

Previsão de permanência do La Niña traz alerta para a produção de uvas na Serra Gaúcha
Indicativos mais recentes apontam condição para chuva abaixo da média, o que reforça necessidade de medidas especiais do produtor de uvas da região Sul do país
As previsões climáticas mais recentes indicam que o Brasil pode, pelo terceiro ano consecutivo, sofrer os impactos do evento climático La Niña nas áreas de produção da safra de verão. Atualmente, em fase considerada neutra pelos especialistas, o fenômeno climático vem impactando a produção de uvas na Serra Gaúcha, segundo informações divulgadas recentemente pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
A publicação da Embrapa tem como base a nova edição do Boletim Agrometeorológico da Serra Gaúcha, produzido por pesquisadores da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR) e da Embrapa Uva e Vinho. A preocupação, de agora em diante, é com o risco de geadas tardias, e principalmente a redução do volume de chuvas na região - uma das principais características do evento climático.
Henrique Pessoa dos Santos, pesquisador da Embrapa, explica que diante das previsões, a melhor orientação ao produtor é a instalação de irrigação nos parreirais. Com relação ao risco de geada "fora de época", o ideal é que se tome medidas de prevenção. O produtor deve escolher o local de implantação do vinhedo, as cultivares com brotação mais tardia e priorizar a adoção de sistema de condução com dossel vegetativo elevado”, afirma.


Para o mês de setembro, os modelos ainda mostram condição para volumes de chuva dentro da média esperada, mas o boletim trouxe ainda que o prognóstico de previsão para o mês de outubro, é de condição de chuvas abaixo da média. Se confirmado, aumenta-se as preocupações com a restrição hídrica durante a primavera, estação que também tem como característica registrar temperaturas mais elevadas.
"Nos casos em que não há investimentos em irrigação, recomenda-se uma análise técnica e econômica para a instalação do sistema, principalmente nas áreas e cultivares que sofreram estresses mais severos, que comprometeram a quantidade e qualidade enológica da uva, nos últimos ciclos", afirma a publicação.
A publicação trouxe também as recomendações fitossanitárias para os próximos três meses. Segundo o boletim, agora é o momento de o produtor focar na redução do inóculo inicial - sementes de fungos, que podem estar presente na planta e nos restos culturais.
"Assim, logo após a poda, os restos culturais devem ser retirados do vinhedo; os cortes devem ser protegidos utilizando fungicidas de contato ou sistêmicos; no estádio de ponta-verde deve-se iniciar a aplicação de fungicidas visando o controle de fungos causadores da antracnose, míldio, oídio e podridão-da-uva-madura, presentes nas escamas das gemas, e continuar com intervalos de sete a dez dias", complementa.


Acrescenta que, na fase de poda, é preciso que o produtor se atente com a retirada das partes da planta que não brotam mais, como por exemplo esporões secos ou então que apresentem ramos contendo podridões internas. Esse problema pode levar ao declínio e morte total da planta.
Já para o produtor que está pensando em fazer a renovação de algumas áreas precisam escolher mudas que apresentem bom estado fitossanitário, que apresentem ausência de podridão interna. "O produtor deve efetuar a desinfestação periódica das ferramentas durante a poda, de modo a evitar a disseminação de doenças do lenho. Os cortes maiores devem ser revestidos com tinta plástica misturada com fungicida (triazol ou benzimidazol)", afirma.
Os pesquisadores finalizam o relatório dizendo que, com o prognóstico de La Ninã moderada no trimestre, não se espera grande pressão das doenças fúngicas. Entretanto, os tecidos da planta não devem ser deixados completamente descobertos, de modo que pulverizações com fungicidas a base de cobre, contato e/ou sistêmicos são indicadas. Embora o prognóstico climático indique precipitação pluvial abaixo da média, especialmente em outubro, outras formas de molhamento como orvalho, nevoeiro, baixadas úmidas e beiradas de matas propiciam a umidade necessária para o processo infeccioso dos fungos.
Previsão do La Niña
Se confirmado, esse será o terceiro ano com a atuação do evento climático La Niña afetando o regime de chuvas nas principais áreas de produção agrícola do país. A ocorrência em três anos seguidos chama atenção do setor, que principalmente no Sul do Brasil deve sentir os impactos nos produtos agropecuários.
Existe um certo consenso entre os principais modelos meteorológicos de que o La Niña, atualmente em fase neutra, vai reduzir as chuvas no Sul do país no próximo trimestre. De acordo com as previsões mais recentes do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a tendência é que o mês de setembro ainda conte com chuvas dentro ou ligeiramente acima da média no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e até no Paraná.
A partir de outubro, no entanto, a preocupação se volta para os três estados. Se confirmado, o La Niña pode reduzir drasticamente o volume de chuva, colocando em risco não só as áreas de produção de frutas, mas também a produção de grãos. Para o mês de novembro, a tendência ainda é de chuva abaixo da média nessas áreas.
As previsões do Inmet são semelhantes às da Administração Oceânica e Atmosférica (NOOA), que na atualização do mês passado trouxe o risco do La Niña impactar nas chuvas até o final do Verão no Brasil. "A La Niña continua! A chance de que o La Niña permaneça até o início do inverno (nos Estados Unidos) é superior a 70%", destacou o site americano no dia 11 de setembro.
Os dados levantados pelo Notícias Agrícolas mostraram ainda que, de acordo com a atualização, foi observado novo resfriamento no Pacífico nas últimas semanas. "No geral, o sistema acoplado oceano-atmosfera permaneceu consistente com um La Niña em andamento", afirma o NOAA. A nova atualização norte-americana deve ser publicada na segunda semana deste mês, com tendência de manter a previsão do La Niña para o período já indicado.
A última atualização da consultoria climática brasileira, Climatempo, também destacou os riscos para as áreas de produção agrícola neste trimestre. O pico do fenômeno é esperado para o mês que vem, podendo o produtor brasileiro seguir os impactos até o mês de dezembro. A consultoria apontou que o maior risco é o período de estiagem mais longa durante o verão no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e extremo sul do Paraná.
No Centro-Oeste, no Matopiba e no Sudeste, a preocupação é com o atraso na estação chuvosa. No Sudeste, por exemplo, um atraso significativo poderia trazer impactos severos para a safra 2023 de café arábica. A produção de laranja e hortaliças também pode sentir os impactos negativos se o atraso da chuva se confirmar", destacou o Notícias Agrícolas.
Já para o Nordeste, justamente nas áreas de frutas do Vale do São Francisco, a preocupação é com o excesso de chuvas. No último ano, o La Niña trouxe prejuízo significativo para esse produtor e o setor correu risco de colapsar com o produtor descapitalizado e frutas com qualidade abaixo do esperado diante do excesso de chuva que impactou não só a produção de uva, mas também a produção de manga.
“As uvas sem semente, incluindo a BRS vitória, estão em falta nas roças nordestinas e não estão sendo suficientes para atender as centrais atacadistas. O desabastecimento do mercado interno vem desde o começo do mês passado, estimulado pelas chuvas e problemas fitossanitários no primeiro semestre”, destacou a última análise do Cepea para o mercado de frutas.
Ainda de acordo com a publicação, as condições do clima já estão mais favoráveis para o produtor daquela área, mas os problemas ainda são sentidos. "A oferta está inferior à demanda, que também segue baixa devido à frente fria que chegou no País nesta semana”, destacou.
Com relação aos preços, destacou que com a restrição na oferta, os preços no Vale do São Francisco estão remuneradores: R$ 11,87/kg para negra sem semente e R$ 11,65/kg para a branca sem semente, ambas embaladas, estáveis frente aos preços da semana anterior.