Cientista da Universidade Federal de Goiás desenvolve filme biodegradável para conservação de frutas 

A mistura simples, barata e com ingredientes de fácil acesso ao pequeno produtor pode fazer a diferença na conservação de frutas, chegando a dobrar o tempo de conservação do produto 

O pesquisador destaca a escolha do maracujá como principal fruta para testar a película pela importância da cultura na região. Foto: CNA

De acordo com informações da divisão de Hortifruti do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Hortifruti/Cepea), em 2021, o Brasil exportou quase 1,19 milhão de quilos de frutas (considerando também cascas de frutos cítricos e de melões), volume recorde e 18% superior ao enviado em 2020. Em receita, foram arrecadados pouco mais de US$ 1,11 bilhão, avanço de 19% na mesma comparação. Para que haja sucesso nas vendas tanto internas quanto externas, entretanto, é preciso que as frutas cheguem ao destino final íntegras. 

 

O pesquisador Igor Vespucci do Programa de Pós-graduação em Agronegócio da Universidade Federal de Goiás criou em sua tese de doutorado um revestimento biodegradável que é aplicado diretamente nas frutas, com resultados eficazes quando se fala em conservação quanto no uso de sacos plásticos com vedação na proteção de alimentos. 

 

De acordo com o reporte da universidade, o estudo no programa da pós-graduação resultou na criação de um filme biodegradável que forma uma película em torno da fruta. Este filme é feito a partir da mistura de água, polvilho azedo, glicerina e canela, uma "receita" simples, barata e com ingredientes de fácil acesso ao pequeno produtor. Segundo as informações da pesquisa, o uso da nova tecnologia pode fazer a diferença na conservação de frutas, chegando a dobrar o tempo de conservação do produto.  

 

Durante o processo de pesquisa, foram testadas várias composições da mistura para a formação da película, até chegar a essa que mostrou melhores resultados na conservação. "Segundo o pesquisador, o produto em que foi aplicado o revestimento chegou a conservar a qualidade (de acordo com padrões de aceitação comercial) por 18 dias mantido em refrigeração, enquanto o produto sem o revestimento, mantido apenas em refrigeração, durou 9 dias" pontuou o reporte da instituição.  

 

Segundo a universidade, já existem outros produtos no mercado que são utilizados com o propósito de conservar as frutas, como, por exemplo, a cera de carnaúba, bastante utilizada na produção de maçãs. Entretanto, o pesquisador ressalta que a ideia da pesquisa era criar algo que, além de ser biodegradável, utilizasse produtos simples e baratos e pudesse ser reproduzido em qualquer lugar, facilitando a adesão de pequenos fruticultores.  

 

Para checar o desempenho do filme protetor na prática, o estudo chegou a ser aplicado em uma comunidade de produtores da Vila Aparecida, Distrito de Jaraguá, em Goiás. Conforme informações da universidade, houve aceitação de cerca de 10% dos produtores.  

 

“Segundo alguns pesquisadores consultados, esta é uma adesão significativa por parte dos pequenos produtores, apesar do número parecer modesto. Segundo outros estudos já realizados, existe uma grande dificuldade de aceitação de novas técnicas entre os pequenos produtores seja pela baixa capacitação, pela dificuldade de aceitar inovações dos métodos ou por haver problemas estruturantes”, explica o pesquisador que espera ainda poder aprimorar a técnica em pesquisas posteriores.  

 

O cientista testou o revestimento em frutas como o caqui, laranja, uva, maçã, entre outros,  mas especificamente para o estudo, escolheu o maracujá silvestre  da variedade BRS Pérola do Cerrado, por ser uma espécie que proporciona produção durante vários meses do ano, possibilidade de comercialização in natura ou processada, agregando valor e viabilidade para produção em áreas pequenas, com boa produtividade e rentabilidade.  

 

Segundo Vespucci, essa é uma espécie bastante utilizada no entorno do Distrito Federal em Goiás e de boa adaptabilidade para o Cerrado. 

 

“A importância da cadeia produtiva do maracujá, bem como também dos agricultores familiares que os produzem é real. Frequentemente se observa, no âmbito familiar rural, a perda quantitativa e qualitativa de maracujás ou agricultores encontrando dificuldades de aproveitar os excedentes para compor uma receita em sua renda mensal. O fato destes frutos muitas vezes se perderem, leva à necessidade de se pensar em uma saída viável, técnica e adaptável à realidade dos agricultores familiares, visando agregar valor ao produto final e a geração de renda extra”, destaca o pesquisador.  

 

Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de 2019 trazidos pela universidade apontam que o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, com cerca de 44 milhões de toneladas no ano de 2017, das quais 97% são consumidas internamente e 3% são destinadas ao exterior.  

 

"A área cultivada com plantas frutíferas no Brasil está distribuída em 960.123 ha com frutas tropicais, 861.682 ha com frutas subtropicais e 140.805 ha com espécies de clima temperado. A fruticultura está presente em todos os estados brasileiros e, como atividade econômica, envolve mais de seis milhões de pessoas que trabalham de forma direta e indireta no setor, sendo que o estado de Goiás (2018) obtém uma área de aproximadamente 384 hectares de maracujá, com uma produção de aproximadamente 6.100 toneladas de frutos de maracujazeiro", pontua a instituição.