Agricultura sustentável: Pesquisa da Embrapa mostra que manejo adequado aumenta sequestro de carbono em áreas irrigadas
Plantio direto está entre as práticas que ajudam a mitigar impactos no meio ambiente.
As práticas ESG são uma realidade para o agronegócio. Falar de sustentabilidade em todos os elos da cadeia tem sido pauta constante no setor e diante deste cenário as pesquisas avançam cada vez mais com foco em trazer respostas eficientes para quem está no campo.
Neste sentido, a Embrapa Meio Ambiente em parceria com a Embrapa Solos, divulgou recentemente um estudo que comprovou que o manejo adequado aumenta de fato o sequestro de carbono em áreas irrigadas. Entre os manejos citados na pesquisa, a Embrapa destacou o sistema de plantio direto em áreas com tecnologia de irrigação aumenta de forma significativa o estoque de carbono no solo.
"Reduzindo reduzindo a liberação do gás na atmosfera. A conclusão é resultado de comparações e avaliações dos atributos físicos e hídricos de amostras de solos de duas bacias de primeira ordem (principal fluxo de água a partir da nascente) cultivadas com SPD sob irrigação por pivô central", afirma a publicação.
A pesquisa foi conduzida por Heloisa Filizola, Alfredo Luiz, Aline Maia e Luís Carlos Hernani, da Embrapa, foi publicado na Revista de Estudos Ambientais, que destacou também que o estoque de carbono do solo (ESC), um dos principais indicadores-chave para avaliação eficiente de práticas agrícolas.
“O aumento da demanda por alimentos, associado à escassez de áreas para expansão da agricultura, torna cada vez mais necessária a realização de estudos relacionados à conservação do solo e à redução do carbono atmosférico” declara Filizola.
A Embrapa explica que os locais avaliados mostraram Índice de qualidade Participativo do Plantio Direto (IQP), que trata-se da metodologia que tem como foco avaliar a qualidade do sistema produtivo com base em conjunto de indicadores "relacionam eficiência, rentabilidade e conservação ambiental – e condições físico-hídricas similares. Nas partes onde o manejo foi mais bem feito, houve maior retenção de água e cerca de 50% menos dispersão de argila", explica.
Os pesquisadores explicam que a prática de manejos como Plantio Direto, por exemplo, ajuda na preservação da qualidade física dos solos, já que a diversificação e a consorciação de espécies incrementam a quantidade e a distribuição de raízes. "Além disso, a superfície do solo permanece coberta com plantas em desenvolvimento ou com resíduos da colheita, moderando a evaporação e minimizando as perdas por erosão", afirma.
Os dados oficiais mostram que a pesquisa Embrapa fez o comparativo dos atributos físicos de amostras de solos em duas áreas irrigadas com Sistema de Plantio Direto. "O solo é o maior reservatório de carbono na natureza e, por isso, o estudo de seus atributos físicos é crucial para conhecer e mitigar mudanças climáticas", afirma.
O sequestro de carbono é uma das soluções mais importantes para ajudar a mitigar as mudanças climáticas, que diariamente também estão em pauta no agronegócio . A Embrapa explica que o estoque de carbono tem potencial para compensar as emissões antrópicas, o que automaticamente beneficia a produtividade agrícola e também reduz o aumento na temperatura.
"Para que ocorra sequestro de carbono no solo, os sistemas de manejo devem procurar manter elevadas quantidades de biomassa, causar o mínimo de distúrbio na estrutura, além de promover a conservação de solo e da água. Essas práticas também incrementam a atividade e a diversidade da fauna edáfica – expressiva parcela de organismos que habitam o solo –, fortalecendo os mecanismos da ciclagem de elementos", acrescenta.
É importante entender que a manutenção de matéria orgânica no solo naturalmente influencia a floculação, diminuindo assim a remoção da argila na área por formação de pontes entre as partículas ou favorecendo a união entre elas e aumentando também a estabilidade estrutural dos solos, principalmente os eletropositivos.
