
Brasil tem vários tipos de algodão sendo produzidos e sustentabilidade se destaca no setor
Todos os tipos de manejo são pautados em boas práticas agrícolas, indo ao encontro com as exigências do mercado global que demanda os produtos com a pluma
Atualmente, o Brasil produz tipos diferentes de algodão e a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) destaca que o mercado tem sido bastante exigente e tem dado preferência aos tipos que priorizam a sustentabilidade, em harmonia com o meio ambiente.
A associação ligada aos produtores destaca que o algodão é um dos principais produtos da cadeia agrícola brasileira e a fibra de origem natural é a mais utilizada em todo o mundo. Através da cultura, há geração de emprego e a pluma é matéria-prima para diversos setores industriais.
"Além do convencional, existem outros tipos de algodão: orgânico, responsável, colorido naturalmente e agroecológico. Cada um deles tem suas particularidades na produção", destacou a publicação da Abrapa.


Neste sentido de sustentabilidade, a Abrapa destaca o cultivo do algodão orgânico, que tem na sua principal característica a não utilização de químicos na sua produção. Além disso, a biotecnologia tem sido uma grande aliada do produtor na hora de combater pragas de forma que não agrida o meio ambiente.
Mas, em contrapartida, a produtividade do algodão orgânico é menor quando comparada com os demais tipos e, por isso, é cultivado por pequenos produtores. Segundo a Embrapa Algodão, a produção do orgânico na safra de 2018/2019 foi de 30 toneladas, feitas por 600 famílias. Na safra entre 2019 e 2020, houve aumento expressivo e o volume avançou 134 toneladas, sendo produzidas por 1.894 famílias no período.
Outro diferencial é que a semente não pode ser transgênica. Semira Carvalho, Mestre em Design do SENAI CETIQT, diz que, se houver transgenia, não é possível classificar o produto como orgânico, porque é proibido na lei.
Por causa desses diferenciais, a fibra orgânica passa por uma certificação feita de acordo com a Lei dos Orgânicos do Brasil, por auditoria de terceira parte do IBD (Instituto Biodinâmico) e da Ecocert Brasil, ou ainda, por certificação participativa, feita pelos próprios produtores e auditada pelo Ministério da Agricultara, Pecuária e Abastecimento (Mapa).


Outro tipo de cultivo que se destaca no país é o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que tem a certificação da Abrapa, com foco em reconhecer os produtores que entregam uma fibra que seja cada vez mais responsável. Para conseguir a certificação, as fazendas devem atender 183 exigências, que atendem oito esferas. Entre os requisitos se destacam: contrato e boas condições de trabalho em todos os elos da cadeia, boas práticas agrícolas e bom desempenho ambiental.
"A produção de algodão responsável é auditada também por certificadoras independentes e reconhecidas no mundo todo, como Genesis Certificações, Bureau Veritas e Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Estas instituições concederam o selo ABR para quase 85% da última safra brasileira", explica.
Esse algodão ainda tem a produção pautada em práticas ESG: ambiental, social e econômica. Ou seja, práticas que tenham respeito ao meio ambiente, preservação de áreas naturais, boas relações de trabalho e desenvolvimento social das comunidades produtoras.
“Desde 2013, o ABR atua em benchmarking com a Better Cotton Initiative (BCI). Na prática isso significa que, no Brasil, para ter o licenciamento internacional, a produção precisa ser certificada ABR. Em critérios, a certificação brasileira une os 25 critérios mínimos de produção da BCI, os mesmos usados no mundo inteiro, e outros 153 adicionais relacionados com a nossa legislação”, afirma a associação.
Ainda pautada em sustentabilidade, a Abrapa também destaca a produção do algodão agroecológico, que surgiu no estado da Paraíba. O plantio no estado começou durante a época de chuvas e com espaçamento maior entre as plantas. Com esse manejo e suporte da Embrapa Algodão, faz com a lavoura não seja atacada pelo bicudo-do-algodoeiro, principal praga da cultura.
