
Avaliação do farelo de arroz e suas aplicações na aquicultura
O farelo de arroz já é explorado pela indústria de ração animal e neste estudo foram apontados diferentes produtos e aplicações tecnológicas acerca do subproduto
Os pesquisadores Tomaz Soligo de Mello Ayres; Eliana Badiale Furlong; Anelise Christ Ribeiro; Marcelo Borges Tesser do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, Instituto de Oceanografia, Universidade Federal do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, trazem um estido sobre a utilização do farelo de arroz como alimentação animal no contexto da aquicultura.
De acordo com os cientistas, a intensificação dos sistemas aquícolas vem junto da necessidade de matérias primas, principalmente alimentos, e discussões a respeito da sustentabilidade têm ganhado destaque. Neste sentido, o reaproveitamento e de resíduos agroindustriais pode ser uma alternativa para reintegrar subprodutos na cadeia de produção alimentar.


"O farelo de arroz é um subproduto agro-industrial obtido no processamento do arroz e possui características que possibilitam diversas formas de aplicação na aquicultura. Neste estudo foi abordado as etapas que fazem parte do seu beneficiamento até a obtenção da fração farelo. Este processamento inclui a fases como o descasque, o polimento e em determinados casos a estabilização de enzimas e/ou extração da parcela de óleo", explicam os pesquisadores.
Segundo eles, o ingrediente tem duas classificações no que diz respeito a esta fração de gordura, sendo apresentado como farelo de arroz integral e farelo de arroz desengordurado. O estudo teve como objetivo identificar e avaliar a utilização do farelo de arroz no campo da aquicultura, a fim de contribuir futuras pesquisas bem como a aplicação deste insumo no setor.
Para os cientistas envolvidos no estudo, os crescentes sistemas de produção da aquicultura têm demonstrado condição de dependência de matérias primas e insumos alimentícios. Entretanto, há a importância da utilização de ingredientes nutricionalmente adequados, mas que também apresentem características mais sustentáveis de modo a reduzir dependência de insumos como a farinha e o óleo de peixe além de estratégias para favorecer a inclusão de fontes vegetais em dietas de espécies aquáticas, conforme explica o grupo, citando pesquisas prévias que amparam o presente estudo.


A obtenção do farelo de arroz
No setor agroindustrial, a geração de resíduos acaba sendo inevitável, e a produção de alimentos em escala industrial pode implicar na produção de grande quantidade deste subproduto, o que acaba demandando manejo adequado para descarte, sem que ocorra prejuízo ambiental e comprometimento da saúde da população.
De acordo com esta os cientistas da Universidade Federal do Rio Grande, os trabalhos científicos que investigam o uso do farelo de arroz na aquicultura datam da década de 1980 e prosseguem na atualidade, avaliando o ingrediente em quesitos como: digestibilidade e inclusão em formulação de dietas; fertilização de viveiros, e, até mesmo, às tecnologias mais avançadas como fonte de carbono para sistemas de biofloco (BFT).
Após a colheita, de acordo com os cientistas, o grão do arroz pode ser submetido a diferentes etapas de processamento como a limpeza, descasque e polimento e dada estas condições, pode-se obter diferentes insumos como a casca de arroz, grãos quebrados, farelo de arroz e grão polido.
As informações obtidas no estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande permitem incentivar a utilização do farelo de arroz na aquicultura e podem ser conveniente para fábricas de ração e produtores de organismos aquáticos, já que suas propriedades nutricionais possibilitam a aplicação em diversos segmentos da produção de organismos aquáticos, tais como, peixes, crustáceos e até mesmo moluscos.
"Esta aplicação deve considerar disponibilidade local, uma vez que a produção de RB decorre do beneficiamento do arroz branco, contribuindo para maior disponibilidade e menor custo do subproduto. A revisão identificou algumas lacunas na pesquisa com o RB que podem contribuir para melhor aplicação deste produto na aquicultura. Por fim, várias investigações podem ser sugeridas a fim de contribuir com emprego do RB na cadeia produtiva alimentos de ambiente aquático, dentre eles:"
- Compreender sob quais condições é possível reduzir fatores antinutricionais presentes no RB quando utilizado de forma dietética;
- Avaliar possíveis reações adversas da utilização do RB em alimentações de espécies aquáticas;
- Estabelecer o uso do subproduto de forma regional de modo a beneficiar produtores, otimizando transporte, descarte e reaproveitamento do RB de forma local;
- Aperfeiçoar a forma de classificação deste subproduto, no que diz respeito à propriedade de “desengordurado” ou “integral”; • Aprofundar estudos que objetivem a aplicação de tecnologias para melhoria do perfil nutricional do RB tais como a fermentação, a hidrólise ou emprego de enzimas exógenas, dentre outras.