Estudos mostram que é possível combater doenças com redução do uso de água e de aplicações na laranja
Mesmo com elevado número de pragas e doenças no cinturão citrícola, estudo mostrou expressiva redução no uso de água, o que tornou a produção mais sustentável
O produtor brasileiro, independente da cultura, sempre está se desafiando quando o assunto é aumentar a produtividade das lavouras, diminuir a incidência de doenças e a busca pela sustentabilidade, tão demandada pelos consumidores. A pesquisa avançada e o uso correto das tecnologias disponíveis mostram que é possível avançar no campo de forma sustentável e ainda assim driblar as dificuldades enfrentadas ao assumir uma empresa de "céu aberto".
Para a citricultura, o trabalho para combater as principais doenças nos pomares resultou também em uma ação mais sustentável. De acordo com a Fundecitrus, mesmo com o elevado número de pragas e doenças nas principais áreas de produção foi observado uma redução no uso de água nos tratos culturais. "Produtividade, qualidade e valor atraente não são o bastante para manter a competitividade. É preciso atender à demanda do mercado, que está cada vez mais atrelada ao conceito de ESG", afirma a Fundecitrus.
A iniciativa na redução do uso de água começou a ser colocada em prática em 2000, em uma parceria da entidade, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) - ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo (SAA). Com a parceria, foi possível aperfeiçoar os aspectos relacionados à tecnologia de aplicação, distribuição do ar gerado pela turbina, tamanho das gotas e também a velocidade do deslocamento com diferentes marcas e modelos de equipamentos.
Segundo o pesquisador do IAC, Hamilton Ramos, os resultados mostraram que a citricultura saiu de volumes de uso de água de 10 a 12 mil litros por hectare (observados nas décadas de 1970, 80 e 90) para 2 a 4 mil. "Antes a densidade dos pomares era bem menor (média de 332 plantas por hectare em 1979). Só o que a citricultura paulista economiza em função desse trabalho seria suficiente para para alimentar uma cidade de 500 mil habitantes ao longo do ano", afirma o pesquisador.
Além disso, os resultados mostram que a evolução produzida pela tecnologia de aplicação abriu espaço para compatibilidade entre produtividade e sustentabilidade, mostrando assim um novo modelo cultural, e trazendo ainda mais benefício ao produtor. A publicação destaca que os resultados geram economia não só de água, mas também de defensivos agrícolas, mão de obra e combustível.
Quando o assunto é combate à doença, os números também são positivos. Segundo a Fundecitrus, as novas tecnologias possibilitam que o greening - principal doença da citricultura - seja controlado com até 70% menos de água e defensivos agrícolas do que o comparado há dez anos.
Quando falamos em podridão floral, as pesquisas foram ainda mais significativas e mostram que é possível reduzir a porcentagem de flores doentes e queda prematura de frutos, principal característica da doença, com volumes entre 20 e 30 mL/m³. Os números representam 60% de redução na quantidade de água aplicada em relação ao que era utilizado no passado.
Em relação ao controle do ácaro da leprose, o pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi diz que acaricidas aplicados em volumes de calda de 100 a 150 mL/m3 de copa apresentam eficiência de controle similar aos volumes anteriormente utilizados, de 200 a 400 mL/m3. “Tem-se conseguido bom controle em pomares adultos com volumes entre 2 a 3 mil litros por hectare ante o volume de 8 a 10 mil litros por hectare utilizado no início dos anos 2000”, complementa.
Já as pesquisas focadas na doença de cancro apontam que, em aplicações realizadas a cada 14 ou 21 dias, podem ser utilizadas doses de até 0,7 a 1 kg de cobre metálico por hectare. "Em relação ao volume de calda, a variação pode ser de 40 a 70 mL/m³, sendo o maior volume indicado para manejo conjunto com pinta preta. Esses ajustes permitiram uma redução média do volume de calda em pomares adultos de 3 a 5 mil L/ha, praticados anteriormente, para 1 a 2 mil L/ha", afirma o estudo.