Estiagem no Sul prejudica produção de maçã e Brasil tem queda nas exportações de frutas no primeiro semestre

La Niña e guerra entre Rússia e Ucrânia foram os fatores que mais influenciaram na queda do desempenho brasileiro.

 

Por Notícias Agrícolas


Com a influência do La Niña nos dois últimos anos, o setor de frutas também sente os impactos na exportação e na receita cambial dos produtos. De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), no primeiro semestre de 2022, o setor teve queda de 11% nos embarques e em receita. O clima mais seco no Sul do Brasil afetou diretamente a produção de maçã nos três estados, o que ajuda a justificar o desempenho inferior.

 

Em termos de volume, o relatório mais recente publicado apontou redução de 30% a menos de maçã na safra devido a esse clima mais seco, que resultou em frutos menores, principalmente na variedade Gala. “As chuvas afetaram a produtividade e a qualidade dos frutos produzidos, o que provocou a redução nos volumes exportados e a queda nos preços pagos no mercado externo”, explicou o diretor da Abrafrutas, Eduardo Brandão.

Expectativa do setor é que números melhores no segundo semestre - Foto: CNA

 

No caso da maçã, outro fator que afetou diretamente a exportação foi a guerra entre Rússia e Ucrânia. A Rússia é um dos principais importadores da maçã brasileira e a falta de resolução no conflito político deve continuar impactando os embarques já que novos acordos comerciais não são fechados com a Rússia, devido às sanções aplicadas e também o impedimento de importação para a Ucrânia, com a infraestrutura dos portos destruída pela guerra.

 

“A previsão para os próximos meses é de clima favorável, o que provavelmente resultará na melhoria da qualidade das frutas e da produtividade, com isso, voltaremos a crescer. Sabemos que, devido ao fraco desempenho no primeiro semestre, será difícil superarmos o desempenho de 2021, porém, como historicamente o volume das exportações cresceu nos últimos seis meses do ano, estamos na esperança de ao menos igualar aos números de exportações do ano passado”, afirmou Brandão.

 

Além da maçã, outras frutas como a uva e a manga também registraram queda. Diferente do que aconteceu no Sul, a produção das duas frutas são justificadas pelo excesso de chuva no Vale do São Francisco, outra característica típica do La Niña. Segundo lideranças do setor na região, o cenário é crítico para o produtor, com prejuízos que passam de US$ 500 milhões.

 

Vale ressaltar, no entanto, que os modelos meteorológicos mais recentes passaram a indicar a probabilidade do La Niña ganhar intensidade durante a primavera no Brasil. Segundo a atualização mais recente da Administração Atmosférica e Oceânica (NOOA), o evento climático deve ter seu pico atingido nos meses de outubro, novembro e dezembro. Se confirmado, o La Niña pode reduzir as chuvas no Sul do Brasil, atrasar a temporada chuvosa no Centro-Oeste e Sudeste, além de favorecer volumes acima da média no Nordeste do Brasil. Os possíveis cenários estão sendo acompanhados por todo setor produtivo do país.

 

Já do lado das exportações positivas, a Abrafrutas destacou o bom desempenho do limão, melancia e melão no primeiro semestre de 2022.

 

Com relação ao melão, os números mostraram receita de mais de US$ 56,1 milhões, o que representa aumento de 7% quando comparado com o mesmo período no ano passado. Já em volume, os embarques totalizaram 94,1 mil toneladas, 9% a mais que no mesmo período no ano anterior.

 

De acordo com a Abrafrutas, historicamente, a América Central costuma enviar grandes quantidades de melões à União Europeia (UE) neste primeiro semestre. "Contudo, devido a alguns problemas climáticos, os volumes enviados tiveram uma redução significativa, este fator fez com que o Brasil deslocasse parte dos melões que seriam comercializados no mercado interno para exportação, visando atender o crescimento da demanda Europeia", afirma.

 

No caso da melancia, o incremento foi de 20% em volume e 32% em termos de valor. Neste caso, o porta-voz explica que o crescimento se deu pelos mesmos motivos da melancia.

