ano passado, com muitos produtores migrando para culturas mais rentáveis, como grãos, alto custo de produção e baixa produtividade, o índice da doença avançou expressivamente nas principais áreas de produção e desde então o setor vem fazendo alerta de cuidados para os produtores do país. 

A preocupação das lideranças do setor é que a produção brasileira passe por um corte expressivo em decorrência do greening, como aconteceu na Flórida. O estado americano, antes um dos principais fornecedores de laranja do mundo, viu sua produção cair drasticamente com o avanço da doença no ano de 2012.

No Brasil, a orientação é para controle do pomar e até mesmo remoção das árvores infectadas para evitar o avanço da doença. Em algumas áreas do cinturão citrícola o cenário já é semelhante ao que devastou produção da Flórida em 2012 impactos já foram sentidos na safra passada e por isso a preocupação para 2022/23 continua no radar. 

 

“O mais preocupante é que altas incidências de greening também dificultam o controle em pomares jovens, que representam a continuidade da cultura – parte significativa das laranjeiras com até cinco anos plantadas nessas regiões já estão doentes:

  • 32% em Limeira;
  • 27,9% em Brotas;
  • 18,7% em Porto Ferreira;
  • 11,6% em Avaré;
  • 6,1% em Duartina;

Enquanto nas demais regiões do cinturão a porcentagem não ultrapassa os 10%”, destacou em publicação realizada no em dezembro do ano passado.


Na época, foi relatado ainda que a forte presença da doença se reflete em danos à produção e prejuízo aos citricultores: das cerca de 8,5 milhões de plantas eliminadas em 2020 por causa do greening em todo o parque, 92% estavam nessas cinco regiões. Outros impactos negativos são a redução da produção devido à queda prematura de frutos e a piora da sua qualidade.

 

Quebra na produção afeta exportação de suco de laranja, aponta CitrusBR

Confirmando o que já era esperado pelo mercado, levantamento realizado pela CitrusBR informou impacto nas exportações de suco de laranja nos primeiros quatro meses de 2022, consequência da produção em menor escala pelo Brasil. Os dados foram divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e compilados pela CitrusBR.

O relatório da Citrus mostrou que no período de julho de 2021 a abril de 2022, que marca os dez meses da safra 2021/2022, fechou com um volume total de 813.696 toneladas. 

"O número representa redução de 5,21% em relação ao mesmo período da safra passada, quando foram exportadas 858.384 toneladas. Já em faturamento, as exportações somaram US$ 1,330 bilhão, alta de 5% ante a receita de US$ 1,266 bilhão registrada na safra anterior", afirma o documento oficial. 

Com relação aos destinos, a Europa continua sendo o maior importador do produto brasileiro com participação de 63,87%, logo depois vem os Estados Unidos - com 19,92%, China aparece com 8,09%, Japão com 3,90% e Austrália com 1,05%. 

Com relação às vendas para Europa, foi observado um total de  518.013 toneladas, uma redução de 5,36% em relação às 547.352 toneladas embarcadas no mesmo período na safra 2020/2021. Em faturamento, os embarques somaram US$ 853,4 milhões, valor 3,85% maior em relação aos US$ 821,8 milhões registrados no mesmo período da safra passada.

Já para o segundo importador, as compras ficaram praticamente estáveis, com 161.534 toneladas, apontando redução de 0,40% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em receita houve crescimento de 18,93%, com um total de US$ 285,7 milhões enquanto na safra passada a receita foi de US$ 240,3 milhões.

 

O que chamou atenção no relatório foi o aumento da participação da China como compradora do produto brasileiro. O volume comprado foi de 65.615 toneladas, aumento de 50,89% a mais do que no período da safra 2020/21 quando o acumulado foi de 43.486 toneladas. 

 

Em faturamento, houve crescimento de 53,64%, com US$ 78 milhões ante os US$ 50,8 milhões faturados na safra anterior. “O volume exportado nos últimos 10 meses para a China já é maior que o volume das últimas dez safras. Isso demonstra um processo de amadurecimento do mercado, o que é importante para a descentralização do eixo Europa Estados Unidos.”, diz Netto.

 

O relatório conclui ainda que os embarques de suco de laranja para o Japão registraram queda de 14,9% nos dez primeiros meses da safra 2021/2022, com um volume de 31.637 toneladas. No mesmo período da safra passada, os embarques foram de 37.177 toneladas. O faturamento teve queda de 0,26%, com US$ 52,1 milhões ante os US$ 52,2 milhões da safra passada.