Agricultura conservacionista no Oeste do Paraná se desenvolve com parceria entre setor público e privado

Com as práticas corretas, de acordo com a Embrapa, economia com fertilizantes pode chegar a 40% no oeste do Paraná.

Economia com fertilizantes na agricultura conservacionista pode chegar a 40% - Foto: Joseani Antunes/Embrapa

 

 

As perdas de nutrientes são estimadas em 242 milhões de dólares por ano pela baixa adoção de práticas da agricultura conservacionista no Paraná. Segundo dados trazidos pela Embrapa, o plantio direto é utilizado em 80% das propriedades produtoras de grãos no estado.

 

A adoção de terraços estrategicamente projetados é uma das alternativas que tem sido divulgada pela instituição como alternativa para uma agricultura mais sustentável.

 

A parceria entre a Embrapa e o Sistema OCB contou com a atualização da assistência técnica em agricultura conservacionista e fertilidade do solo, com resultados que estão chegando aos produtores rurais em todo o país. No Paraná, um dos exemplos está na região Oeste do estado, com a promoção da agricultura conservacionista através da atuação do departamento técnico da cooperativa C.Vale.

 

Uma das tecnologias difundidas desde a década de 1980  foi a construção de terraços em nível para conter o excedente de água das chuvas que não infiltravam no solo. Em Palotina, no Paraná, o produtor Jonas Vendruscolo construiu 24 terraços nos 400 hectares de lavoura ainda nos anos 80, mas a alternativa tem sido a otimização dessas ferramentas. 

 

“Sempre achei que estava fazendo tudo certo, com curvas, terraços e rotação de culturas em benefício do solo. Fiquei surpreso quando o pessoal da C.Vale chegou e disse pra tirar todos os terraços, que estavam ali há mais de 30 anos”, lembra Jonas.

 

Hoje, são apenas 7 terraços na propriedade que foram reposicionados e redimensionados estrategicamente para melhor adequação às operações agrícolas e aprimoramento da contenção de enxurradas. “Com as máquinas cada vez maiores, precisamos reduzir o trânsito na lavoura, otimizando as operações com menos entradas nas áreas e maior capacidade e agilidade nos equipamentos”, diz o produtor.

Vendruscolo pontua que, logo que implantados, os novos terraços suportaram chuvas de 130 mm em uma única noite, fato que só se tornou possível com a ajuda da boa cobertura do solo deixada pela palhada na rotação de culturas como milho, trigo e aveia. “Não adianta ter terraços e não ter palha no solo. É preciso reduzir o volume e a velocidade da enxurrada e não apenas tentar conter o que a chuva levou”, afirma.

As práticas conservacionistas de agricultura foram determinantes para manter a família Dazzi na atividade. Na década de 1970, a produção de grãos começou com uso intenso do arado e da grade e a erosão rapidamente tomou conta da fazenda, também em Palotina, no Paraná. 

Com o manejo correto do solo, a família conseguiu triplicar a área da fazenda em menos de uma década, chegando a 1200 hectares nos municípios de Palotina e Iporã.  “Sofríamos com perdas na fertilidade do solo, grandes áreas com sulcos abertos pela erosão e consequente queda das produtividades. Foi preciso rever as ações e buscar ajuda na assistência técnica para continuar produzindo”, afirma o produtor Adir Dazzi. 

Divulgação sobre terraços em outras regiões

Segundo estudos da Embrapa Trigo, os terraços previnem perdas de solo, água, corretivos, nutrientes, fertilizantes, restos culturais e matéria orgânica no solo que acabam sendo levados pela erosão. 

“A economia com fertilizantes pode chegar a 40%, além de preservar os atributos químicos e físicos do solo que impactam diretamente na produtividade de grãos”, alerta o pesquisador José Eloir Denardin.

Denardin  destaca ainda a importância de conter o escoamento da chuva nas lavouras visando à preservação dos recursos hídricos. “Podemos rapidamente identificar como está o manejo de uma lavoura apenas observando a cor da água do rio mais próximo num dia chuvoso. Além da turbidez da água suja com o solo, análises químicas certamente vão mostrar a contaminação com resíduos de fertilizantes e defensivos. Ou seja, a erosão implica tanto em impactos econômicos quanto ambientais na produção agrícola”, afirmou.

O uso de terraços ainda tem baixa adoção no Paraná, apesar das vantagens, conforme informações da Embrapa. Segundo o pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR/IAPAR), Tiago Telles, vários fatores podem explicar a resistência dos produtores à construção desses terraços agrícolas em suas propriedades.

“É difícil isolar qual fator é o mais impactante. Entre os motivos apresentados estão o uso de máquinas agrícolas cada vez maiores e o cultivo na direção do declive, buscando reduzir o tempo de operação e o consumo de combustível” pontua.

Outro fator que pode explicar a falta de uso ou mesmo a retirada dos terraços visa ampliar a área de cultivo. “A condição econômica da propriedade pode superar as necessidades topográficas durante a tomada de decisão quanto ao uso da terra. Ainda assim, verificamos que a probabilidade de uso dos terraços é 18% maior para os produtores cujas fazendas estão em declive e os terraços são 24% mais frequentes quando os produtores avaliam que seus solos não são férteis”, explica Telles.