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Na reta final de outubro, plantio da soja em solo brasileiro segue em ritmo mais acelerado do que no ano passado

Até o último dia 28, cerca de 53,34% das áreas reservadas para a cultura da oleaginosa já haviam sido semeadas, contra 52,83% na mesma época do ano passado; índice também é superior à média histórica


Conforme dados divulgados pela agência internacional de notícias Reuters, até sexta-feira, dia 28 de outubro, o plantio dos campos de soja no Brasil da safra 2022/23 já havia sido realizado em cerca de 53,34% das áreas destinadas para a cultura, de acordo com informações da Pátria Agronegócios. 

 

Os números destacados pela consultoria ainda apontam que esta porcentagem é superior ao registrado na mesma época de outubro de 2021, quando 52,83% dos campos haviam sido semeados. Sendo assim, o trabalho dos produtores na semeadura da commodity segue superando a marca da média histórica registrada para este período, que é de 39,81% de área plantada.

 

 

A porcentagem de área plantada no Brasil até dia 28, e contabilizada pela Pátria Agronegócios, avançou frente ao que havia sido registrado na semana anterior, 37,6%. Isso se deve a uma recuperação nas tarefas referentes ao plantio em alguns estados produtores da oleaginosa na segunda quinzena do mês, conforme apontou a consultoria à Reuters.

 

“Estados que sofreram levemente com a queda no ritmo ao início de outubro compensaram na segunda quinzena deste mês”, disse a consultoria em nota enviada ao veículo de comunicação.

 

Entre os estados que estavam com o processo de semeadura mais lento no início do mês, mas aceleraram na segunda quinzena, estão o Paraná, Rondônia e Goiás, segundo a Pátria Agronegócios destacou à Reuters; Mato Grosso mantém os trabalhos em ritmo acelerado, informou a agência de notícias com base nos dados da consultoria agrícola.

 

Especificamente sobre o estado de Mato Grosso, a Reuters destaca as informações divulgadas pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), que apontou na reta final de outubro que cerca de 83,45% da área destinada à soja do estado já havia sido semeada. Esse avanço rápido no plantio da soja permite com que haja espaço para que o milho de segunda safra seja semeado em uma janela com o clima considerado mais favorável ao cereal, após a finalização da colheita da oleaginosa.

 

Até o último dia 28, 53,34% das áreas destinadas para a cultura da soja no Brasil já haviam sido plantados - Foto: CNA

 

Zarc para a soja começa a valer na safra 2023/24

Por falar em plantio da soja, apesar de ainda estarmos em andamento com os trabalhos da safra 2022/23, a próxima safra, 2023/24 passará a ter um “novo” Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a cultura. 

 

Conforme informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no primeiro semestre deste ano, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realizou estudos para elaborar este novo Zarc,  tendo como base a Instrução Normativa SPA/Mapa nº 1, de 21 de junho de 2022, que estabelece o método para classificação do solo em função da sua Água Disponível (AD).

 

O Zarc ajuda a delinear o momento mais propício para iniciar o plantio de culturas no Brasil, dependendo do que será plantado e em qual região, com base em dados climáticos. Estes dados oficiais são coletados e compilados pela Embrapa, considerando séries climatológicas históricas, tipos de solo, comportamento e exigências da espécie plantada, tipos de cultivares e sistemas de produção. “Com base nisso, as classificações de riscos são de 20%, 30% e 40% (estes estratos seguem inalterados)”, lembra a Faep.

 

O atendimento às normas e critérios do Zarc é obrigatório para que o agricultor consiga, por exemplo, acessar financiamentos agropecuários por instituições financeiras, no âmbito do crédito rural e acesso ao Proagro e Proago Mais. Também é mandatório realizar o plantio dentro das datas estabelecidas pelo Zarc quem possui subvenção federal na contratação de seguros agrícolas. Importante ressaltar, segundo a Faep, que algumas seguradoras podem ser mais criteriosas para aceitar contratações, dependendo dos períodos de plantio ou tipo de solo da propriedade do contratante. 

 

Se até o momento a indicação de classe de solos para o Zarc da soja mostra três tipos de solo, com o novo Zoneamento de Risco serão 6 classes de armazenamento hídrico. Os estudos da soja com 6 classes de armazenamento hídrico de solos serão divulgados até dezembro de 2022 no “Painel de Indicação de Riscos”.

 

A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) relembra que antes desta revisão do Zarc da soja, era considerado na classificação dos três tipos de solo apenas a concentração de argila na composição. 

 

“Na nova forma de identificar os tipos de terra, há uma fórmula que envolve a proporção percentual entre argila, silte e areia, correlacionados com a quantidade de água que pode ser armazenada no solo, o chamado índice de Água Disponível (AD). Na prática, a partir de agora, o produtor terá que baixar um aplicativo e/ou uma planilha para identificar a classe do seu solo pelas novas regras. A primeira cultura a adotar os novos parâmetros será a soja na safra 2023/24” detalhou a Faep em seu reporte. 

