Como fazer uma colheita de trigo eficiente
O agricultor deve ficar atento a critérios como o nível de umidade, a secagem dos grãos e a regulagem das máquinas usadas durante o processo.
Por conecta
Tão importante quanto o processo de plantio, o momento da colheita do trigo merece atenção redobrada na lavoura. Em todo o mundo, o trigo é o grão que ocupa a maior área de cultivo, tendo chegado a 219 milhões de hectares plantados e 760 milhões de toneladas produzidas em 2020, segundo dados da Food and Agriculture Organization of the United Nations.
O Brasil produz cerca de 50% de todo o trigo consumido em território nacional, o equivalente a mais de 12 milhões de toneladas em 2020, de acordo com um levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
No Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste, o período de colheita do trigo acontece no inverno. Já na região Sul, ocorre durante a primavera.
O cultivo de trigo no Brasil
Como metade do trigo consumido no Brasil é produzido nacionalmente, o restante dos grãos precisa ser importado do exterior. O principal país responsável por essa operação é a Argentina, que tem uma cultura agrícola forte, que abastece países vizinhos com seus grãos.
Por ser uma planta que se desenvolve melhor em climas mais frios, a produção de trigo ainda se concentra no Sul e Sudeste, que têm climas mais amenos, comparados às demais regiões do Brasil.
O processo de cultivo do grão no país pode durar de 100 a 170 dias, dependendo das condições do solo e do clima. Após cerca de 120 dias do plantio, o trigo já costuma apresentar condições de colheita, com a planta apresentando um tom amarelado, espigas com peso e grãos mais duros.
Zoneamento Agrícola de Risco Climático: como isso afeta a colheita do trigo?
O Brasil conta com condições climáticas diversas, que variam de região para região. Antes de implementar uma cultura na sua lavoura, é fundamental verificar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), considerando nessa equação a localidade e o que será plantado.
O ZARC é um documento desenvolvido e constantemente atualizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que acompanha de perto as condições climáticas do Brasil e indica os melhores períodos do ano para o cultivo de determinadas culturas.
Para o cultivo do trigo, é imprescindível consultar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático de sua região. Esse procedimento é necessário porque fatores como temperatura, chuva e umidade influenciam o padrão do ciclo de produção.
Para que a plantação são seja negativamente impactada, verifique as determinações do ZARC para ficar por dentro das previsões do clima. Para facilitar a consulta, foi desenvolvido o aplicativo ZARC – Plantio Certo.
O app tem o objetivo de tornar mais acessível e fácil a consulta dos estudos de risco climático. Na plataforma, produtores e interessados consultam as janelas de plantio, em níveis de risco, a partir da seleção de variáveis como município, cultura, tipo de solo e ciclo de cultivar, como informa o portal oficial do governo federal.
Desenvolvido pela Embrapa em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o aplicativo é disponibilizado gratuitamente.
Quais são as fases de cultivo do trigo?
O trigo tem cinco fases de cultivo. Confira abaixo quais são elas:
Plântula
Essa fase começa no momento da germinação da semente, que ocorre de 5 a 7 dias após a semeadura, e do aparecimento das primeiras folhas verdes. O período leva de 12 a 16 dias.
Perfilhamento
É quando surgem os primeiros perfilhos, que são os primeiros ramos laterais do trigo. A essa altura, a planta já está mais desenvolvida. A fase costuma durar de 15 a 17 dias, no total.
Alongamento
O caule da planta aparece, bem como a folha-bandeira, conhecida como a última da planta. Durante o processo de crescimento, ocorre também o emborrachamento, quando a bainha foliar é engrossada, finalizando o período vegetativo. A duração aproximada desta fase é de 15 a 18 dias.
Espigamento
Ocorre após o desenvolvimento da espiga, sua floração e frutificação. Neste momento, os grãos também aparecem, e a fase dura entre 12 e 16 dias.
Tipos de colheita do trigo
É reconhecida pelo enchimento dos grãos, com a presença de folhas secas e a secagem da espiga de trigo. É a etapa mais longa, podendo levar de 30 a 40 dias.
Para realizar um bom cultivo do trigo, é preciso conhecer os tipos de colheita e escolher o que mais se adequa à sua realidade.
É válido ressaltar que não existe um método superior, mas é importante saber identificar as características da cultura e da lavoura, combinando esses dois fatores na hora de escolher o mecanismo utilizado.
