Produtor de ameixa encontra nova cultivar mais resistente às condições climáticas adversas e abre nova opção para o Sul
Expectativa é que ainda em 2022 seja disponibilizada ao mercado as mudas para cultivo, segundo pesquisadores da Estação Experimental da Epagri
Foi divulgado recentemente pela Secretaria de Estados da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural (Epagri-SC) uma nova mutação autofértil da ameixa Letícia como nova opção para os produtores da fruta na região Sul do Brasil.
Segundo o Epagri, a nova cultivar foi identificada pelo fruticultor Hermes Coser, no município de Videira (SC), e a mutação da cultivar Letícia não tem a necessidade de polinização cruzada e os resultados mostram vantagens significativas ao cultivo já conhecido pelo setor produtivo. A nova cultivar foi registrada com o nome de Letícia AF (AF = autofértil) e seu processo de produção está em andamento.
A expectativa é que ainda em 2022 seja disponibilizada ao mercado as primeiras mudas para cultivo, segundo pesquisadores da Estação Experimental da Epagri. Ainda de acordo com a instituição, o produtor que identificou a mutação já instalou um pomar comercial e passou a produzir sem a presença de nenhum outro cultivar polinizador.
“As plantas são jovens, ainda em crescimento. Porém, já se observa um expressivo pegamento de frutos nas plantas de Letícia AF, ao passo que na Letícia original, isso não ocorreu”, explica Marco Antonio Dalbó, pesquisador da Estação Experimental da Epagri em Videira.
A instituição explica que a capacidade que a cultivar tem de se autopolinizar e produzir esses frutos é que torna essa produção vantajosa aos produtores. "De cara, elimina-se a necessidade de ter de 10% a 15% das plantas do pomar cultivares polinizadoras, que geralmente não têm valor comercial", afirma o pesquisador.
Entre as vantagens da Letícia, se destaca que com a cultivar há a possibilidade de proporcionar estabilidade à produção, já que reduz os efeitos climáticos adversos no período de floração. Segundo o pesquisador, é comum esse cultivar apresentar perdas na produção quando há excesso de chuva ou frio, por exemplo.
"Também, em função da floração tardia da Letícia, podem ocorrer períodos de calor seco na floração, principalmente em anos sob efeito do evento climático conhecido como La Niña. Nesse caso, o pegamento de frutos é baixo mesmo que as abelhas conseguem trabalhar adequadamente”, relata o pesquisador. Vale destacar que encontrar soluções para anos de La Niña tem sido um foco para o agronegócio no Sul do Brasil, que pelo segundo ano seguido sente os fortes impactos do baixo volume de chuva.
E de acordo com os dados do Epagri, apesar de não se ter muitos anos de observação, a cultivar Letícia AF apresenta ser menos afetada pelas condições climáticas desfavoráveis no período de floração. O histórico mostra que nas safras 2018/19 e 2019/20 foram relatados muitos problemas de baixa frutificação com a cultivar Letícia. Já no caso da Letícia AF, a produção se manteve dentro da normalidade e houve necessidade de raleio.
Ele explica que é provável que a Letícia AF necessite de raleio químico, para diminuir a mão-de-obra demandada pelo raleio manual. “Para isso, mais alguns estudos são necessários para o estabelecimento de doses. O produtor que identificou a mutação já vem trabalhando nesse sentido”, revela Dalbó.
A publicação da Epagri acrescenta também que juntamente com o cultivar Fortune, a Letícia é responsável pela maior parte da produção de ameixa no Sul do Brasil. Foi criada na África do Sul e lançada oficialmente em 1986, com o nome de Laetitia. No Brasil, tornou-se conhecida como Letícia. Teve grande aceitação por combinar alta qualidade dos frutos e resistência relativamente elevada à escaldadura das folhas, causada pela bactéria Xylella fastidiosa.
No site oficial da instituição, Dalbó conta que o surgimento deste cultivar possibilitou o reerguimento da cultura da ameixeira no Brasil nos anos 1990, após o período de declínio causado pela introdução da escaldadura das folhas. “Até hoje é a principal produtora de ameixas de maturação tardia no Brasil, sendo a colheita realizada entre a metade e o final de janeiro”, relata ele.