Brasil vai ser autossuficiente com trigo sem precisar da cultivar transgênica, com estimativa de bater meta em 10 anos
Consultoria aponta ainda que Rio Grande do Sul deve ter maior área plantada desde 1979, apesar do alto custo de produção.
O avanço da semeadura do trigo no Brasil tem sido pauta entre as lideranças do setor produtivo no país. Recentemente, em informação divulgada pela agência de notícias Reuters, Celso Moretti, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) destacou que a meta é que o Brasil possa produzir o que consome dentro de 10 anos, sem considerar o uso de cultivos transgênicos.
A informação foi divulgada durante um evento online em São Paulo e aconteceu justamente no período em que a Embrapa está testando o cultivo de uma variedade do trigo geneticamente modificada, que tem como principal característica ser mais resistente à seca. O experimento ainda está em fase inicial, sem resultados significativos até então do produto que está sendo testado no Cerrado.
Além da expansão no Cerrado, Moretti destacou que o plantio de uma segunda safra do cereal no inverno do Rio Grande do Sul deverão ser os impulsionadores da produção prevista para os próximos anos.
Os dados oficiais mostram que o país tem demanda entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas de trigo por ano. "Nesta temporada, a expansão significativa da área e a expectativa de maior produtividade ajudarão o Brasil a produzir um recorde estimado em 9 milhões de toneladas de trigo, segundo previsões do governo", destacou a Reuters.
Consultoria estima produção em 10,42 mi de toneladas em 2022
A estimativa mais recente da Safras & Mercado aposta na produção brasileira de trigo alcançando 10,42 milhões de toneladas em 2022. O volume é 34,5% maior comparado com o ciclo anterior.
Com relação à área plantada, a consultoria agrícola afirma que o trigo deve totalizar 3,18 milhões de hectares, aumento de 16,6% em relação ao ano de 2021. Se confirmada, trata-se da maior área já cultivada no país desde 1990 - último ano em que o mercado era regulamentado pelo governo.
O analista de mercado Élcio Bento afirma que o clima, até o momento, não foi um problema para o produtor de trigo no ciclo atual.
“Com o plantio se encaminhando para o final, o clima tem sido muito favorável. As lavouras gaúchas chegaram a ter os trabalhos de plantio atrasados pelo excesso de chuva. Apesar disso, os produtores aproveitaram as janelas de tempo seco e devem concluir os trabalhos dentro do período ótimo. No Paraná as condições são perfeitas até o momento e as lavouras estão em excelentes condições”, disse.
O setor, no entanto, fica em alerta para eventuais geadas na fase de floração ou de enchimento de grãos, assim como risco de chuva durante a colheita. “Por ser uma cultura altamente sensível a essas intempéries do clima, é impossível cravar que esse potencial será alcançado”, afirma. Porém, Bento destaca que os anos sob influência do La Niña costumam trazer bons resultados para a semeadura do trigo.
O analista acrescenta ainda que a área de cultivo só não será maior porque no estado do Paraná a soja foi colhida mais cedo e com quebra expressiva na produção, o que acabou possibilitando o plantio antecipado do milho safrinha.
Neste sentido, os dados da Safras mostraram que a área no estado do Paraná que no primeiro levantamento de intenção de plantio era de 1,650 milhão de hectares, deve fechar em 1,150 milhão de hectares. Em relação ao ano passado ela apresenta uma queda de 5%.
Já no Rio Grande do Sul, a área deve ser confirmada em 1,520 milhões de hectares, avanço de 32% em relação ao ciclo anterior e também a maior área desde 1979. Nos demais seis estados e no Distrito Federal a área total plantada ficará em 510 mil hectares, o que corresponde a um avanço de 38,6% em relação ao ano anterior.