A Abrapa explica que basicamente são usadas sementes agroecológicas e não modificadas geneticamente, em solo adubado exclusivamente com compostos orgânicos, não sendo utilizada irrigação artificial e nem defensivos químicos. Além disso, a colheita é feita manualmente.
Neste tipo de plantio, o produtor também faz a utilização de técnicas de rotação de cultura, trocando o cultivo a cada novo plantio e também o consórcio alimentar, que prevê plantio alternado com outras culturas.
"Este tipo de algodão é considerado sustentável, não apenas pelo baixo impacto no meio ambiente, mas por auxiliar no desenvolvimento social e cultural das regiões produtoras. Por meio dele, acontece a manutenção da qualidade dos recursos naturais, além do controle da segurança alimentar e a inclusão social nas etapas produtiva", complementa.
Também desenvolvido pela Embrapa na Paraíba, o Brasil conta ainda com a produção do algodão colorido, alternativa ao sistema de produção convencional e que foi lançado a partir de melhoramento genético e por isso a planta produz fibra colorida naturalmente em diferentes tons e sem a utilização de aditivos químicos.
Segundo Michelle Carvalho, da Coordenação de Serviços de Consultoria de Moda e Design do SENAI CETIQT, é preciso deixar clara a diferença entre o colorido e o orgânico. “Esse tipo de algodão já nasce colorido e não, necessariamente, é orgânico. Ele pode ser colorido e ser cultivado igual ao convencional. O diferencial é que, quando ele já nasce com alguma cor, é possível evitar alguns processos na indústria, como o tingimento químico”, comenta.
Já a Embrapa Algodão destaca que esse tipo de cultivo influencia na economia de recursos hídricos quando o algodão colorido é utilizado na indústria têxtil. “A pluma dispensa a fase do tingimento, garantindo economia de 87,5% de água no processo de acabamento da malha, em comparação com os tecidos coloridos artificialmente”, explica Gilvan Ramos, pesquisador da Embrapa.
Além de apresentar os tipos produzidos no Brasil, a Abrapa destacou que há diferença nas possibilidades que cada um apresenta ao mercado, considerando principalmente as capacidades produtivas de cada um deles.
Os números mostram que atualmente a demanda do Brasil é em torno de 750.000 toneladas de fibra por ano. O que significa que aproximadamente 420 mil hectares de algodão tipo ABR já são suficientes para atender a indústria têxtil do Brasil.
"Para comparativo, considerando a hipótese de que todo algodão fosse orgânico, com uma produtividade média de 137,5kg/ha (maior média entre as fontes encontradas), seria necessário aumentar esta área de plantação em mais de 13 vezes", explica a Abrapa.
“Na prática, para não precisar desmatar, a área com o plantio de outras culturas seria ocupada. Por exemplo, 5,5 milhões de hectares equivalem a toda a área plantada nas primeiras safras de milho e de algodão, em 2021/22.Além disso, o plantio orgânico exclusivo não teria condições de controlar o bicudo-do-algodoeiro, uma das pragas mais difíceis e responsável pelo fim da produção brasileira do algodão na década de 1990. Por outro lado, o novo sistema de produção no cerrado tem o manejo focado no controle dessa praga, garantindo a sustentabilidade econômica, ambiental e social da produção”, finaliza a publicação.
Safra 2022/23 do Brasil
Para a safra 2022/23, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima aumento de área, produtividade e também acréscimo na produção do algodão no território nacional. Os primeiros dados da Conab indicam colheita de 2,92 milhões de toneladas de pluma.
"Os fatores que impulsionam o avanço da cultura são o elevado patamar dos preços do produto, boa rentabilidade, a comercialização antecipada, entre outros. No entanto, as incertezas do cenário econômico mundial podem restringir esse crescimento", afirmou o relatório.
Neste cenário, também se espera um avanço no volume exportado para um patamar de 2 milhões de toneladas, além de destacar um estoque de passagem que deve ficar em aproximadamente 1,75 milhão de toneladas de pluma no fim de 2023.