Para driblar crise hídrica e elétrica, Unicamp propõe sistema híbrido para melhor aproveitamento da energia solar
Avicultores do estado de Santa Catarina se destacam na COP com projeto de energia solar


A irregularidade das chuvas nos dois últimos anos assustou os produtores rurais das mais diversas culturas no Brasil. Em 2020, a condição de seca foi agravada com a atuação do fenômeno La Niña e os impactos são sentidos até hoje no campo. A crise hídrica é uma realidade, sendo considerada a pior dos últimos 90 anos no Brasil, confirmando as características clássicas do evento climático. O Centro-Sul do país foi a região que mais sentiu os impactos neste período.
Além de afetar a produtividade dos grãos, laranja, café, cana-de-açúcar, entre outros, o problema levantou a necessidade do setor encontrar soluções e mitigar os riscos, além de buscar por ações mais baratas no campo.
Com a falta de água, a energia elétrica subiu substancialmente no último ano. E todos os setores de pesquisas passaram a buscar por alternativas para as cidades e também para o campo. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por exemplo, publicou em novembro um estudo indicando que um sistema híbrido propõe um melhor aproveitamento da energia solar - apontado como uma alternativa para a agricultura.
De acordo com a Unicamp, o professor Newton Frateschi e o pesquisador Arthur Vieira de Oliveira sugerem o melhor aproveitamento da energia fotovoltaica por meio de um dispositivo integrado, com especial aplicação em indústrias. Ele possibilita o aquecimento de fluido e a geração fotovoltaica com aumento de eficiência de cada elemento do sistema, de forma complementar e inovadora.
“O principal ponto de partida para essa patente é o gasto excessivo de eletricidade que se emprega no Brasil para aquecimento de água”, avalia o professor. “Da forma como ocorre hoje, utiliza-se a mesma fonte de energia capaz de sustentar a atividade de um computador, ou de processos complexos e sofisticados, para a tarefa mais trivial possível do uso de eletricidade que é o aquecimento de água. A ideia é ter um sistema que gere eletricidade por conversão fotovoltaica acoplada a um sistema de aquecimento direto de água”, descreve.
A publicação explica ainda que grande parte da energia solar que incide nas células fotovoltaicas não é aproveitada na conversão, o que acaba gerando desperdício. Na nova proposta, o arranjo de placas fotovoltaicas é tal que essa energia refletida é levada a incidir diretamente sobre sistemas de aquecimento de água, promovendo, simultaneamente, geração de energia elétrica e aquecimento.
"Mais ainda, como antes do aquecimento a água passa sob as células fotovoltaicas, essas se tornam mais eficientes por serem resfriadas, particularmente quando o fluxo de água necessário é alto, tal como ocorre em vários setores da indústria e mesmo em hotéis e outras grandes instalações", afirma a universidade.
Para acessar o estudo completo, clique aqui.
Com projeto de energia solar, Santa Catarina se destaca na COP 26
Não é só a pesquisa do Brasil que busca por soluções. Dois irmãos de Timbé do Sul, em Santa Catarina, buscavam reduzir o custo de produção do aviário quando encontraram o projeto de energia solar. O resultado com a captação de energia solar fotovoltaica foi tão positivo que os agricultores Luiz Pizzoni e Carlos Cesar Pizzoni se tornaram referência de sustentabilidade na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP 26).
De acordo com informações publicadas pela Epagri, o projeto considerado inovador foi elaborado por Filipe Kinalski, extensionista rural, no ano passado, e colocado em prática neste ano. A redução na conta de energia chama atenção. Antes ficava em torno de R$ 4 mil, caindo para R$ 400,00 atualmente.
“Estamos muito satisfeitos com essa economia e indicamos o sistema para todos os agricultores. Vale muito a pena também para quem tem uma propriedade pequena”, afirma Luiz Pizzoni ao Governo de Santa Catarina.
Para implementar a energia solar na fazenda, o investimento dos irmãos foi de R$ 320 mil. O valor foi acessado através da linha de crédito Pronaf Bioeconomia, com juros anuais de 3% ao ano. Os agricultores também receberam subvenção do programa Menos Juros, da Secretaria da Agricultura, da Pesca e de Desenvolvimento Rural de Santa Catarina, de 2,5% dos juros limitados a R$ 100 mil.