Embrapa: A importância da agricultura irrigada na produção de alimentos

Artigo foi publicado em homenagem ao Dia da Agricultura Irrigada, comemorado em 15 de junho.

 

Por Notícias Agrícolas


A última semana foi marcada por uma série de comemorações ao Dia da Agricultura Irrigada, comemorado em 15 de junho, que tem como objetivo debater a importância desse tipo de agricultura com foco na sustentabilidade na produção de alimentos, além de promover o desenvolvimento e a segurança alimentar, econômica e ambiental no Brasil. 

 

Neste sentido, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) publicou no dia um artigo destacando a importância da data para o agronegócio. "A criação da data propicia uma oportunidade para debater o tema da agricultura irrigada e conscientizar a sociedade sobre a importância estratégica dessa importante tecnologia", afirma a publicação. 

 

Destaca ainda que a tecnologia da irrigação, talvez por ser uma das mais antigas e já fazer parte do agronegócio, muitas vezes é esquecida como uma importante inovação para os dias atuais, "mesmo sendo uma das tecnologias mais importantes para o desenvolvimento da agricultura e produção sustentável de alimentos já concebida", explica a Embrapa. 

Ampliar área irrigada no país é fundamental para atender forte demanda por alimentos e praticar uma agricultura sustentável - Foto: Embrapa

 

Vale destacar que a data do dia 15 de junho foi escolhida estrategicamente pelo setor, já que fica próxima ao Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no dia 5 de junho, além de estar mais perto também do período seco em boa parte das áreas de produção agrícola do Brasil, com a aproximação do inverno e época do ano em que a produção depende muito da tecnologia de irrigação. 

 

"Tal celebração também busca lançar luz sobre a importância da irrigação no desenvolvimento econômico e social. A irrigação é, sem dúvida, a tecnologia com maior potencial de contribuir para o aumento da segurança alimentar e ambiental, bem como para a redução da fome e da pobreza, além de gerar grande número de empregos. Ela traz benefícios importantes relacionados à produção de alimentos, à geração de empregos, ao desenvolvimento social e ao meio ambiente. É uma tecnologia fundamental em qualquer planejamento estratégico de Estado", acrescenta. 

 

Os últimos dois anos foram de bastante irregularidade climática no Brasil, inclusive com perdas significativas nas áreas de produção. O efeito do fenômeno climático La Niña, em atuação pelo terceiro ano consecutivo, ainda é contabilizado nas mais diversas culturas. Diante deste cenário, a Embrapa destaca que a irrigação funciona como um "seguro'' contra os períodos de tanta incerteza hídrica. 

 

"Na questão das mudanças climáticas, com potenciais impactos na temperatura e no regime de chuvas, a irrigação se apresenta como uma das principais tecnologias de adaptação, contribuindo para reduzir as incertezas do clima e trazendo estabilidade à produção – mas, sobretudo, permitindo o acúmulo de carbono no solo por meio da possibilidade de exploração de mais de um cultivo anual, adicionando resíduos de matéria orgânica ao solo, o que poderia contribuir para a mitigação das mudanças climáticas", afirma. 

 

Os números da Embrapa mostram ainda que o país é um dos poucos no mundo que possui capacidade de triplicar a área de irrigação. Atualmente, o Brasil conta com aproximadamente 8,5 milhões de hectares irrigados, ficando na 9ª no mundo, irrigando 7,8% da área irrigada da China, que possui um território 11% maior. 

 

Mas, apesar da possibilidade do Brasil, a Embrapa destaca que existem alguns desafios a serem enfrentados pelo setor. Na publicação, a entidade pontuou informações levantadas pelo Ministério de Planejamento, que identificou os fatores favoráveis e desfavoráveis para ampliação da área irrigada no país. 

 

Os fatores de contexto favoráveis identificados foram:

 

  • Demanda por alimentos de maior qualidade;
  • Aumento da demanda mundial de alimentos;
  • Maior nível de exigência pela preservação ambiental;
  • Agravamento de eventos climáticos extremos em função das mudanças climáticas.

 

Os fatores de contexto desfavoráveis identificados foram:

 

  • Possibilidade de crise energética;
  • Conflitos pelo uso da água;
  • Limitação da expansão da capacidade de reservação de água;
  • Legislação ambiental restritiva;
  • Custos crescentes de água, energia e outros insumos.

 

A publicação explica ainda que persiste o desafio para integrar de forma efetiva e estratégica as políticas de segurança alimentar e hídrica com o objetivo de trazer estabilidade à produção global de grãos - que pode inclusive estar em risco em alguns anos devido ao estresse hídrico. "Esse risco é ainda mais preocupante quando se considera o efeito das mudanças climáticas, cujos cenários vêm indicando aumento nas incertezas das chuvas em várias regiões do planeta, incluindo regiões do Brasil", afirma. 

