O que é resistência a herbicidas e o que fazer para evitar 

Fazer rotação de culturas e de métodos de controle, além de utilizar herbicidas somente quando e onde realmente for necessário, são algumas das dicas de pesquisadores da Embrapa 

 

 

Resistência é a capacidade de uma planta em sobreviver a tratamentos herbicidas que, em condições normais, controlariam a população das espécies indesejadas. O crescimento da população de plantas daninhas resistentes a herbicidas pode ser resultado do uso incorreto dos mesmos.  

 

A resistência evolui em uma lavoura ao longo dos anos, sendo necessário que 20% da população de plantas seja resistente para que o fenômeno se torne perceptível. 

 

Metabolização, absorção dos nutrientes, translocação e elevada produção de enzima das plantas daninhas são mecanismos que conferem a resistência a herbicidas. Devido à alta produção das enzimas, o herbicida não consegue inibir todas elas, o que resulta na sobrevivência da planta. Além disso, a modificação no sítio de ação - local onde o herbicida vai atuar – também é uma característica da resistência.  

 

O uso repetido do mesmo herbicida ou do mesmo portfólio de herbicidas com mecanismo semelhante de ação e com longo efeito residual seleciona indivíduos, que são preservados para a geração seguinte e, assim, desenvolvem resistência a safras futuras.

 

Tipos de resistência 


Estudos apontam que o aparecimento da resistência a um herbicida se deve à seleção de biótipos resistentes preexistentes que, devido a repetidas aplicações de um mesmo herbicida, encontra condições para multiplicação. Neste sentido, é possível identificar dois tipos de resistência: a cruzada e a múltipla. 

A resistência cruzada se dá quando biótipos de plantas daninhas são resistentes a dois ou mais herbicidas, que apresentam um mesmo mecanismo de ação. Já a resistência múltipla é ainda mais arriscada, porque é quando um indivíduo apresenta resistência a herbicidas com mecanismo de ação diferentes. 

 

Segundo os pesquisadores Leandro Vargas e Erivelton Scherer Roman, ambos engenheiros agrônomos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Trigo), a evolução da resistência à herbicidas passa por três estádios.  

 

O primeiro é a eliminação de biótipos altamente sensíveis, restando apenas os mais tolerantes e resistentes; o segundo é a eliminação de todos os biótipos e seleção dos resistentes dentro de uma população com alta tolerância; e por último o intercruzamento entre os biótipos sobreviventes, gerando novos indivíduos com maior grau de resistência. 

 

Verificando a resistência  

Para se certificar de que as plantas daninhas estão suscetíveis a resistência ao herbicida, o método mais comum e recomendado, segundo os pesquisadores da Embrapa, é colher sementes das plantas suspeitas de resistência e das plantas sensíveis, semeá-las em vasos e tratá-las com doses crescentes do herbicida em questão.  

“Para se ter certeza de que as plantas colhidas representam a população, devem ser colhidas, de forma aleatória, sementes de 100 plantas (cerca de 10 sementes de cada planta). Para servir como padrão sensível, devem-se colher sementes de plantas em locais que nunca receberam aplicação do herbicida suspeito. As condições de aplicação devem ser aquelas recomendadas pelo fabricante”, apontam Vargas e Roman. Ainda de acordo com eles, para identificar o mecanismo exato da resistência, análises bioquímicas podem ser realizadas em laboratório.  

 

Como evitar a resistência 

A resistência de plantas daninhas a herbicidas pode ser manejada através do uso de estratégias alternativas, como a adoção de outros métodos de controle. Os pesquisadores consideram que o manejo racional junto a diferentes métodos de controle disponíveis contribui para a resistência ser combatida e a probabilidade do surgimento de novos casos seja menor. 

 

Confira abaixo 10 dicas para evitar a resistência de plantas daninhas a herbicidas. 

  1. Utilizar herbicidas somente quando e onde realmente for necessário 
  2. Utilizar herbicidas com diferentes mecanismos de ação 
  3. Realizar aplicações sequenciais 
  4. Realizar rotação de mecanismo de ação  
  5. Limitar aplicações de um mesmo herbicida  
  6. Usar herbicidas com menor pressão 
  7. Fazer rotação de culturas e métodos de controle
  8. Acompanhar mudanças na flora  
  9. Empregar sementes certificadas 
  10. Evitar que plantas suspeitas produzam sementes 

Com base nestas práticas, antes que as falhas de controle apareçam na lavoura, os pesquisadores da Embrapa indicam que os agricultores devam adotá-las para prevenir a resistência, a fim de minimizar o risco do surgimento de plantas resistentes na safra recorrente e/ou nas posteriores.