Manual
É feita de maneira braçal pelo trabalhador rural, que é o responsável por colher e retirar os grãos de trigo com instrumentos simples, como a foice. Todo o processo é desempenhado sem o auxílio de um maquinário.
Apesar de ser trabalhoso e cansativo, possibilita uma maior preservação do solo e é ecologicamente mais sustentável, pois degrada menos o meio ambiente.
Mecanizada
Realizada com o apoio de máquinas colheitadeiras que retiram e preparam os grãos para o ensacamento e armazenamento. Esses equipamentos proporcionam uma cobertura maior da lavoura, e, aliados a outras tecnologias, otimizam o trabalho, diminuindo o tempo gasto durante a colheita e o desperdício de grãos.
Costuma ser indicada para lavouras maiores, em que o trabalho braçal poderia não dar vazão. Também é uma forma de garantir mais segurança para os trabalhadores rurais, que não entram em contato com os produtos químicos usados na plantação.
Desafios para a plantação de trigo
Condições meteorológicas desfavoráveis e pragas são os principais fatores que podem prejudicar uma colheita produtiva de trigo. Para evitar o surgimento desses problemas, é essencial acompanhar todos os processos do cultivo, investindo em ações preventivas, como a aplicação de produtos defensivos e o acompanhamento dos estudos de Zoneamento Agrícola de Risco Climático.
As máquinas usadas na colheita, quando mal reguladas, também podem atrapalhar. Portanto, é importante inspecionar e ajustar o maquinário seguindo as necessidades da plantação. Alguns itens que devem ser revistos são o espaçamento entre brocas, altura da plataforma de corte e a velocidade do deslocamento.
O momento de separação e limpeza dos grãos de trigo também merece atenção e ajustes especiais. O saco-palha não deve estar sobrecarregado, e funções como abertura das peneiras e velocidade de rotação do ventilador devem ser consideradas para evitar problemas futuros.
Guia prático para uma boa colheita de trigo
Um pequeno erro durante a colheita pode comprometer uma parte considerável do trabalhado. Por isso, todo cuidado é pouco. Com as dicas abaixo, você garante uma colheita de sucesso para a plantação e melhora o desempenho na lavoura:
Regulagem
Como explicado anteriormente, um maquinário desregulado pode atrapalhar todo o trabalho realizado durante meses. Com o uso contínuo, é natural que mesmo as melhores máquinas fiquem desreguladas. Antes de usá-las, realize uma inspeção detalhada.
Umidade
Outro cuidado que não dá para abrir mão é com a umidade do grão. De acordo com recomendações da Embrapa, o trigo deve ser colhido quando os grãos estiverem com 13% de umidade.
Quando a colheita precisar ser feita antes de atingir esse percentual, por qualquer que seja o motivo, é necessário secar os grãos antes de fazer a armazenagem.
Desenvolvimento
Para garantir uma plantação saudável, acompanhar o desenvolvimento da cultura é fundamental. Estar ciente das possíveis variações climáticas, pragas que podem surgir, problemas com os grãos, entre outras questões, são alguns fatores que devem estar no campo de observação do produtor rural.
Secagem
Quando a colheita é realizada com o percentual de umidade superior a 13%, deve-se fazer a secagem para o grão não se degradar durante o processo de armazenamento.
O processo consiste em diminuir o teor de umidade para garantir o armazenamento do grão por mais tempo. A secagem pode ser feita com ar aquecido ou ar natural.
A secagem ao ar livre é mais em conta e não apresenta riscos de danos pelas temperaturas elevadas, mas pode atrapalhar o processo, caso demore mais que o esperado, a ponto de a umidade prejudicar os grãos.
Já a secagem com ar quente tende a ser mais rápida, porém não deve ultrapassar os 60ºC, para não trazer riscos de danos aos grãos pela alta temperatura.
Armazenamento
O trigo precisa ser guardado seco e em temperaturas abaixo de 18ºC, monitorados por termopares, que são sensores de temperatura simples. Esses cuidados são essenciais para evitar que os grãos se deteriorem mais rapidamente, como acontece quando eles armazenados no calor e na umidade.
Condições desfavoráveis podem expor os grãos à oxidação, fungos e insetos. Com um armazenamento adequado do trigo, aumentam as chances de garantir uma colheita eficiente e que apresente bons resultados.