 

Acrescenta ainda que o aumento na produção de alimentos é inevitável e que poderá aumentar ainda mais a disputa pelo uso de água. "É nesse sentido que a ciência tem papel fundamental. As inovações modificam o panorama atual, possibilitando produzir mais sem aumentar as demandas hídricas", diz. 

 

A entidade ressalta ainda que o Brasil é um país eminentemente agrícola. Considerando os diversos territórios, algumas regiões só existem devido à agricultura, enquanto outras só são economicamente viáveis devido à existência da agricultura irrigada, e se tornaram sinônimo de segurança alimentar, apresentando grande desenvolvimento de tecnologia, embasamento científico e de melhoria nos indicadores de IDH (índice de desenvolvimento humano). 

 

A publicação provoca ainda uma discussão da importância da população urbana entender a potência da produção agrícola na geração de empregos e movimentação da economia por todo o país. "Em vez de se questionar que a agricultura irrigada utiliza muita água e o que deve ser feito para dificultar esse uso, deve-se perguntar: como aumentar a eficiência do uso e melhorar a comunicação de forma a se ter mais segurança hídrica para as áreas irrigadas sem comprometer o meio ambiente?", questiona. 

 

Em 2021, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) apresentou o novo Plano Setorial de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+), com meta de reduzir a emissão de carbono equivalente (CO2eq) em 1,1 bilhão de toneladas no setor agropecuário até 2030. O novo plano incluiu os sistemas irrigados como uma das tecnologias a serem apoiadas, estabelecendo como meta o aumento da área irrigada em 3 milhões de hectares, o que teria um potencial de mitigação de emissões de gases de efeito estufa de 50 milhões de Mg CO2eq.

 

A Embrapa finaliza o material afirmando que para que o papel estratégico do Brasil de produtor mundial de alimentos possa ser consolidado, é importante que os nossos agricultores tenham segurança hídrica e energética. “Isto é, ao se pautar questões essenciais que envolvam os recursos hídricos, deve-se colocar nessa pauta, como política de estado e de maneira estratégica, a irrigação como a principal tecnologia para garantir estabilidade e sustentabilidade à produção de alimentos”, finaliza o texto assinado por Lineu Neiva Rodrigues Pesquisador da Embrapa Cerrados. 

 

MAPA reconhece potencial para Brasil avançar com irrigação

Também em evento realizado para comemoração da data,  o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, destacou a importância da irrigação na agricultura como inovação tecnológica para garantir a segurança alimentar e promover a sustentabilidade. 

 

“Não tem nada que fala melhor de inovação tecnológica do que a própria irrigação. Se nós queremos ser o primeiro país produtor e exportador de alimentos, nós precisamos de tecnologia, principalmente a tecnologia da irrigação. Irrigar significa gerar emprego,significa produzir mais em uma mesma área”, disse Marcos Montes.

 

O evento virtual foi realizado pela  Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e contou com  a participação de várias lideranças no agronegócio para debater as oportunidades que a irrigação pode trazer à produção brasileira. 

 

“A irrigação é uma alternativa tecnológica para intensificar a atividade produtiva, aumentar a oferta de produtos agrícolas, nos mercados interno e externo, sem a necessidade de expandir a área. O setor de irrigação é altamente desenvolvido no Brasil. As melhores técnicas existentes já são utilizadas pelos produtores. As principais empresas do setor atuam no país. Temos todas as tecnologias adaptadas à realidade brasileira e os produtores já perceberam o potencial produtivo dessa técnica”, disse o presidente da CNA, João Martins.

 

De acordo com a Agência Brasil, a irrigação é uma técnica utilizada para suprir as demandas hídricas dos cultivos de forma artificial, visando o pleno desenvolvimento. Essa técnica faz parte de um conjunto de outras práticas usadas para garantir a produção econômica de determinada cultura, com o adequado manejo dos recursos naturais, acompanhada de tecnologias como a de plantio direto, as de conservação de água e solo, a de manejo integrado de pragas, entre outras.

 

Além disso, o uso da tecnologia de irrigação traz vários benefícios para a agricultura e , consequentemente, para o mundo, como aumento de produtividade e mitigação dos efeitos do clima sobre os cultivos; melhoria das condições socioeconômicas da região onde a agricultura irrigada é praticada, possibilitando o desenvolvimento regional; e possibilita aumento de produção na mesma área, evitando a necessidade de ampliação de fronteiras agrícolas, e, assim, protegendo os biomas e áreas de vegetação natural.

 

“A irrigação contribui não só para o incremento da segurança alimentar da humanidade, pelo fato de ser possível produzir até quatro vezes mais alimentos na mesma área quando usa sistemas irrigados, como também para uma grande discussão global que se chama sustentabilidade”, ressaltou o secretário-adjunto de Inovação, Desenvolvimento Sustentável e Irrigação do Mapa, Cléber Soares.