 

Ainda assim, a federação detalha que a concentração de argila no solo segue como critério de classificação “porque todas as portarias de Zarc utilizam a metodologia atual, válidas até que uma nova seja publicada, o que acontece sempre antes do início da safra, quando houver”. Este Zarc revisado teve, além da participação de especialistas da Embrapa Solos, integrantes do setor produtivo, segundo a Faep.

 

“As atualizações sistemáticas de metodologia iniciaram em 2017, ano em que tivemos uma reunião na sede do Sistema FAEP/SENAR-PR, na qual foram apresentadas as mudanças e os critérios técnicos pela equipe da Embrapa para o Zarc de soja”, detalha a técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ana Paula Kowalski.

 

Desta maneira, apesar de a norma passar a valer apenas no ano que vem, a Faep reitera que é necessário que o produtor precisa estar atualizado em relação às mudanças no Zarc e com suas obrigações, sabendo que o novo método de classes de AD1 a AD6 considera as três frações de solo (argila, silte e areia). 

 

“A nova fórmula que classifica os solos é mais complexa, contemplando melhor as interações que resultam na capacidade de armazenamento de água nos diferentes solos que temos. Esse é um dos parâmetros principais para se determinar o período recomendado de plantio para cada cultura na metodologia do Zarc”, pontua Ana Paula.

 

A Faep entrevistou o coordenador-geral de risco agropecuário no Mapa, Hugo Borges Rodrigues, para explicar com mais detalhes a mudança para a próxima safra de soja. Confira a íntegra da conversa abaixo.

 

“Por que o Mapa mudou a classificação de solos?

O Zarc é uma ferramenta técnico-científica cuja metodologia foi desenvolvida na década de 1990. A nova classificação dos solos no Zarc faz parte de um conjunto de avanços na metodologia e nos parâmetros. A estimativa da capacidade de armazenamento de água no solo é fundamental para os estudos de riscos de produção agrícola em modelos de simulação e planejamento como o Zarc. A avaliação direta do volume de Água Disponível (AD) é bastante onerosa, pois envolve a coleta de amostras indeformadas e avaliações feitas por laboratórios especializados. Essa dificuldade tem levado os pesquisadores a buscarem formas indiretas de estimar a AD do solo. Com a publicação da nova instrução normativa, a classificação foi simplificada para ser estimada em função da composição granulométrica de teores em porcentagem de areia, de silte e de argila. Isso permitirá uma maior abrangência de solos enquadrados.

 

Como se chegou a esse modelo de seis tipos?

A nova metodologia de classificação foi baseada na pesquisa “Predição da água disponível no solo em função da granulometria para uso nas análises de risco no Zoneamento Agrícola de Risco Climático”, da Embrapa. O trabalho foi uma solicitação do Mapa para melhorias na metodologia do Zarc.

 

A partir de quando o novo modo de classificar os solos será adotado?

Os estudos de Zarc são atualizados por cultura em nível nacional. É natural que algumas culturas tenham entre três e cinco anos para serem atualizadas com as novas metodologias. Dessa forma, os estudos de Zarc realizados no formato de três tipos de solos continuam válidos até que um novo estudo seja realizado para cultura. A primeira cultura que passará a ter novo formato, já válido para safra 2023/2024, será a soja, cujos resultados (portarias de Zarc) serão divulgadas em dezembro de 2022. A antecipação da divulgação dos resultados (que já foram validados com os agentes interessados) visa dar maior previsibilidade para adaptação ao novo formato.

 

Na prática, o que o produtor precisa fazer em relação ao que vinha fazendo?

O produtor precisa ter uma análise granulométrica do solo que seja representativa da área de plantio. Na prática não existe mudança, pois para classificar o solo no formato anterior (três tipos de solo) também é necessário conhecer os teores de areia, silte e, principalmente, argila. Dessa forma, as análises já existentes são válidas para classificação dos solos nos dois formatos utilizados pelo Zarc. Cabe destacar que no aplicativo “Zarc Plantio Certo” é possível inserir os teores de areia, silte e argila para classificação dos solos em seis classes de AD e também no site do mapa foi disponibilizada uma calculadora para facilitar a classificação.

 

O novo modelo de classificação traz quais benefícios ao produtor?

O principal é a melhor indicação do risco ao qual o produtor está exposto. Também ocorre uma maior abrangência dos solos brasileiros (mais de 90%), pois na classificação anterior não considerava solos com teores menores que 10% de argila, e com mais de 35% de argila eram enquadrados em apenas uma classe.”