
2023 deve ter preços de milho mais pressionados no Brasil, a menos que haja grande choque climático, avalia Itaú BBA
Com grande oferta restante da safrinha 2022 e boas perspectivas de produção em 2023, recomendação de analista é para produtor vender seus volumes aos poucos
A reta final de 2022 e o ano de 2023 devem ser de preços pressionados para o milho no Brasil diante da oferta que ainda resta disponível da segunda safra de 2022 e das boas perspectivas de produção para as safras do próximo ano. Especialista pontua que, até o final deste ano, existe um espaço para que os produtores avancem na comercialização do milho safrinha.
De acordo com o gerente de Consultoria Agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti, ouvido pela reportagem do site Notícias Agrícolas, o que pode mudar esse cenário negativo é um grande choque climático retirando produtividade das próximas safras, inclusive diante das previsões de ocorrência do La Niña.


“A gente tem visto, de maneira geral, uma lentidão na comercialização da safrinha, e por mais que ainda haja preços internacionais sustentados, muito a reboque das dificuldades norte-americanas de escoamento de produção devido à redução dos níveis do Rio Mississippi, preocupação com a produção europeia, diante da seca que atinge o continente, e também as incertezas sobre o efeito do La Niña no Brasil, no curto prazo, pode ser que haja queda nas cotações”, disse.
Bellotti ainda destaca a importância das exportações para escoar o milho brasileiro, com o país ocupando um espaço importante deixado pela guerra da Ucrânia que diminui os embarques e agora dos problemas para os Estados Unidos escoar sua produção com a seca no Rio Mississippi.
“A guerra entre Rússia e Ucrânia fez com que a Ucrânia diminuísse bastante o ritmo de embarques, e mais recentemente, temos esse problema com os baixos níveis do Rio Mississipi que prejudica o escoamento da safra dos Estados Unidos. Mas este bom desempenho do Brasil nas exportações vem muito também do fato de que a segunda safra aqui no país foi muito boa”, ressaltou.
Para o produtor que tem o cereal colhido na safrinha e ainda não vendeu, o especialista explica que é muito difícil acertar o pico de preços. A sugestão de Bellotti é de que o produtor trabalhe fazendo preços médios, avance na comercialização, embora o cenário dos preços internacionais sejam ainda “razoavelmente sustentados” a reboque deste balanço apertado.


“Mas não dá para descartar a hipótese de que no curto prazo os preços do Brasil se descolem um pouquinho da paridade de exportação, justamente porque ainda tem muito milho para sair. Outra coisa que é muito importante sobre a paridade de exportação é que existe uma influência grande do câmbio na formação de preços aqui no Brasil, e o câmbio tem estado bastante volátil. Eventualmente, no momento da negociação em que o produtor se depara com um câmbio um pouco mais valorizado (o real mais forte), isso pode impactar as cotações do milho nas praças locais”, afirma. Complementando, Bellotti ressalta que se trata de uma equação de gestão de risco.
O gerente de consultoria explica ainda que, embora o cenário do ponto de vista das cotações internacionais ainda seja sustentado, o que os últimos anos ensinaram ao produtor rural é que os níveis de risco e incerteza aumentaram bastante. “Se eventualmente um choque maior coincidir com o momento em que o produtor precisa comercializar o milho para fazer frente à alguma obrigação, isso pode impactar bastante a saúde financeira”, disse.
Quando se fala no consumo interno de milho, Bellotti explica que, quando se olha no curto prazo pela ótica de que possa haver um descolamento para baixo nos preços do milho em relação às paridades de exportação, dado que ainda há um volume razoável do cereal a ser comercializado, isso pode ajudar o comprador brasileiro.