 

No limão, o destaque foi a receita média do semestre, que totalizou US$ 75.8 milhões, alta de 12%. Com relação ao volume, os embarques totalizaram 90 mil toneladas de frutas, sendo assim, 14%  a mais que no mesmo período do ano anterior.

 

A Abrafrutas justifica a alta no limão pelo aumento nas áreas de cultivo e também pela entrada de novos compradores no mercado de exportação. "Além disso, a busca por maior imunidade devido a Covid-19 tem gerado desde 2020 um aumento no consumo de limão na Europa, principal destino das exportações de frutas brasileiras", afirma.

 

Exportação e importação, segundo a FGV

Enquanto as exportações de frutas recuaram, os números gerais do Brasil mostraram avanço de 20,5% no primeiro semestre de 2022, também comparado ao mesmo período de 2021. Os dados foram publicados recentemente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O número, no entanto, representa alta apenas na receita, já que em termos de volume a exportação permaneceu estável com alta de 0,2%.

 

Segundo a análise, a alta na receita se explica com o aumento do preço das mercadorias, cotadas em dólar. O câmbio, mesmo com a volatilidade intensa, foi favorável para novos negócios e até mesmo abertura de novos mercados.

 

A publicação da FGV chama atenção ainda que o mesmo aconteceu com as importações, apesar do recuo observado no volume, chamando atenção principalmente para baixa no volume exportado para China. Segundo a Fundação, os pesquisadores, neste momento, não traçam perspectivas de desacelaração expressiva para o país asiático, principalmente quando se considera os planos de investimentos da China.

 

Os dados mostraram que o  saldo da balança comercial foi de US$ 8,8 bilhões em junho, o que representou uma queda de US$ 1,6 bilhão em relação a junho de 2021. No primeiro semestre de 2002, o superávit foi de US$ 34,3 bilhões, sendo inferior ao do primeiro semestre de 2021, US$ 37 bilhões.

 

A questão do câmbio traz resultados semelhantes nas importações, que apresentou alta de 37,2% nos preços e queda de 2,7% no volume. "O resultado para o volume importado retoma a trajetória de queda observada na comparação interanual mensal entre 2021 e 2022 e que só foi interrompida em maio, com um aumento nas compras de petróleo e adubos, acima do previsto", afirma a análise.

 

No mês de junho, as commodities foram responsáveis pelo embarque de 69% dos produtos embarcados, registrando recuo de 6,2% no período, mas aumento de preço de 15,9%. Neste sentido, a análise da FGV destaca que as commodities avançaram 9,5% no valor na comparação entre os meses de junho.

 

Já as exportações dos outros produtos, que não são commodities, elas registraram alta no valor de 31,7%, sendo impulsionado pelo aumento no volume - de 12% e dos preços - de 17,2%. “Entre os dois primeiros semestres dos anos de 2021 e 2022, a variação, em valor, das exportações de commodities foi de 17,7% e das não commodities, de 27,1%. Em termos de preços, a variação nas commodities foi superior ao das não commodities, mas em termos de volume, as exportações de commodities registraram recuo (3,3%) e das não commodities, aumento de 7,3%”, complementa a previsão.

 

Já a análise sobre as importações brasileiras, o relatório mostra que elas estão concentradas em produtos que não são commodities em pelo menos 89,7% das compras realizadas no primeiro semestre de 2022. No valor, o aumento foi de 27,3% na compra desses produtos em comparação com os primeiros semestres de 2021 e 22, e de 31,2% na comparação entre os meses de junho dos dois anos.

 

As importações das commodities registraram aumento de 72,9%, na comparação semestral, e de 59,8%, na mensal. E esses resultados são explicados pelos aumentos nos preços das commodities (74%, mensal, e 66,7%, no semestre) acima dos preços das não commodities. Em adição, no semestre, o volume importado das commodities aumentou (3,1%)  e o das não commodities recuou (2,2%). Na comparação mensal das importações, tanto as commodities, como as não commodities, registraram queda. Observa-se que o resultado positivo no volume importado das commodities é explicado pelas variações positivas em janeiro (42,4%) e em março (24,5%), pois nos outros meses o resultado foi de queda na importação", finaliza.