Produção responsável de algodão em fazenda brasileira, com compensação financeira ambiental, é apresentada na COP-27
Programa da Abrapa foi destaque em apresentação na Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
A Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, a COP-27, que aconteceu entre os dias 6 a 18 de novembro, no Egito, reuniu 196 países que assinaram o Acordo de Paris, que estipula metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa. Nos 12 dias de evento, os participantes debateram sobre adaptação climática, mitigação dos gases do efeito estufa, o impacto climático na questão financeira e a colaboração para conter o aquecimento global.
Durante o encontro, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), foi apresentado o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), com exemplo de um case de sucesso. O programa foi destacado enquanto uma das ações que demonstram o compromisso em relação aos conceitos de sustentabilidade ambiental, social e econômica dos produtores rurais brasileiros, conforme diz a associação.
O projeto foi representado por Álvaro Luiz Dilli, diretor de Sustentabilidade da SLC Agrícola, durante o painel sobre Agricultura e Serviços Ambientais, que ocorreu no dia 15 de novembro, no Pavilhão Brasil, em Sharm El Sheikh. A iniciativa faz parte do programa Cotton Brazil, implementado pela Abrapa, com apoio da Apex-Brasil, além da Associação Nacional dos Exportadores (Anea) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Dilli apresentou aspectos sobre a compensação financeira pela conservação de ecossistemas e da biodiversidade, levou à pauta o case da SLC Agrícola, que adota práticas responsáveis de cultivo, com ênfase no algodão certificado. Segundo a Abrapa, ele ainda deu destaque ao engajamento da empresa que mantém contrato de compensação financeira pela manutenção de uma área de 1.358 hectares de vegetação nativa na Fazenda Perdizes, em Mato Grosso. “Essa é a maior área individual e também a primeira localizada no bioma amazônico a aderir ao mecanismo CONSERV, idealizado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e executado em parceria com o EDF (Environmental Defense Fund) e com o Woodwell Climate Research Center”, informou a Abrapa.
Lançado em 2020, o CONSERV é um mecanismo por meio do qual os produtores rurais recebem compensação pela conservação de áreas de vegetação que excedem a reserva exigida pelo Código Florestal. O fato de a SLC Agrícola fazer parte da iniciativa é somado à aprovação da Política de Desmatamento Zero, na qual se tornou formal o comprometimento em não converter áreas com vegetação nativa para o uso agrícola, mesmo as que são elegíveis em determinados processos de licenciamento ambiental.
O diretor de Sustentabilidade da SLC Agrícola falou sobre o projeto ABR, que é realizado em forma de parceria com as empresas estaduais e os produtores, e que já concedeu certificação a 86% da produção do Brasil na safra 2021/22. “O país é o maior fornecedor de algodão com licenciamento BCI, com uma fatia de 42% do mercado global de Better Cotton (BC) e, desde 2013, o programa atua em benchmarking com a BC. O rigoroso protocolo abrange 183 quesitos que vão desde boas práticas agrícolas até garantias de saúde, segurança e bem-estar do trabalhador”, informou a Abrapa.
Na opinião de Júlio Cézar Busato, que é presidente da Abrapa, marcar presença na COP-27 e levar ao conhecimento do público o case da SLC é uma forma de destacar a maneira responsável de produzir o algodão no Brasil. "É um trabalho permanente que fizemos para mostrar ao mundo que produzimos com responsabilidade social, ambiental e econômica e, assim, desmistificamos a imagem do agro nacional", disse Busato. "Isso é possível graças à união de todos, em cada ponta da cadeia."
Ainda conforme a associação, o Brasil figura em segundo lugar no ranking dos países que mais exportam a fibra no mundo, e em quarto lugar entre os maiores produtores de algodão. O produto brasileiro atende à demanda interna e externa, tendo a Ásia como principal destino de exportação.
Estudo aponta destinação para resíduos da produção do algodão, que são utilizados para alimentação de bovinos
Iniciado há dez anos, um estudo com a premissa de encontrar alternativas para a utilização do resíduo do beneficiamento do algodão, traz impactos não só para a cotonicultura, mas também para a pecuária, uma vez que esses detritos ganharam como destinação a alimentação de bovinos. Agora, com a tecnologia resultante das descobertas, há a possibilidade de que materiais residuais de outras culturas também possam ser inseridos na nutrição animal.
Segundo informações divulgadas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, a entidade se juntou a esta iniciativa a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e outras universidades nacionais e internacionais com a intenção de dar novo propósito para esses resíduos.
