Embrapa traz novas cultivares de batatas-doces coloridas e biofortificadas 

Cadeia produtiva carece de oferta de cultivares de polpa colorida com alto teor nutritivo; poucos materiais disponíveis aos agricultores têm limitação geográfica para o plantio

 

Pesquisadores da Embrapa Hortaliças, no Distrito Federal, desenvolveram três novas cultivares de batata-doce que prometem colocar mais cores e nutrientes na dieta dos brasileiros. Em vez da casca rosada e da polpa de cor creme das variedades tradicionalmente conhecidas, as novas cultivares destacam-se pelos tons de roxo e de laranja, que são indicativos do alto teor de compostos bioativos benéficos para a saúde como as antocianinas e o betacaroteno, respectivamente. 

 

De acordo com o reporte da instituição, duas das novas cultivares possuem a casca e a polpa roxas e diferenciam-se quanto à destinação: a batata-doce BRS Cotinga é recomendada para processamento industrial na forma de chips, farinha, xarope de amido e outros produtos derivados, e a batata-doce BRS Anembé para o mercado de mesa, em preparos culinários assados como purês, doces caseiros e pães.  

 

Já a batata-doce CIP BRS Nuti, desenvolvida em parceria com o Centro Internacional de la Papa (CIP) do Peru, tem casca e polpa alaranjadas e possui dupla aptidão, podendo atender ambas as finalidades (industrial e de mesa). 

 

A pesquisadora e coordenadora do programa de melhoramento genético de batata-doce da Embrapa, Larissa Vendrame, explica que atualmente há escassez na cadeia produtiva de cultivares de polpa colorida com alto teor nutritivo. Além disso, os poucos materiais disponíveis para os agricultores têm limitação geográfica para o plantio, além de baixa estabilidade de produção e pouca qualidade de raízes.  

 

“Por isso, as novas cultivares disponibilizadas pela pesquisa pública brasileira atendem a uma demanda do setor produtivo, entregando maiores índices de produtividade, melhor qualidade, resistência a doenças, estabilidade de produção e ampla adaptação às diferentes regiões de cultivo do País”, afirmou.

s novas cultivares destacam-se pelos tons de roxo e de laranja, que são indicativos do alto teor de compostos bioativos benéficos para a saúde - Foto: Embrapa/Carla Timm

Cores como indicativos de saudabilidade 

 

As novas cultivares desenvolvidas pela Embrapa atendem aos agricultores, mas também a uma demanda consumidora que tem optado por alimentos mais saudáveis e funcionais.  

 

A coloração arroxeada das batatas-doces BRS Cotinga e BRS Anembé deriva do alto teor de antocianinas, que são pigmentos naturais responsáveis pelos tons de azul, roxo e vermelho em alimentos como frutas, raízes e folhas. As antocianinas e demais compostos fenólicos presentes na batata-doce de polpa roxa são substâncias bioativas associadas à redução do risco de doenças degenerativas, uma vez que possuem ação antioxidante e anti-inflamatória no organismo, segundo a Embrapa. 

 

Já as cultivares BRS Cotinga e BRS Anembé apresentam, respectivamente, teores de 154 mg/100g e 184,8 mg/100g de antocianinas, que são valores semelhantes aos encontrados em frutas de cor arroxeada.  

 

“A produção de batata-doce de polpa roxa vem ganhando espaço, o que é uma vantagem para os agricultores – visto que essa cultura apresenta ampla adaptação em todo o território brasileiro e um elevado rendimento de raízes por área, bem como para os consumidores, pois a batata-doce roxa tem um preço mais acessível do que outras fontes importantes de antocianinas como uva, amora, açaí e mirtilo”, explica o agrônomo Raphael Melo, pesquisador da área de Fitotecnia da Embrapa Hortaliças. 

 

O betacaroteno, presente na batata-doce CIP BRS Nuti é o pigmento natural associado às cores laranja e amarela nos alimentos, que funciona como um precursor de vitamina A. Isso quer dizer que a substância se transforma em vitamina A no organismo, elemento muito importante para a saúde, já que previne distúrbios oculares e doenças da pele, auxilia no crescimento e no desenvolvimento e fortalece a defesa do corpo contra infecções.  

 

Diferencial na produtividade 

 

Além das questões relacionadas à saúde e nutrição, as novas cultivares também têm a estabilidade de produção e a ampla adaptação a diferentes regiões de cultivo como características que garantem mais competitividade.  

 

Segundo a Embrapa, as cultivares apresentam comportamento regular e alcançam seu potencial produtivo mesmo em condições adversas de produção. Essa característica é comprovada pelos altos índices de produtividade obtidos nas áreas validadas que vão de estados do Nordeste até do Centro-Sul do país. 

 

“Houve casos de as cultivares produzirem muito bem mesmo após cinco geadas, em áreas de validação do interior de São Paulo, ou sendo plantadas sem qualquer irrigação, mas durante a época de chuva, em Uruana (GO)”, exemplifica a pesquisadora Larissa Vendrame. 

 

No geral, a produtividade média das três cultivares superou 40 toneladas por hectare, valor que é o triplo da produtividade média nacional, conforme informa o reporte da instituição. Os testes de validação indicaram as seguintes produtividades médias: batata-doce BRS Nuti, 40 t/ha; batata-doce BRS Anembé, 42 t/ha; e batata-doce BRS Cotinga, 45 t/ha.