Técnica do sulco-camalhão, que trouxe bons resultados para a soja no RS, pode ser utilizada também no cultivo do arroz
Segundo especialistas, a adoção desse sistema permite o cultivo do cereal em plantio direto sobre a resteva da soja ou milho
A técnica de plantio sulco-camalhão, quando aplicada nas terras baixas gaúchas, foi capaz de garantir uma ótima produtividade da soja na região, caracterizada por solos com deficiência em drenagem natural. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os resultados foram positivos com os estudos de viabilidade do uso do sistema sulco-camalhão, em que a cultura é plantada no trecho mais elevado (camalhão) e os sulcos laterais servem para escoamento da água de drenagem e irrigação e por onde passam os rodados das máquinas.
Outra cultura em que o Rio Grande do Sul desponta no Brasil, o arroz, também pode ser cultivada com a utilização da mesma técnica, que está sendo testada por meio do projeto “Tecnologias para o cultivo de arroz irrigado por sulco em terras baixas do Rio Grande do Sul”, sob a coordenação da pesquisadora da Embrapa Walkyria Scivittaro.
Este projeto está fortemente associado ao Projeto Sulco, que fundamenta-se no aproveitamento da crescente infraestrutura de sulcos e camalhões estabelecida para a produção de soja ou milho nas terras baixas do Rio Grande do Sul para o cultivo subsequente de arroz, caracterizando o sistema irrigado por sulco. A tecnologia de irrigação do arroz por sulco dispensa a construção de taipas, necessárias para a irrigação por inundação do solo, resultando em economia de combustível, tempo e, principalmente, mão de obra.
“A adoção desse sistema permite o cultivo de arroz em plantio direto sobre a resteva da soja ou milho, dispensando, portanto, a movimentação do solo para operações de preparo, o que é favorável sob os aspectos técnico, econômico e ambiental”, destaca a pesquisadora.
Gargalos
A maior parte das terras baixas do Rio Grande do Sul concentram parte relevante do cultivo de arroz irrigado em rotação com pastagens para pecuária extensiva, contabilizando cerca de 4,5 milhões de hectares. Essas áreas podem dar espaço a outras culturas, como a soja, que tem aumentado sua área de plantio nesse ambiente em torno de 64% em dez anos, segundo informações da Embrapa.
Uma das questões levantadas pela instituição é que a soja tem alcançado médias menores de produtividade, com muita variação devido às características dos solos de terras baixas do estado, que apresentam pouca profundidade e baixa capacidade de armazenamento de água. Conforme explica o reporte da entidade, o solo seca de maneira mais rápida durante o período sem chuvas, e quando há precipitações intensas, geralmente em período de safra, o solo apresenta problemas com a drenagem.
Desta forma, as perdas causadas pelo estresse hídrico são de cerca de 47% do potencial produtivo da soja na região, o que equivale a uma redução de até 3,0 toneladas por hectare, segundo estudos feitos pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Esta situação acaba sendo contraditória, conforme explicação no reporte da Embrapa, uma vez que, ao mesmo tempo em que o produtor precisa lidar com esse regime de excesso ou falta de água, a soja está plantada em uma área que dispõe de uma rede de drenos e canais de irrigação. A entidade descreve, inclusive, circunstâncias nas quais a soja está sofrendo por deficiência hídrica, enquanto a água passa ao lado em um canal de irrigação do arroz. Já em outros momentos, a soja está afogada em áreas alagadas, a poucos metros de um dreno, segundo o engenheiro agrícola Amilcar Silva Centeno, que é sócio-diretor da Centeno Agro Inteligência Ltda., uma das instituições parceiras do projeto.
Produtores da metade Sul do Rio Grande do Sul têm tentado encontrar solução para esse dilema, de acordo com Caetano. “O que eles têm usado é irrigação por aspersão, que tem alto custo e não resolve a questão da drenagem. Outros estão tentando o uso de irrigação e drenagem superficiais, com a abertura de sulcos e drenos ou mesmo pelo alagamento da área. Muitas têm sido as dificuldades e poucas têm sido as avaliações criteriosas de viabilidade econômica dessas alternativas”, afirma.
Ideias e soluções
Em busca de uma saída para o problema, foi feita uma cooperação técnica e financeira entre a Embrapa Clima Temperado (RS), a Massey Ferguson, a Trimble Brasil, a PipeBR, a KLR Implementos e a Centeno Agrointeligência para implementar o Projeto Sulco. A iniciativa tem duração de três anos, tendo começado em 2019 e foi em três ações junto aos parceiros.
A primeira ação abarca atividades já em execução, realizadas pela Embrapa devido à experiência tanto na área de sistematização do solo com declives variados, como na técnica de sulco-camalhão. No caso da segunda ação, estão inclusas atividades futuras, planejadas para as safras 2020/21 e 2021/22, com pesquisa e validação, a serem planejadas, instaladas e conduzidas em seis propriedades parceiras, com a colaboração técnica de pesquisadores. Já a terceira, diz respeito às ações de transferência da tecnologia desenvolvidas no trabalho.