"Após a morte e decomposição do sistema radicular, permanecem os canalículos ou bioporos, que, associados aos orifícios construídos pela movimentação de meso e microrganismos no solo, ampliam na drenagem e levam ao aumento da aeração e da infiltração de água no solo. Os sistemas de cultivo exercem grande influência na qualidade física dos solos, em especial no tamanho dos poros e, por consequência, na sua estrutura", explica o estudo.
Mudança do Clima também foi outra megatendência apontada pela Embrapa. Segundo o estudo, a possibilidade do aumento da temperatura para os próximos anos ao patamar de 1,5 graus celsius, conforme considerado pelo ODS 13 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável), abre a perspectiva para a necessidade de investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias associadas a sistemas de produção mais resilientes à mudança do clima.
Para ver as oito megatendências citadas pela Embrapa clique aqui
Plantio direto
A entidade explica ainda que o manejo de plantio direto ainda é considerado a forma mais eficaz e conservacionista da agricultura moderna para utilização sustentável de sistemas de produção agropecuária. "Fundamenta-se na diversificação de espécies, via rotação e consorciação de culturas, com ausência ou mínimo revolvimento do solo e cobertura do solo com palhada. É essencial para manter as características físicas, químicas e biológicas, garantindo a sustentabilidade do solo", explica.
A grande diferença dos outros sistemas, no plantio direto o produtor adota práticas agrícolas integradas para plantio sem o preparo do solo por tempo indeterminado.
"Os sistemas de produção conduzidos em plantio direto demandam menos infraestrutura e força de trabalho humano, consomem menos energia fóssil, reduzem a erosão, exigem menores doses de corretivos e fertilizantes e favorecem o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas. Por isso, ao mesmo tempo em que propiciam a melhoria da qualidade de solo, água e ar, aumentam a renda gerada pela agropecuária", explica.
Sequestro de carbono
A publicação da Embrapa destaca que é importante que o setor produtivo não se esqueça que existe um consenso científico de que os ecossistemas terrestres têm grande importância no ciclo do carbono e de que o solo é tido como seu maior reservatório.
Filizola, acrescenta que os estoques de carbono no solo são indicadores-chave na prestação de serviços ambientais promovidos por boas práticas agrícolas e isso se explica pela forte correlação entre esse elemento e os atributos químicos, físicos e biológicos, servindo, portanto, como um avaliador de sustentabilidade.
Veja as explicações da Embrapa:
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o solo armazena aproximadamente quatro vezes mais carbono que a biomassa vegetal e três vezes mais que a atmosfera, tendo assim grande importância no ciclo biogeoquímico do carbono. A importância da manutenção do carbono no solo ultrapassa a de indicador-chave para a determinação da qualidade do solo, pois, se liberado, contribuirá para o aumento do efeito estufa.
As alterações no uso do solo encontram-se entre as principais fontes de emissão de carbono antropogênico para a atmosfera. Quando o solo é cultivado e manejado ocorrem alterações no efluxo e influxo de CO2 na interface solo-atmosfera, em especial mediante as operações de aração e gradagem, já que essas levam à maior oxidação da matéria orgânica quando em contato com o ar. Essas emissões de carbono também ocorrem por meio da alteração dos regimes de água, da erosão e das queimadas.
No início deste ano, a Embrapa divulgou as megatendências para o setor nos próximos 20 anos. Entre os destaques, a entidade destaca que a principal delas é a produção sustentável. “Menor pegada de carbono, conservação da água, manutenção dos nutrientes do solo, uso controlado de antimicrobianos e defensivos, valorização dos serviços agro ambientais, redução de perdas e desperdícios e condições adequadas de emprego e renda no campo”, são as principais exigências trazidas nesta mega tendência, explica o presidente da Embrapa, Celso Moretti. “Sustentabilidade será uma premissa”, complementa.
Além das questões como pegada de carbono, a Embrapa acrescentou que é importante que o Brasil adote a rastreabilidade em toda cadeia, valorizando assim os produtos orgânicos, atender as exigências e padrões de bem-estar animal e também avançar no com o crescimento na indústria de bioinsumos.