Estudo traz detalhes sobre as potencialidades da produção de butiá no Rio Grande do Sul 

Com uso ainda restrito, a fruta tem uma potencialidade que poderia ser uma fonte de renda para produtores gaúchos 

Butiás no centro de pesquisas de Viamão, no Rio Grande do Sul - Foto: Fernando Dias/Seapdr

A pesquisa "Diagnóstico de extração, processamento e comercialização de produtos oriundos de butiazais no RS", realizada por pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (DDPA/Seapdr), traz as potencialidades do cultivo do butiá em terras gaúchas. 

 

Segundo informações da secretaria, o uso da fruta ainda é restrito, a palmeira do butiazal está ameaçada de extinção e o cultivo da fruta poderia ser uma alternativa de fonte de renda para fruticultores gaúchos.  

 

Os estudos começaram em julho de 2020 e foram até junho de 2021, sendo que os dados colhidos neste período descrito estão sendo analisados e o trabalho está na fase de geração de resultados, que serão divulgados em 2022 por meio de artigo científico e outros materiais gráficos.  

 

"Foi muito gratificante de ser executada. E foi graças a um convênio entre a Seapdr e a Emater", explica a médica veterinária, mestre em Desenvolvimento Rural e doutora em Gestão, Larissa Ambrosini, que coordenou a pesquisa. "A extensionista rural da Emater e mestre em Ciências e Tecnologia dos Alimentos, Bruna Bresolin Roldan, e os técnicos foram essenciais para a coleta de dados e para a geração dos resultados obtidos".

 

A coordenadora do estudo pontua que existem oito espécies da palmeira do butiazeiro no Rio Grande do Sul e elas estão em ameaça de extinção porque o seu habitat está sendo pressionado pela expansão de áreas urbanas e também de áreas de outros cultivos agropecuários. "Nesse contexto, o extrativismo do butiá poderia ser uma alternativa, através de um manejo sustentável, de sensibilizar, especialmente produtores rurais, para a preservação dessa espécie, uma vez que ela poderia ser uma fonte de renda", acredita Larissa.

 

Ela explica que a proposta para a pesquisa partiu do questionamento de como propor políticas públicas e incentivos para a preservação e incremento da cultura do butiá no estado. A pesquisadora ressalta ainda a inspiração vinda dos colegas de departamento, Adilson Tonietto e Gilson Schlindwein, que trabalham com a cultura há 15 anos, desde os tempos da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro). 

 

Segundo Larissa, os dados coletados foram importantes para conhecer a realidade para, a partir daí, o estado poder propor políticas públicas, ou pensar em iniciativas que possam alavancar a cultura do butiá no Rio Grande do Sul.  

 

Pesquisa

 

Conforme informações da secretaria, a proposta foi fazer um diagnóstico sobre o extrativismo do butiazeiro Rio Grande do Sul, identificando e caracterizando as famílias que fazem uso econômico do produto e as estratégias de beneficiamento e comercialização de sua produção, fornecendo dados sistematizados acerca dessa realidade em nível estadual.

 

Os dados obtidos durante a pesquisa apontaram que há presença de butiazais (incluindo lugares que não coletam ou utilizam) em 28.016 propriedades no estado. A concentração é maior em propriedades na região Noroeste, seguido da mesorregião Centro-Oriental; e da mesorregião Metropolitana.  

 

A coordenadora da pesquisa detalha que este número condiz com a estrutura fundiária do estado, sendo as mesorregiões descritas onde há maior número de propriedades rurais e com menor tamanho.  

 

"E 28 mil propriedades equivalem a 7,7% das propriedades rurais do Rio Grande do Sul. Dessas, 16.170 famílias fazem extrativismo do butiazal (considerando autoconsumo e exploração comercial)", complementa a pesquisadora. Ela cita também que, segundo o último censo agropecuário de 2017, há 360 mil propriedades rurais no estado.

 

Destino da fruta

 

Outro detalhe observado pelos pesquisadores foi que a maior quantidade de produção e destinação de produtos oriundos do butiazal é para autoconsumo, principalmente da fruta in natura. Depois vem o uso da fruta para fazer suco e também para fazer cachaça ou licor, segundo a secretaria. O uso da palha é praticamente inexistente. A grande maioria não produz esse item. De acordo com Larissa, a venda também é baixa. "Então, é muito pouco o aproveitamento", lamenta.

 

Em relação à venda de produtos da extração do butiazal, conforme manejo da propriedade rural, a pesquisa apontou que é maior o número de produtores orgânicos que, além de fazerem uso pessoal, vendem algum produto do butiá entre os produtores que fazem o manejo orgânico, do que entre os que fazem o manejo convencional. Cerca de 40% vendem a fruta in natura, 30% processam o fruto para produzir polpa e vendem, e aproximadamente 17% processam o fruto para produzir geleia, cachaça e licor.

 

"Perguntamos para os produtores e técnicos quais seriam os entraves para o desenvolvimento dessa cultura. Segundo eles, seriam: a falta de estrutura de processamento, a falta de políticas públicas de apoio a essa cadeia e a falta da cultura de uso do butiá. Não veem utilidade em um produto que é rico como o butiá", lamenta Larissa.