Seca severa resulta em pior colheita do trigo na Síria em 2021; produção da cevada também recua no período 

Além do clima, produtor enfrenta alto de custo de produção, insegurança alimentar e uma eterna guerra civil  

Impasses gerados pela guerra civil aumentam ainda mais os problemas na produção de trigo na Síria: Produtor descapitalizado e alta nos custos de produção no mesmo momento - Foto: Embrapa

De acordo com relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o ano de 2021 entrou para a história do produtor de trigo da Síria como uma das piores safras dos últimos anos.  

 

O relatório mais recente aponta que a Síria teve seu volume mais baixo de produção do cereal dos últimos 50 anos. E os problemas que o setor vem observando em todos os países e que atingem praticamente todas as culturas justificam essa queda na produção: seca severa, elevada alta no custo de produção com compra de insumos e condições financeiras desfavoráveis aos produtores.  Ainda de acordo com a publicação é preciso uma ação imediata para apoiar de forma efetiva o produtor na próxima safra.

 

Em junho de 2021, o Ministério da Agricultura da Síria, através de Mohammed Hassan Qatana, já informava o mercado sobre a caótica condição climática na produção do país. Na ocasião, Mohammed destacou a gravidade da mudança climática, apontando que até mesmo as áreas de cultivo por meio de irrigação registravam queda de 50%.

 

É de conhecimento do mercado que a queda na produção acontece em um momento em que o país está devastado pela guerra, o que consequentemente acaba resultando em problemas com a fome em boa parte da Síria, enquanto mais de 90% da população vive em situação de pobreza e, de acordo com a FAO, mais de 12,4 milhões de pessoas estão rotuladas atualmente com insegurança alimentar.  

 

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) alerta para a gravidade do problema, já que a cevada junto com o trigo são dois alimentos considerados básicos para os sírios. A produção de trigo teve redução de 63% em relação ao período anterior, com 1,05 milhão de toneladas. Já a produção da cevada teve apenas 10% dos níveis da colheita quando se compara com o ano de 2020.  

 

Com relação às condições climáticas, o relatório da FAO apontou que além dos volumes abaixo da média esperada pela climatologia, as chuvas também aconteceram fora da janela ideal para garantir o bom desenvolvimento da safra. 

 

Ainda em março de 2021, a FAO já apontava para temperaturas acima do ideal durante o dia, mas com termômetros em níveis confortáveis durante a noite para garantir as boas condições das lavouras. Com essas condições, apenas metade do trigo foi colhido na safra em questão, enquanto em 2020 praticamente toda área de plantio chegou ao mercado para consumo. 

 

O relatório finaliza ainda chamando atenção, mais uma vez, para a guerra civil que trava o país desde 2011, trazendo muitos impactos para o setor agrícola e a falta de rentabilidade ao produtor. Um relatório divulgado no dia 16 de dezembro, também pela FAO, apontou que a Síria representa basicamente a maior parte de insegurança alimentar no Oriente Médio, com nível de fome nas duas últimas décadas subindo 91,1%.   

 

“Conflitos e secas estão agravando as condições de insegurança alimentar em várias partes do mundo, especialmente na África Oriental e Ocidental, de acordo com o último Relatório de Perspectivas de Safra e Situação Alimentar, também divulgado hoje. A FAO avalia que globalmente 44 países, incluindo 33 na África, nove na Ásia e dois na América Latina e Caribe, precisam de ajuda externa para alimentos”, destacou a FAO em publicação divulgada no começo de dezembro.

 

Ainda de acordo com o documento, os 44 países que precisam de ajuda externa para alimentos são: Afeganistão, Bangladesh, Burkina Faso, Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Congo, República Popular Democrática da Coreia, República Democrática do Congo, Djibouti, Eritreia, Eswatini, Etiópia, Guiné, Haiti, Iraque, Quênia, Líbano, Lesoto, Libéria, Líbia, Madagascar, Malawi, Mali, Mauritânia, Moçambique, Mianmar, Namíbia, Níger, Nigéria, Paquistão, Senegal, Serra Leoa, Somália, Sudão do Sul, Sudão, Árabe Síria República, Uganda, República Unida da Tanzânia, Venezuela, Iêmen, Zâmbia e Zimbábue.