Soja nos portos do Brasil tem perdas de até R$14/saca na semana, apesar de estabilidade em Chicago
Mercado espera para próximos dias redução de produtividade da soja no relatório do USDA, mas o que dará rumo aos preços será o tamanho dos estoques nos EUA, alerta Palavro
A semana foi bastante negativa para os preços da soja no mercado brasileiro, que cederam até R$ 14,00 por saca nos portos do país, pressionados principalmente pela baixa do dólar frente ao real, como explicou o analista de mercado e diretor da Pátria Agronegócios, Cristiano Palavro, ouvido pela reportagem do site Notícias Agrícolas. O câmbio pesou bastante desde segunda-feira (3), quando somente naquela sessão despencou mais de 4%.
Algumas referências para a safra 2022/23 que, até o final da última semana testavam até R$ 161,00, R$ 162,00, chegaram a operar abaixo dos R$ 150,00, afastando ainda mais os produtores da ponta vendedora para novos negócios. E ainda como explica Palavro, o recuo é preocupante porque há muitos produtores que ainda não começaram sua comercialização e poderão encarar preços consideravelmente menores.
Para a soja disponível a situação não foi diferente. As referências que superavam os R$ 190,00 até o final da semana passada voltaram a testar níveis abaixo dos R$ 180,00 e mesmo o produtor que ainda tem soja nas mãos da safra velha também pisou no freio nestes últimos dias.
Além disso, a semana também foi de demanda mais lenta, com a China fora do mercado em função do feriado da Golden Week, o que ajudou a pesar ainda mais sobre as cotações, inclusive na Bolsa de Chicago.
Por outro lado, depois de dez dias com atividades 'suspensas' pela semana dourada, a nação asiática, ainda segundo Palavro, deverá voltar agressivamente ao mercado já que ainda precisa comprar alguns volumes para garantir um adequado abastecimento, bem como atender à demanda de farelo de soja, já que as margens da suinocultura permanecem fortes e a demanda do setor, portanto, elevada.
Mercado em Chicago
Na Bolsa de Chicago, os futuros da oleaginosa terminaram a última semana em campo positivo, porém, também não tiveram uma grande semana. E a pressão maior, entre os fundamentos, vem do avanço do plantio na América do Sul e das expectativas de uma retomada importante da oferta por aqui.
"Sem problemas de clima teremos, pelo menos, algo entre 145 e 146 milhões de toneladas de soja do Brasil entrando no mercado, algo de 25 a 30 milhões de toneladas a mais do que no ano passado, 7 milhões a mais da Argentina, 5 milhões a mais do Paraguai, e isso diante de uma demanda que não deve crescer mais de 15 milhões", explica Cristiano Palavro.
E com a confirmação destas boas safras, estoques maiores e consequente pressão sobre os preços "sem uma sinalização diferente do mercado".
Para a próxima semana, o mercado se atenta também à chegada do novo boletim mensal de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). O dia 12 de outubro, poderia trazer uma correção para baixo na produtividade norte-americana e, consequentemente, uma safra menor. "Mas cortes de safra poderiam vir acompanhados de cortes nas exportações na demanda", diz Palavro.
Conforme explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, também ouvido pela reportagem do site Notícias Agrícolas, a pressão para a soja vem do avanço da colheita nos Estados Unidos, do plantio no Brasil e da China fora das compras com o feriado da Golden Week acontecendo até o dia 10 de outubro. Assim, o peso sobre a formação dos preços no mercado brasileiro é inevitável,
Segundo os especialistas, os negócios continuam muito lentos, quase sem acontecer, diante dos indicativos que caíram de forma considerável em relação às últimas semanas. E essa lentidão preocupa já que poderia concentrar muito volume a ser vendido e movimentado mais a frente, podendo enfrentar não só preços mais baixos, mas congestionamentos logísticos, com o produtor podendo perder boas janelas de oportunidades.
"O produtor tem que tomar cautela nessa situação. Quem vai precisar vender lá na boca da colheita para fazer dinheiro, para pagar dívidas, pode enfrentar um mercado muito ofertado. Teremos muita gente plantando ao mesmo tempo, colheita concentrada em janeiro, fevereiro, Brasil todo colhendo ao mesmo tempo em uma janela muito curto, não temos armazenagem pra tudo isso (...) Então, automaticamente, o produtor tem que se preparar. É um ano que já tem que começar pra pensar lá já na colheita", explica o consultor.
Além disso, há ainda a possibilidade de que o produtor brasileiro tenha de vender sua soja com o dólar mais baixo do que a referência usada para comprar seus insumos, o que terá de ser compensado por boas produtividades e bons volumes para serem vendidos.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou na última quinta-feira (6) a safra 2022/23 de soja do Brasil em 152,4 milhões de toneladas, com um aumento de área de mais de 3% para 42,89 milhões de hectares.