Após ter clima como grande foco no desenvolvimento, Paraguai avança com a colheita do arroz
Expectativa para esse ciclo é mais positiva quando se compara o cenário do ano passado; baixo volume de chuva continuar no radar do setor produtivo
A colheita da safra de arroz do Paraguai começou na segunda quinzena do mês de dezembro, e segundo os relatos dos produtores vizinhos, até a primeira semana de janeiro, as condições do grão eram favoráveis, desenhando uma boa safra tanto na qualidade, mas também quando se fala na produtividade para o ciclo atual da cultura.
Vale lembrar que o país já havia reduzido 165 mil hectares no ciclo 2020/21, resposta às condições climáticas adversas e pouca água. Para este ciclo, o país avançou 10,9%, alcançando recorde em 183 mil hectares. Antes da colheita começar no país vizinho, o setor paraguaio trabalhava com a expectativa de uma produção com 1,29 milhão de toneladas, que de acordo com analistas, deste montante 700 mil toneladas devem ser introduzidas no mercado do Brasil por causa da competitividade.
Segundo as últimas informações, a Câmara Paraguaia de Arroz (Caparroz) não divulgou dados da área plantada, mas agrônomos e produtores rurais afirmam em uma evolução importante, resposta à uma expectativa de melhor condição climática para este ciclo. Na temporada anterior, foi observada redução na área de cultivo e produtividade devido ao volume muito baixo de chuva.
De acordo com a entidade, a nova temporada teve momentos melhores, mas seguiu chovendo pouco no país e nos últimos 30 dias algumas lavouras tiveram sérios problemas de irrigação com o esgotamento de alguns arroios.
A condição climática enfrentada pelo produtor do Paraguai é muito parecida com o cenário que observamos no Sul do Brasil, de escassez hídrica e impacto direto na produção. Falando especialmente no arroz, essa condição de volume abaixo da média pode afetar as lavouras mais tardias do grão, em decorrência da dificuldade de receber irrigação.
Os rios locais, como por exemplo a bacia do Rio Tebicuary e do Rio Paraguay, áreas que concentram a maior produção do Brasil são justamente as que sentem os maiores impactos do clima. De acordo com os últimos relatos ao mercado, as províncias como Misiones e Itapúa sentirão os maiores impactos, registrando as maiores perdas.
Além dos impactos na produção em si, um problema recorrente por conta da seca é o escoamento da safra, o principal canal logístico do país é o Rio Paraná utilizado pelos produtores paraguaios e também registrou níveis baixos, forçando o setor produtivo a buscar por novas alternativas para entregar a mercadoria ao mercado.
Mesmo com essas dificuldades, produtor arroz no Paraguai pode ser mais barato para alguns brasileiros, e muitos agricultores optam pela semeadura no país vizinho. Conforme já é conhecido do mercado, a produção por lá é, pelo menos, 50% mais barata quando se compara com as lavouras no Brasil. Atualmente o Brasil ocupa a 9ª colocação na produção mundial e o Paraguai aparece na 41º, os líderes continuam sendo China e Índia.
No mercado interno do Brasil
Com poder aquisitivo mais baixos e a movimentação do mercado interno tem levantado preocupações para o setor no Brasil. Segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq/USP), há dificuldade em encontrar demanda para o arroz brasileiro, diante da menor renda e da perda de poder aquisitivo de grande parte da população.
A análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, divulgada na primeira semana do ano, acrescenta ainda que os preços do arroz registraram baixas, diminuindo a atratividade na produção.
“Diante disso, no campo, a rentabilidade ao produtor está negativa, inclusive sobre os custos operacionais, de acordo com cálculos do Cepea, o que torna a produção menos atrativa ao orizicultor, que, nos últimos anos, registrou margens de apertadas a negativas. Nesse cenário e com estoques em patamares elevados, o Brasil tem condições – e necessidade – de exportar e atender à demanda internacional do arroz em casca em 2022, o que, por sua vez, poderia sustentar os preços nacionais ao longo do ano”, destacou a análise do Cepea publicada em 5 de janeiro.