Brasil detém título de único país do mundo com três tipos de viticultura

Embrapa destaca que contrastes na geografia e manejo das videiras contribuem para cultivo do Sul ao Nordeste do país

Mercado se volta para a aveia como matéria-prima para bebidas - Foto: Notícias Agrícolas


O Brasil é o único país do mundo onde é possível o cultivo de três tipos de viticultura para a produção de uvas, sucos e vinhos. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que fez um levantamento recente sobre o tema, a condição somente é possível graças a dois principais fatores, as condições climáticas registradas no país e o manejo das videiras realizado por aqui. 

“Atualmente no país estão sendo produzidos comercialmente vinhos em três macro condições distintas, em função das diferentes condições climáticas, decorrentes da geografia e do manejo da videira, apresentando qualidades e tipicidades diferenciadas”, disse a empresa no documento “Vinhos no Brasil: contrastes na geografia e no manejo das videiras nas três viticulturas do país”. Para ver o conteúdo completo, clique aqui.

A publicação é assinada pelos pesquisadores Giuliano Elias Pereira, Jorge Tonietto, Mauro Celso Zanus, Henrique Pessoa dos Santos, José Fernando da Silva Protas e Loiva Maria Ribeiro de Mello.

A vitivinicultura apresenta importância socioeconômica representativa para o Brasil, com cerca de R$ 10 bilhões movimentados em toda a cadeia produtiva, segundo a publicação da Embrapa. A região Sul do país é a principal produtora, sendo o Rio Grande do Sul responsável por cerca de 90% de toda a produção nacional de uvas para processamento. Ao longo dos últimos anos, o consumo só tem crescido no país, além do volume exportado.

“Regiões que produzem vinhos e sucos se desenvolvem rapidamente, pois são atividades agregadoras e atraem investimentos com o enoturismo e a enogastronomia. Exemplos de sucesso podem ser vistos nos países que produzem vinhos na Europa, na Califórnia/EUA, na Argentina e Chile, assim como na Serra Gaúcha”, destaca a empresa agropecuária.

O cultivo da videira tem seu início datado na bibliografia sobre o tema entre 6000 a 5000 a.C na costa Leste do Mar Negro. Já na região Sul do Brasil, o cultivo da videira iniciou há mais de 100 anos e logo se expandiu para áreas de diferentes condições de clima temperado e subtropical e de solo. Essa viticultura, tida como tradicional, também chegou a avançar para os estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. 

“A videira é podada e as uvas são colhidas uma vez por ano, assim como ocorre nos outros países produtores do mundo, em ambos os Hemisférios Norte e Sul”, aponta a publicação sobre a viticultura tradicional.

A segunda viticultura brasileira está localizada no Vale do São Francisco, que abrange os estados de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, em clima tropical semiárido, para a produção dos chamados vinhos e sucos tropicais. O cultivo nessa região tem cerca de 40 anos, segundo a publicação da Embrapa.

“Nestas condições, a videira é podada e as uvas colhidas duas vezes por ano, e podem ocorrer podas e colheitas em praticamente todos os dias e semanas do ano”, destaca o documento. Lavouras da região utilizam irrigação por conta das condições climáticas e de solo e isso acaba facilitando um melhor gerenciamento de custos e investimentos regionais.

No início dos anos 2000, a Embrapa acompanhou no Brasil o nascimento de uma terceira safra nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso e Tocantins, nomeada de safra de inverno, com plantações de uva em altitudes entre 600-1.200 metros.

“Nestas condições, as videiras são podadas duas vezes ao ano, sendo uma poda de formação e outra de produção, com uma colheita no inverno, entre os meses de junho e agosto”, aponta a empresa.

A safra de inverno já apresenta atributos únicos que ainda estão sendo levantados pelo mercado, mas que já chamam a atenção.

“Estes dois últimos tipos de viticultura no Brasil, a tropical (“vinhos tropicais”), bem como a subtropical de altitude e tropical de altitude (“vinhos de inverno”), diversificam os “terroirs” do Brasil e, consequentemente, a geografia da produção nacional e mundial de vinhos. Agregam sistemas originais e específicos de produção, com qualidades e identidades próprias”, destaca a Embrapa.