Fórum Nacional do Trigo debate biocombustíveis e traz alternativas para o uso de cereais de inverno

O uso de cereais de inverno pode ser alternativa para a produção do etanol amiláceo.

 

Por Notícias Agrícolas


O alto preço do petróleo a nível mundial, além de questões ambientais relacionadas aos combustíveis fósseis, chama a atenção para alternativas menos poluentes e economicamente sustentáveis a longo prazo. Os cenários na produção de biocombustíveis serão tema do painel de abertura do Fórum Nacional do Trigo, que acontece em Brasília (DF), no dia 28 de junho.

 

Quando se fala nestes tipos de combustíveis alternativos, o Brasil possui o biodiesel e etanol no portifólio. “A principal matriz brasileira na produção de biocombustíveis é a soja, mas outras oleaginosas também são utilizadas para produção de biodiesel, como mamona, amendoim, canola, dendê e girassol, além de gordura animal. O etanol é produzido no Brasil basicamente com cana-de-açúcar e milho, mas o uso de cereais de inverno pode ser alternativa para a produção do etanol amiláceo”, informa a organização do evento.

 

Segundo informações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o Brasil está em segundo lugar entre os maiores produtores e consumidores de biocombustíveis do mundo. Em 2021, por exemplo, foram fabricados 7 bilhões de litros de biodiesel e 30 bilhões de litros de etanol, conforme pontua o reporte do Fórum Nacional do Trigo. 

 

Voltando os olhares às alternativas disponíveis nas culturas de inverno, o conteúdo médio de amido conversível e açúcar nos cereais de inverno é: cevada 50%; aveia 50%; centeio 59%; triticale 60% e trigo 65%. A produtividade de álcool depende de quão completa é a conversão do amido, mas normalmente é de 260 a 380 litros por tonelada de grãos.

 

O painel “Cenários na produção de biocombustíveis” acontece no Fórum Nacional do Trigo, no dia 28 de junho, no Centro de Eventos Brasil 21, em Brasília (DF). A realização é da Embrapa e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). 

O conteúdo médio de amido conversível e açúcar no trigo é de 65% - Foto: CNA

 

Oportunidades para os cultivos de inverno

De acordo com informações da Embrapa Trigo, que participa do Grupo de Trabalho Pró-Etanol RS, a utilização dos cereais de inverno na produção de biocombustíveis pode trazer mais liquidez para estas culturas no estado do Rio Grande do Sul. 

 

“Ao contrário das demais regiões produtoras de etanol no País, o ambiente do Rio Grande do Sul inviabiliza o abastecimento das usinas com cana de açúcar, pois a cultura está disponível apenas quatro meses no ano. Entretanto, a área disponível para cultivo no inverno pode ultrapassar os 6 milhões de hectares, espaço que fica muitas vezes ocioso nas propriedades gaúchas”, ressalta.

 

Em reporte da instituição, o pesquisador Alfredo do Nascimento Junior, da Embrapa Trigo, ressalta que entre os cereais de inverno aprovados para a produção de etanol se destaca a cultivar de triticale BRS Saturno, que pode apresentar até 60% de amido em seus grãos, podendo com isso produzir 350 litros de etanol por tonelada de grãos. 

 

O engenheiro agrônomo da Emater/RS Regional de Erechim, Valdir Zonin, pontua também que é preciso que haja matéria-prima o ano todo para a diversificação da matriz produtiva na geração de etanol. Isso acaba favorecendo as culturas de inverno (triticale, trigo, cevada, aveia e centeio), de verão (sorgo e arroz) e intermediária (batata). 

 

“Todas estas opções servem para produzir etanol amiláceo. Acredito que o agricultor irá optar pela mais produtiva. Independente da cultura ou cultivar, a qualidade do grão colhido influenciará no rendimento de etanol e coprodutos. O Pró-Etanol prevê, pelo menos, três classificações qualitativas - muito bom, normal e abaixo, que deverão definir o preço pago ao produtor”, explica Zonin.

 

A aposta do produtor Ivonei Librelotto, de Boa Vista das Missões, no Rio Grande do Sul, é no trigo de duplo propósito: “A primeira renda do produtor já veio através do pasto e com a posterior colheita do grão é possível avaliar o melhor mercado para o trigo, seja a indústria de alimentação humana, como o pão, a alimentação animal, na ração, e agora na produção de energia, como o etanol”, avalia Librelotto, lembrando que “o produtor precisa assegurar a rentabilidade, não basta defender a importância da cobertura de inverno ou o combustível mais limpo. Precisamos garantir um projeto que assegure tanto o aspecto econômico, quanto o ambiental e o social, por isso o grande número de pessoas envolvidas no Pró-Etanol”.

 

“Em qualquer mercado visado, a melhor opção sempre é o planejamento da área agrícola, intensificando o sistema de produção para o melhor aproveitamento de cada janela que possa diversificar as alternativas de geração de renda. O cultivo de inverno garante proteção do solo, estabilidade financeira e movimentação dos recursos disponíveis na propriedade”, destaca o Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski.