Cigarrinha volta a ser preocupação nas lavouras de milho no estado do Paraná

Alerta foi feito por um produtor de Marechal Cândido Rondon (PR) e setor produtivo detectou que problema é generalizado no Oeste do estado.

 

Por Notícias Agrícolas


O aumento de casos de cigarrinha do milho está preocupando o setor produtivo no estado do Paraná. A informação foi divulgada recentemente pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), que afirma que o campo está em alerta para o avanço da praga nas lavouras no Oeste do estado. 

 

De acordo com o comunicado, a preocupação teve início após um produtor se surpreender de forma negativa em Marechal Cândido Rondon (PR) quando encontrou muitas folhas avermelhadas ou com raiados finos, sintomas que indicam enfezamento causados por bactérias que se espalham pela cigarrinha do milho. A primeira vez que o produtor Cévio Mengarda observou a anomalia no campo foi no dia 14 de abril. 

 

"Após o feriado de Páscoa, as suspeitas se concretizaram. Em novo monitoramento, ele constatou os prejuízos: as perdas nas lavouras de Mengarda chegaram a 30%. Não se trata de um caso isolado. A cigarrinha se alastrou, com ocorrências diagnosticadas em todo o estado e colocando o setor agropecuário em alerta. Há estimativas de que em algumas áreas a quebra provocada pela praga tenha passado de 50%", afirma a Federação. 

 

Segundo relato do produtor, os danos aparecem de forma muito rápida, entre quatro e cinco dias, além de relatar que o cenário é o mesmo em toda a região oeste do estado, com índice do ataque da cigarrinha por todas as áreas. A diferença está apenas na severidade com que a cigarrinha está atacando cada lavoura. 

 

A FAEP afirma que o avanço da cigarrinha é preocupante e que, entre os dias 9 e 13 de maio,  uma força-tarefa formada por técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), da Embrapa Milho e Sorgo e da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR) percorreram a região Oeste, vistoriando lavouras e coletando amostras. O grupo constatou que os enfezamentos decorrem da infestação do inseto. 

Avanço rápido de uma das principais praga do milho coloca oeste do Paraná em alerta - Foto: FAEP

 

"Os danos mais graves foram registrados nas plantações semeadas precocemente, no início da janela, a partir de 10 de janeiro, e nas lavouras tardias, plantadas entre o fim de fevereiro e o início de março", afirma a publicação. 

 

“Aparentemente, as cigarrinhas que estavam nas áreas de milho verão e na silagem migraram para as primeiras lavouras de milho safrinha. Na principal janela de plantio, como a área plantada era maior, houve uma diluição dos insetos infectados. Quando passou esse período, as cigarrinhas voltaram a se concentrar na área plantada tardiamente”, explica Luciano Viana Costa, pesquisador de fitopatologia da Embrapa Milho e Sorgo.

 

Vale lembrar que o  Paraná responde por 14,8% da produção nacional de milho na safra 2021/22. O cereal é cultivado em uma área próxima de 3 milhões de hectares, considerando-se a primeira e a segunda safras. Com grande importância econômica para o Paraná, o milho é o segundo produto vegetal com maior Valor Bruto de Produção (VBP) e com exportações que ultrapassam os US$ 183 milhões.

 

A praga da cigarrinha é uma das severas da agricultura. A cigarrinha do milho, conforme explica a Federação, é um inseto que se hospeda nos cartuchos e que completa todo seu ciclo de vida nas lavouras do cereal. Após a contaminação, a praga acaba por disseminar doenças, que são chamadas de enfezamentos, causadas por bactérias da classe Mollicutes. 

 

“As doenças entopem os vasos de translocação de nutrientes e quando entra na fase reprodutiva, a planta começa a manifestar os sintomas da contaminação que ocorreu logo após a emergência das plantas. Os sintomas ou as combinações podem variar, mas, de forma geral, além de mudar a coloração das folhas, as plantas não se desenvolvem e têm espigas menores e com menos grãos. Na pior condição, pode ocorrer tombamento”, explica Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.

 

Ela explica ainda que o problema é agravado por duas condições, sendo elas: se reproduzem muito rapidamente e contam com grande capacidade para migração. Segundo a publicação, com condições favoráveis, cada fêmea pode completar seu ciclo de vida em 24 dias, depositando até 611 ovos na sua fase adulta. Com isso, a população desse inseto pode aumentar de forma incisiva, com várias novas gerações em uma única temporada.

 

Outro aspecto é que o sistema de cultivo de milho com duas safras (verão e safrinha) cria o que os especialistas chamam de “ponte verde”, favorecendo que o inseto permaneça no campo. Outro ponto de atenção é o milho tiguera ou voluntário, que se origina a partir de espigas ou grãos deixados para trás na colheita, dando origem a plantas que permanecem na lavoura, hospedando as cigarrinhas. “Sorgo, braquiária e trigo são plantas-abrigo, onde esses insetos podem sobreviver por um período. Mas elas vão migrar para uma área de milho, quando estiver disponível”, aponta a técnica do Sistema FAEP/SENAR-PR.