Incidência de cancro cítrico coloca toda cadeia de citros em alerta

Brasil corre risco de perder o maior comprador de limão se produção não fizer controle efetivo da doença.

 

Por Notícias Agrícolas


O setor de citricultura do Brasil está em alerta, após a União Europeia notificar o país várias vezes por receber limão com cancro cítrico nos últimos meses. Desde o início deste mês, depois de receber um prazo para criar um plano de ação contra a proliferação da doença, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) trabalha para reverter a situação junto à UE. E de acordo com autoridades, caso o Brasil perca o mercado, a condição coloca em risco também a produção.

 

O problema começou a ser observado ainda em 2021, época em que o setor fez uma série de ações para alertar o produtor da necessidade do controle da doença. Porém, no primeiro semestre deste ano, o cenário ficou ainda mais complicado e foram registradas mais de 30 interceptações do produto brasileiro já em solo europeu com registro da doença. Toda essa fruta foi descartada ou direcionada para outros países. 

Doença pode ser identificada a olho nu e controle precisa ser urgente, afirma Mapa - Foto: Fundecitrus

A preocupação é latente porque a UE corresponde por 85% das exportações brasileiras do limão tahiti, além de gerar emprego direto a mais de 200 mil brasileiros e uma receita cambial acima de US$ 120 milhões somente no último ano. 

 

A Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) reconhece o problema e afirma que, caso a parceria comercial seja finalizada, pode causar um efeito dominó no setor principalmente porque a fruta não tem espaço no mercado interno. 

 

Visando encontrar a origem do problema, o Mapa rastreou os exportadores que enviaram cargas fora do ideal e notificou cerca de 15 empresas. As atividades com destino à União Europeia nesses exportadores foram paralisadas por 60 dias, até que o controle do cancro cítrico seja efetivo nas áreas.

 

Veja as informações divulgadas pela Abrafrutas: 

  • A DG SANTE, agência de controle fitossanitário da UE, informou ao MAPA um total de 42 detecção de cancro cítrico em cargas de limão provenientes do Brasil, resultado da somatória das detecções do final do segundo semestre de 2021 mais as ocorrências em 2022 até o momento. Nunca na história da relação entre o Brasil e a EU nas exportações de cítricos, tal descontrole tinha sido detectado;
  • A mesma agência cobrou do MAPA explicações sobre as razões desse descontrole sobre uma praga quarentenária regulada onde o padrão deveria ser zero e quais medidas corretivas e punitivas seriam implementadas;
  • Foi verificado pelo MAPA o trânsito interestadual de limão em carretas para outros Estados com descarga em território considerado livre de cancro cítrico com objetivo de exportação;
  • Foi também verificado pelo MAPA a fuga das cargas para exportação de pontos de egresso considerados mais exigentes na fiscalização;
  • Resultados de auditorias realizadas pelos serviços oficiais de fiscalização nesta semana em packing houses mostraram containers prontos para exportação com frutas contaminadas por cancro, mostrando alto risco de continuidade do problema;

 

Diante de tais situações, o MAPA, sem consulta prévia ao setor privado decidiu:

 

  • Suspender por 60 dias empresas e Unidades de Consolidação que tiveram qualquer detecção de cancro cítrico desde o final de 2021 até o momento;
  • Intensificar as inspeções em todos os pontos de fiscalização e egresso de limão em todo o País, considerando o limão como “canal vermelho” nas exportações;
  • Manter as auditorias e fiscalizações nas regiões produtoras em packings e unidades de produção;
  • Recadastrar todas as UPs e UCs a partir de 1º de agosto para exportações de lima ácida para a UE;

 

Sobre o cancro cítrico, pela Fundecitrus: 

O cancro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas citri subsp. citri, afeta todas as espécies e variedades de citros de importância comercial. Com origem na Ásia, onde ocorre de forma endêmica em todos os países produtores, foi constatado pela primeira vez no Brasil em 1957, nos Estados de São Paulo e Paraná.

 

Os impactos desta doença estão relacionados à desfolha de plantas, à depreciação da qualidade da produção pela presença de lesões em frutos, à redução na produção pela queda prematura de frutos e à restrição da comercialização da produção para áreas livres da doença.