“Em produções de larga escala, é comum que, ao longo do processo, uma parte da matéria-prima acabe gerando resíduos. Quando não são bem utilizados, esses resíduos ocasionam impactos na natureza. Dessa forma, o grande desafio é encontrar um destino útil para esse material que seria perdido”, informou a Uesb.
A parceria de uma década teve início no Núcleo de Estudo e Pesquisa em Produção Animal da Uneb, com a intenção de encontrar alternativas para a utilização desse material residual na dieta de bovinos. Como parte integrante do trabalho entra então o Laboratório de Nutrição Animal da Uesb, que passou a investigar formas de tratar desses resíduos para que se tornassem possíveis de serem incorporados na dieta dos ruminantes.
“Sem tratamento, os resíduos de algodoeira apresentam elevados teores de compostos químicos que dificultam o processo de fermentação e digestão pelos ruminantes. Por esse motivo, requerem tratamentos físicos, químicos ou biológicos para que se possibilite a utilização racional da grande disponibilidade destes subprodutos”, detalha a Uesb.
Transformar em alimento o que antes era considerado lixo
“É muito mais sustentável utilizar esses resíduos para produzir forragem para a alimentação animal, mas, pela baixa qualidade, é necessário que haja um tratamento desse resíduo”, explica o professor Danilo Gusmão, pesquisador da Uneb, destacando como a utilização do que sobra do beneficiamento da fibra pode ser algo positivo para o meio ambiente.
O docente detalha ainda que os resultados obtidos com a implementação dos resíduos tratados são “animadores” quando se fala em ganho de peso e aumento da produtividade dos animais. “É transformar o lixo em carne e leite. Transformar algo de baixíssima qualidade em produtos nobres para a alimentação humana”, destaca.
O professor Mauro Figueiredo, da Uesb, pontua que “o Brasil se posiciona como maior exportador de carne bovina no mundo. A possibilidade de aumento da produtividade de carne utilizando o confinamento para a fase de engorda contribui para aumentar a eficiência do processo de produção, aumentando a disponibilidade de carne no país”, afirmou.
Mais do que isso, o professor Figueiredo também afirma que abriu-se um leque de possibilidades com a pesquisa, que traz impactos positivos não apenas para o produtor no campo, mas para a sociedade como um todo. “Naturalmente, é uma contribuição para a maior oferta de proteína de origem animal para a sociedade e, também para o país, fazendo com que o Brasil possa incrementar os volumes exportados, produzindo carne com qualidade”, analisou.
Laboratório de Nutrição Animal da Uesb como parte integrante no processo
O reporte da Uesb detalha alguns passos da pesquisa. Inicialmente, os resíduos sem tratamento foram implantados, diretamente, como parte da nutrição animal, e os pesquisadores integrantes do grupo notaram que o baixo valor nutricional dos resíduos gerava impacto sobre o ganho de peso dos bovinos. Desta forma, o grupo de trabalho buscou encontrar outras formas de ampliar a quantidade de nutrientes nos resíduos.
A pesquisa se dividiu em três etapas: testes em laboratório, testes biológicos e, por fim, testes de desempenho com animais.
“Na fase laboratorial, os resíduos eram submetidos a um tratamento químico, feito com a utilização de ureia e hidróxido de sódio. Passada essa etapa, o tratamento biológico foi realizado no Laboratório de Nutrição Animal da Uesb, por meio do acréscimo de enzimas fibrolíticas. Segundo Figueiredo, o uso das enzimas proporciona um melhor aproveitamento dos resíduos na alimentação dos ruminantes, aumentando a conversão alimentar e o ganho de peso quando comparados com o uso sem tratamento”, detalhou o relatório da Universidade.
Mais do que isso, a tecnologia desenvolvida pelo trabalho científico e usada no tratamento dos resíduos de algodoeira também pode ser implementada nos restos de outras culturas, que, posteriormente, também têm a possibilidade de se tornarem elementos inseridos na alimentação de ovinos e caprinos.
Para a obtenção de resultados sólidos na pesquisa, há o intercâmbio científico, com a parceria entre a Uesb e a Uneb por meio da realização de estágios para estudantes da Uneb no Laboratório de Nutrição Animal da Uesb. Desta maneira, foi possível realizar experimentos com animais. “Além disso, existe a colaboração em teses de doutorado, por meio do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia e publicação de artigos científicos”, finaliza o relatório da Uesb.