Mesmo em condições de estresse salino, bactérias funcionais garantem o crescimento do tomate

Das 154 cepas de bacilos inicialmente estudadas, quatro foram selecionadas e apresentaram aumento na altura, peso da raiz e parte aérea, teor de clorofila e diâmetro do caule

Panorama do controle do estresse do sal (foto acima) - plantas que não foram submetidas (a) e que foram submetidas (b) ao estresse - Imagem: Embrapa

A taxa de salinização do solo, além de ocorrer naturalmente em regiões áridas e semiáridas, tem se expandido globalmente, causando problemas de segurança alimentar em vários países, segundo o pesquisador da Embrapa Wagner Bettiol. A salinização do solo afeta negativamente a fotossíntese, a absorção de nutrientes, a transpiração, a síntese de proteínas e a regulação hormonal, resultando na redução do crescimento das plantas, de acordo com o cientista.

Desta forma, pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente avaliaram o potencial funcional de isolados bacterianos para promover o crescimento de tomateiro cultivado em condições de estresse salino no solo. Das 154 cepas de bacilos inicialmente estudadas, quatro foram selecionadas e apresentaram aumento na altura, peso da raiz e parte aérea, teor de clorofila e diâmetro do caule. Além disso, eles conseguiram reduzir a severidade da Murcha de Fusarium em tomates em mais de 50%.

Os quatro isolados selecionados em laboratório foram avaliados em tomateiros cultivados em casa de vegetação. “Passamos a testar os isolados diretamente em plantas desenvolvidas em condições com e sem estresse salino para avaliar diversas características relacionadas ao crescimento das plantas”, explica o pesquisador Carlos Medeiros.

As análises realizadas observaram o aumento da altura e do peso das raízes e da parte aérea das plantas, bem como o teor de clorofila das folhas e o diâmetro do caule do tomateiro, conforme dados da instituição. Após essa fase, os isolados foram avaliados no controle da Murcha de Fusarium em tomate. “Além da eficiência no controle da murcha, analisamos três enzimas que estão diretamente relacionadas à indução de resistência das plantas ao patógeno e também à prolina, um aminoácido voltado especificamente para a proteção contra o estresse salino”, diz Medeiros.

 

Bettiol afirma que, entre as cepas selecionadas, a mais eficiente foi a do  Bacillus velezensis, espécie que vem ganhando destaque em estudos relacionados ao controle biológico de doenças de plantas.  “Esse isolado reduziu a severidade da Murcha de Fusarium em mais de 50%”, destaca.

A Murcha de Fusarium do tomate, segundo a Embrapa,  ocorre na maioria das regiões do mundo onde a fruta é cultivada. É uma das piores doenças dessa cultura e pode resultar em perdas de produtividade de até 80% nas variedades suscetíveis. O problema ocorre em qualquer época ou estágio de desenvolvimento, mas é notado mais frequentemente em plantas adultas, e pode inviabilizar o cultivo em determinadas regiões ou épocas do ano. Os primeiros sintomas são o amarelecimento das folhas mais velhas, que murcham gradualmente e apresentam necrose marginal ou total dos membros, seguido de murchamento das folhas superiores nas horas mais quentes do dia.

Após toda a experimentação e análise dos dados, Medeiros enfatiza: “Concluímos que os isolados estabeleceram uma interação com as plantas, o que desencadeou diversos mecanismos de defesa”. 

Segundo ele, essa associação com a planta é fundamental para que os isolados do bacilo controlem a doença causada pela Fusarium, aumentando o crescimento da planta e a tolerância ao estresse salino, sugerindo que podem ser usados com benefícios no controle biológico na agricultura. 

A multiplicação dos bacilos, em diferentes condições de fermentação, já está sendo feita em laboratório, paralelamente a novos testes de promoção de crescimento. O objetivo é desenvolver um produto biológico baseado nessas bactérias funcionais.

No caso do controle da fusariose, o método utilizado foi a aplicação de bactérias diretamente no solo. “Cultivamos o bacilo em meio de cultura, diluímos e aplicamos via irrigação no colo da planta”, explica Medeiros. Para o estresse salino, a forma de aplicação foi a mesma, via irrigação.